O Benfica voltou a ganhar a Taça de Portugal ao fim de oito anos, deixando para trás a imagem da fatídica final do "very light", e pôs fim a vários jejuns. Desde logo o de títulos, e depois o de vitórias sobre o FC Porto, que ainda não tinham acontecido com Camacho à frente da equipa.
O técnico espanhol deixa marca naquele que foi, porventura, o último e decisivo jogo à frente da equipa da Luz e esta dilatou a vantagem para os portistas no confronto directo em finais de Taça: a diferença está agora em sete vitórias (8-1). E o campeão nacional FC Porto não parece ter feito verdadeiramente tudo para contrariar esta ampla goleada estatística. Ou, pelo menos, ontem não era dia para tal projecto.
José Mourinho tinha o problema de manter a equipa motivada, mas não foi por aí que perdeu a final. Tanto ele como Camacho não tiveram qualquer dúvida em relação ao sistema e à equipa – e muito menos ele, que decidiu manter o guarda-redes suplente, mas habitual titular na Taça – mas o facto de Sokota e Nuno Gomes estarem ali os dois juntos, em campo, incomodou muito. Tanto assim que o campeão nacional, que controla, domina e manda nos jogos, encostou tudo na defesa, desperdiçando Costinha na marcação dividida com Ricardo Carvalho aos dois pontas-de-lança do Benfica. E a jogar assim, meio a medo, o FC Porto passou 19 minutos de grande sufoco, com ataques consecutivos do adversário, que poderiam ter resultado em golo.
Reacção
Este pico de rendimento desaproveitado pelo Benfica teve a consequente e natural quebra, que o FC Porto aproveitou para reequilibrar o jogo. Com Deco a fazer jogar – fez mais uma daquelas partidas de mestre – depois de ter pisado zonas mais adiantadas, em busca da intranquilização da já de si intranquila defesa do Benfica, o campeão pegou na final.
Depois de um primeiro sinal dado por Deco, com um remate ao poste, o golo da vantagem apareceu sobre o intervalo, mostrando que mesmo a este nível se abordam os problemas com muita ligeireza, como foi o caso de Moreira ter dispensado a barreira, permitindo um remate violento de Deco, que não defendeu – Derlei estava lá e marcou.
Reajustes
Para quem queria ganhar, o Benfica reentrou na final praticamente a dormir, tanto que foi nessa fase do jogo que Petit viu o cartão amarelo. O meio-campo não antecipava os problemas, remediava-os. E Camacho tomou medidas. Desfez o 4x4x2 e apostou num 4x3x3 musculado que já experimentara nos quartos-de-final, frente ao Nacional, sem grande sucesso. Miguel recuou para lateral direito (saiu Armando), Fernando Aguiar juntou-se a Petit e Tiago no meio-campo e Geovanni foi colocar-se no flanco direito, bem adiantado (Sokota foi o sacrificado).
O Benfica ganhou em poder de choque e velocidade, mas não em qualidade. Aconteceu-lhe ter um lateral-esquerdo que inventou um golo. Isto dois minutos depois de Derlei ter rematado ao poste, gorando-se assim o 0-2 que deixaria a equipa da Luz a léguas da decisão. Pode agora dizer-se que a chave esteve aí, um que falhou, o outro que marcou e empatou. Mas não só. A chave esteve também na expulsão de Jorge Costa, um defesa que fez poucas faltas, mas as que fez não deixaram dúvidas ao árbitro.
Mourinho, aparentemente satisfeito com o que estava a ver até aí – um adversário esforçado, mas limitado pela distância a que todos jogavam de Nuno Gomes – foi obrigado a mexer na equipa: tirou Pedro Mendes e lançou o "treinador" Pedro Emanuel. Mesmo com dez, limitado a três homens no meio-campo, viveu dos rendimentos conseguidos pelos "ninjas" Derlei e Maciel, muito vivos, velozes e, sobretudo, perigosos.
Golpe
E Camacho mudou ainda mais. Ficou-se com o 4x3x3, mas agora com o Zahovic-que-só-tem-gás-para-30-minutos. A final foi para prolongamento (o sétimo da história da prova), o Benfica reaproximou-se da área do FC Porto, muito por força das iniciativas do internacional esloveno – mais capacitado para resolver problemas em espaços apertados – e aconteceu o golo de Simão, com o FC Porto vítima dos seus próprios erros de avaliação do ataque adversário.
O Benfica vai, descansado, para férias; o FC Porto tem um bom problema pela frente.
Árbitro
Lucílio Baptista (3). O português que vai estar no Euro'2004 fez uma arbitragem à sua imagem: táctica. Sem compromissos com o risco de deixar jogar, apitou a quase tudo o que mexeu. Não se comprometeu. Disciplinarmente, actuou com rigor, embora lhe tenham escapado algumas habilidades de jogadores mais hábeis como Fernando Aguiar e Maniche, mestres na arte de bater.
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