O Benfica conseguiu encurtar a distância que o separa do Sporting, mercê de um triunfo difícil em Aveiro, perante um Beira-Mar que pareceu rivalizar com a equipa de Camacho no que respeita à poupança de jogadores: só depois da entrada de Wijnhard, ao intervalo, o Benfica passou a sentir verdadeiras dificuldades, mas foi, curiosamente, neste período que resolveu o jogo, precisamente através do "joker" Nuno Gomes, que estava a ser guardado para o importantíssimo desafio de Milão, na quinta-feira.
Mesmo a gestão da vantagem foi complicada, sobretudo porque o árbitro Pedro Proença expulsou João Pereira pouco depois do golo. Se já estava difícil segurar o ascendente auri-negro com onze contra onze, o último quarto de hora foi disputado com "suspense", se bem que os aveirenses tenham apostado sempre mais num eventual "penalty" do que na criação de perigo efectivo nas imediações de Moreira.
Jogo aberto
A segunda parte foi bastante mais interessante do que a primeira. A chamada de Manuel Fernandes (para Tiago também descansar, ele que estava em "autopoupança") trouxe uma dinâmica completamente diferente ao jogo. No seu estilo voluntarista, e mais "box-to-box" do que o próprio Tiago, o jovem benfiquista alterou o "modus operandi" do Benfica e, por consequência, o do Beira-Mar.
Depois de, no primeiro quarto de hora, ter tentado chegar à zona perigosa com a bola à flor da relva - aproveitando a dificuldade de Toni para travar as investidas de Simão -, o Benfica foi obrigado a variar um pouco o jogo, pois a deslocação de Kingsley para a ala direita deixou Simão mais isolado e com poucas hipóteses de receber a bola jogável.
A "solução" encontrada para continuar a atacar foi recorrer sistematicamente a lançamentos compridos, afinal a receita que o Beira-Mar adoptou desde os primeiros instantes. O jogo tornou-se feio com esta demissão de participação construtiva das linhas intermediárias de ambas as equipas. O número de faltas também de ressentiu, pois a necessidade se abortar as escapadas dos mais rápidos ditava lei.
Com as substituições ao intervalo - troca por troca - , as tácticas não se alteraram. Mas a influência dos substitutos fez-se sentir, pois Wijnhard também foi responsável por uma acentuada melhoria do Beira-Mar, agora capaz de trocar a bola em zonas mais avançadas do terreno. O holandês, sem ter feito um encontro deslumbrante, teve uma influência positiva na equipa, a ponto de questionarmos por que razão não entrou de início. Talvez o Benfica tivesse sido obrigado a correr atrás do prejuízo.
Salvador
A questão só se resoveu com entrada de Nuno Gomes. Numa fase em que o Beira-Mar começava a controlar as operações no miolo, Camacho fez a aposta certa, prescindindo de Zahovic, que estava a demonstrar pouca capacidade para se libertar da marcação e nenhuma para ganhar posição de remate. Com Nuno Gomes, o Benfica passou a ter as duas coisas, pois o ponta-de-lança jogou algo recuado, continuando Sokota a ser dado ao "sacrifício".
O próprio Sokota fez o pré-aviso de tento, sete minutos antes do golo solitário, cabeceando a rasar a trave um belo cruzamento de Simão. Foi a melhor de uma série de oportunidades (nem todas muito evidentes, mas sempre na sequência de jogadas bem urdidas) que se verificaram na segunda parte, junto de ambas as balizas. Ao contrário do que aconteceu na primeira metade, quando as oportunidades foram mais escassas mas também mais próximas de resultarem em golo.
Resposta
Entusiasmado pela boa resposta da sua equipa após o intervalo, António Sousa não procedeu a qualquer alteração... até ao golo. Depois, logo depois, trocou Marcelinho e Toni (porquê tanto tempo para substituir o lateral direito, que estava em "dia não"?) por Levato e Ribeiro. O Beira-Mar voltou a subir de produção, mas há que "descontar" dois factores: a expulsão de João Pereira, de imediato, e a inevitável tendência para gerir a vantagem, em vésperas de deslocação a Milão.
Em suma, o Benfica cumpriu. Vingou a derrota da primeira volta, perante um adversário que não foi um cesto de ovos muito moles, mas também não chegou a ser o dos ovos duros de que falava Fernando Santos, o técnico do rival leonino, agora a uma distância mais... alcançável. Camacho teve o mérito de actuar na hora certa, percebendo que não podia levar a poupança ao extremo de hipotecar um triunfo duplamente moralizador: aproximou-se do Sporting e pode viajar sorridente para Itália.
Árbitro
PEDRO PROENÇA (2). Pequenos erros seriam desculpáveis, se não fossem (alguns) tão evidentes. No entanto, o lance mais polémico tem a ver com a expulsão de João Pereira. Ainda que a lei proteja o árbitro, há muito que não se vê um cartão vermelho directo tão severo, num lance onde não havia perigo iminente. Tudo somado, só pode dar nota negativa.
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