O “derby” teve de tudo. Pedia-se espectáculo e talvez a qualidade futebolística não tenha atingido níveis muito elevados, mas tudo o resto correspondeu às expectativas. Inclusive o resultado, que, como reza a história dos confrontos entre os rivais, é sempre imprevisível. E assim foi até ao último minuto do jogo, quando Sá Pinto fechou a conta com o “penalty” que deu o golpe de misericórdia num Benfica que ainda alimentava a esperança de chegar ao empate.
Diferenças
Estádio cheio, atmosfera arrepiante e os jornalistas a acertarem na “mouche”. De um lado e de outro, as equipas que subiam ao palco eram aquelas que tinham sido dado como prováveis. Aí começou o Sporting a ganhar o “derby”. Por duas razões: 1ª, Fernando Santos foi fiel ao seu sistema, jogando sem medos com Liedson e Silva; 2ª, Camacho não resistiu à tentação de colocar toda a artilharia em campo, afectando o equilíbrio da equipa. E isto porquê? Porque o Benfica foi sempre uma equipa inclinada para a esquerda, onde Zahovic quase se “fundia” com Simão, Tiago jogava mais aberto à direita para fazer com que Sokota flectisse para o eixo, onde se juntaria a Nuno Gomes e assim formarem a temível dupla de avançados. Deste “desenho” sobrava um Fernando Aguiar com muito terreno pela frente mas sem qualquer capacidade para ser o estratega da equipa.
Com as peças no seu lugar e uma dinâmica ofensiva apreciável (quando na posse da bola, Pedro Barbosa abria à esquerda, alargando a frente de ataque, enquanto João Pinto jogava nas costas do ponta-de-lança), o Sporting marcou aí diferenças importantes que naturalmente ganharam expressão fundamental quando se viu em vantagem no marcador.
A força da razão
A polémica começou cedo. O “penalty” assinalado por derrube de Moreira a Silva (do alto da tribuna, o “teatro” de Silva levou-nos à certa) “feriu” as emoções e inevitavelmente (ainda que na madrugada do jogo) condicionou o desenvolvimento do “derby”.
O Benfica abanou e o Sporting ficou mais calmo. Óptimo para os leões, que já marcavam pontos em termos tácticos e ganhavam um estímulo vital para resistir à reacção adversária.
O Benfica reagiu, é verdade. Cresceu, mas foi muito coração. A razão estava decididamente do lado do Sporting, que controlou o adversário à distância e no momento certo teve a garantia que tinha um guarda-redes à altura do grande desafio: a estirada fantástica de Ricardo para defender o livre de Simão ( 23’) foi mais um suplemento vitamínico para as convicções leoninas.
O jogo estava aberto, sobretudo muito aberto no meio-campo do Benfica, convidativo, portanto, para um leão que nunca perdeu de vista a baliza de Moreira. O volume ofensivo encarnado era grande, mas carecia de lucidez. Livres e cantos ajudavam a criar a ilusão do golo, mas a realidade foi mais cruel para a águia. Hélder facilitou, Pedro Barbosa (que grande jogo!) não desistiu e da linha de fundo saiu um centro para o golpe mortal de Silva.
Sangue-frio
O turbilhão de emoções não ficava por aí. O Benfica atirava-se com muita vontade mas sem ordem para a área do Sporting. Ricardo, por duas vezes, revela-se decisivo. E, de repente, Rochemback é expulso. O “carrinho” (que não conseguiu travar) atropelou Tiago e o amarelo ditou a expulsão. Poderia ter sido arrasador para o Sporting. Não foi porque teve impressionante sangue-frio que até deu para fechar a 1ª parte com a hipótese do 3-0 na cabeça de Liedson.
Mais ordem
Só ao intervalo Camacho emendou a mão. Com Petit e João Pereira, houve mais ordem e equilíbrio na equipa. O jogo já não corria a 100 à hora e Fernando Santos continuava firme na convicção de que valia a pena manter o esquema com dois homens no ataque.
O facto de jogar com mais um e ser “mais equipa” valeu ao Benfica o primeiro golo. O Sporting resistia mas podia começar a tremer. Entra Sá Pinto e o leão reagrupa-se; sai Miguel (expulso) e as forças ficam equilibradas.
Se a entrada de Petit tinha sido importante, a de Roger nada acrescentou. Voltou o Sporting a ganhar com Lourenço. O leão não perdia a vontade de marcar (Liedson, por duas vezes, e Lourenço estiveram perto do golo), enquanto o Benfica apenas voltou a ter uma boa chance (remate de Simão). Os sinais do banco e o jogo no relvado acendiam claramente a luz verde do “derby” para o leão. E com “penalty” se abriu, com “penalty” se fechou. Desta vez sem a mácula do erro. O Sporting assim mereceu.
Árbitro
PEDRO PROENÇA (1). O jogo já de si era complicado e Pedro Proença não resistiu à pressão. Só quando o jogo acalmou é que o juiz lisboeta conseguiu equilibrar a sua actuação, mas até lá já tinha acumulado muitos erros, a começar pelo “penalty” que deu origem ao 0-1. Foi no teatro de Silva como acabou por ir noutras “cenas”. Sem mão no jogo, usou o cartão como arma. Acertou no “penalty” de Ricardo Rocha sobre Liedson.
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