Muito boa tarde Meninas de Odivelas, Senhores e Senhoras,
O meu nome é Isabel Pratt e fui aluna deste Instituto de 1970 a 1975.
Antes de mais, queria agradecer aos corpos diretivos deste Instituto a oportunidade que me deram de partilhar com todas vós as «marcas» que este estabelecimento deixou em mim e me acompanharam ao longo da vida.
Tive um percurso académico dentro e fora do Instituto e conclui o Curso Superior de Secretariado do ISLA em 1980. Iniciei a minha vida profissional nos quadros do Aeroporto de Lisboa e seguidamente nos quadros da EDP.
Em 1985 estava a ingressar nos quadros do Conselho da União Europeia em Bruxelas. Um ano antes da adesão de Portugal à então chamada CEE, para preparar o Ato de Adesão.
Com a assinatura do Tratado de Lisboa em 2011, o departamento em que me encontrava no Conselho foi transferido para o SEAE. Este novo Serviço Europeu é o equivalente ao Ministério dos Negócios Estrangeiros das estruturas nacionais.
Apesar de estar a viver há mais tempo fora do que dentro de Portugal, os anos passados neste Instituto, foram, sem dúvida, os mais marcantes de toda a minha existência.
Apesar de, na altura, o Instituto me parecer como uma fortaleza, cheia de regras completamente ridículas e fora de moda, tenho de confessar que foram as bases de tudo aquilo que sou hoje.
Para além de ter tido excelentes professoras, os valores de tradição, ordem, rigor e respeito, foram os que mais me marcaram ao longo da minha vida profissional e pessoal.
Podia dar bastantes exemplos a nível profissional mas escolho talvez o mais representativo: Quando foi criado, no seio da estrutura do Conselho da U. E. o embrião do que iria vir a ser mais tarde o Serviço Militar da União Europeia - SMUE – como já fazia parte dessa Direção-Geral, fui imediatamente absorvida por esta unidade. Não sei se foram as minhas qualidades profissionais ou o facto de ter frequentado o Instituto que desenvolveram a minha discrição e amabilidade, mas a verdade é que me senti desde logo à vontade nesta nova unidade. Mais tarde com a transferência do SMUE e dos serviços conexos do Conselho para o SEAE, fui desde logo convidada para chefiar o Serviço encarregue da gestão e distribuição da informação classificada. Nestas funções tive a oportunidade de colaborar, não só com as outras instituições da UE como o Conselho, a Comissão e o Parlamento, mas também, com as 140 delegações da UE espalhadas pelo mundo, assim como com diversas organizações internacionais como a ONU, a NATO e a EUROPOL entre outras. Estou também diariamente em contacto com as variadas missões civis e operações militares da UE no mundo.
A nível pessoal e familiar, o Instituto deixou também bastantes marcas.
Posso começar por dizer que, estou casada há 33 anos com um ex-aluno do Colégio Militar; e isto já diz muita coisa, mas não posso deixar de sublinhar que foram os nossos filhos que mais sentiram diretamente, as marcas do Instituto e do Colégio Militar.
Apesar de terem nascido em Bruxelas e terem sido criados num ambiente multicultural, foram os hábitos e a cultura portuguesa que imperaram. Desde pequenos que sempre se queixaram de muita rigidez da nossa parte, quando insistíamos para que tivessem postura à mesa e não se esquecessem de dobrar o guardanapo no fim da refeição. Mas quando eles protestavam mesmo, era quando insistíamos para que eles descascassem a fruta de faca e garfo, sobretudo a banana.
Felizmente, o ambiente multicultural em que cresceram e estudaram, ajudaram a aceitar os nossos valores e os nossos princípios, que os aproximavam mais dos amiguinhos ingleses e austríacos do que dos espanhóis ou gregos. Nós também sempre tentámos brincar com estas diferenças culturais e tirar o maior partido delas.
Estou plenamente convencida de que no mundo virtual em que eles vivem, estes valores e estes princípios, representam uma mais-valia para o futuro.
Isto foi o que o Instituto me ensinou, agora, o que o Instituto não me ensinou, mas entranhou em mim, foi muito mais profundo e só pode ser compreendido por outras alunas deste Instituto. O que senti quando estive rodeada de paredes carregadas de história, dos claustros, das escadarias, foi como se estivesse mergulhada num museu cheio de histórias para contar. Os meus colegas, colaboradores e amigos, dizem que tenho referências diferentes e que sentem que tudo em mim parece vir de longe.
De facto, sem me perceber, reproduzo os hábitos e o ambiente do Instituto em tudo.
Começo por ser extremamente rigorosa a começar com a minha apresentação tanto em casa como no escritório. Em casa tenho uma gaveta cheia de luvas de várias cores e uma coleção de chapéus impressionante que uso regularmente. A nossa mulher-a-dias já não resmunga e já se habituou à minha rigidez que passa pelo fazer a cama, passar a ferro ou ainda deixar as toalhas da casa de banho alinhadas. Reconheço ser um pouco maníaca na arrumação dos armários e sobretudo quando tenho de pôr a mesa para receber amigos ou convidados. Estou quase com a régua para alinhar os copos e os talheres com os pratos, sem esquecer as cadeiras.
Quando estávamos à procura da nossa casa de férias, acabámos por escolher a casa por causa da tijoleira do chão, porque era parecida com a do Instituto e a do Colégio Militar.
Quando escolhemos a nossa casa de Bruxelas, foi pior ainda, tivemos de encontrar a alma do Instituto e do Colégio Militar. Foi difícil mas lá encontrámos uma casa centenária que nos agradou e que liberta uma atmosfera equivalente. Entrar em nossa casa é quase como entrar num gabinete de curiosidades em que tudo o que nos rodeia está impregnado de história. Esta história, cabe a nós transmiti-la às gerações futuras. É neste quadro, que tentamos dar a conhecer aos nossos amigos e convidados, os verdadeiros valores portugueses através da história, da música e da gastronomia portuguesas. Sentimos, no fundo, a mesma obrigação dos embaixadores, na divulgação dos verdadeiros valores nacionais no estrangeiro.
Não posso finalizar a minha intervenção, sem deixar de lembrar que hoje é também um dia carregado de história. Não porque vieram algumas ex-alunas ao Instituto falar do seu percurso profissional e pessoal, não, é porque hoje, dia 31 de outubro, é o último dia oficial do nosso compatriota Durão Barroso, à cabeça da Comissão Europeia. Tenho a certeza de que, tanto ele, como eu, na vossa idade, estávamos longe de pensar nas oportunidades que nos iriam surgir e que abraçámos para representar Portugal e os valores portugueses na Europa e no Mundo.
Para todas vós, meninas de Odivelas, a minha última palavra será, explorem, tentem experiências novas, explorem o desconhecido e BOA SORTE!
Muito obrigada.