O FC Porto passou terça-feira aos quartos-de-final da Taça de Portugal, vencendo o Benfica nas Antas, no jogo de desempate, por 4-0. Uma goleada, é certo, mas escassa para a diferença que se viu em campo, porque a tropa guerrilheira de Fernando Santos, talvez na melhor exibição da época - talvez apenas porque a oposição foi muito fraca... -, destroçou por completo um Benfica que nunca entrou no jogo.
Neste terceiro "clássico" em menos de uma semana, aconteceu a vitória do FC Porto, depois de um empate e uma derrota na Luz. Aparentemente, as duas equipas são muito iguais, mas a goleada de terça-feira revelou, desde logo, a diferença na qualidade entre os dois plantéis. Se na quarta-feira passada a segunda equipa do FC Porto podia ter vencido (empatou 1-1) na Luz, desta vez a diferença foi quase entre seniores e juniores.
Toni, com a feliz vitória de domingo sobre o FC Porto na I Liga, passou a acreditar que o título nacional ainda é possível. E assim deixou Van Hooijdonk e Roger no banco, um banco que valia aí três milhões de contos e mais uns trocos (Moreira, Ricardo Esteves e Geraldo). Mais: Marchena nem se equipou por causa dos quatro cartões amarelos, André também ficou de fora, tal como Dudic e Escalona. E se se vir a diferença na média de idades entre as duas equipas, explica-se muito do que se passou ontem, tendo sempre em conta que o resultado, para o Benfica, ainda foi quase melhor que a exibição, se isso é possível depois de um 4-0.
O Benfica apresentou um 4-2-3-1 em que Meira voltou a ser central ao lado de Ronaldo, com Rojas à direita e Diogo Luís à esquerda. Calado e Ednilson eram dois “trincos”, depois Miguel, Maniche e Sabry deviam construir jogo para João Tomás.
Todos eles estiveram lá, mas poucos se salvaram de um naufrágio absoluto - e naufrágio é mesmo um termo bem aplicado, dada a intensíssima chuva, batida pelo vento, que caiu ontem no Porto. Acresce que, com aquele dilúvio, talvez tivesse sido preferível arriscar Roger de início, quando a bola ainda rolava, mesmo que ele não pudesse jogar mais de uma parte do encontro. É que assim, quando entrou, o brasileiro só pôde fazer um pequeno treino - e ver um cartão amarelo. E, com aquela equipa, Toni arriscou uma reedição de Vigo. E se as derrotas nunca fazem bem, as goleadas fazem muito pior.
Meio-campo de luxo
Fernando Santos manteve-se fiel ao seu 4-3-3 mas conseguiu finalmente juntar a qualidade de Paredes, Deco e Alenitchev. Quase se podia dizer, forçando a nota, que estes três chegavam para os onze do Benfica, de tal forma ocuparam o campo de uma ponta à outra, de tal forma nunca deixaram passar as tímidas tentativas de ataque dos adversários e depois lançavam sempre os homens da frente que, aliás, pela sua movimentação, criavam duas ou três soluções diferentes (e perigosas) para o passe. E não por acaso Paredes marcou um golo, Alenitchev dois e Deco (e os outros dois) andou lá perto um bom par de vezes.
Com este meio-campo de enorme qualidade técnica e a jogar a correr como desta vez aconteceu, dificilmente alguém venceria terça-feira o FC Porto. E muito menos um Benfica que nunca se entendeu com aquele ritmo endiabrado que o adversário pôs no chão desde o primeiro minuto da partida.
O FC Porto ganhou naturalmente todos os duelos individuais. Rojas andou sempre atrás de Folha, Diogo Luís ainda deu luta a Capucho mas não conseguia parar depois Deco e Nélson, Pena fez um pouco menos, mas o segundo golo, a desviar um cruzamento de Capucho, é de ponta-de-lança. Aconteceu aos 28 m, já depois de Alenitchev ter feito o primeiro golo, logo aos 10 m, numa recarga de pé esquerdo a um seu primeiro remate que Enke defendera sem poder agarrar.
O terceiro golo aconteceu aos 34 m, numa cabeçada de Paredes na pequena área após um canto da esquerda. A coisa estava resolvida.
Benfica com dez
Ainda antes do fim da primeira parte, o Benfica ficou a jogar com dez homens apenas. O jovem Diogo Luís viu dois amarelos em quatro minutos e deixou a equipa ainda mais perdida.
Ao intervalo, Toni trocou Sabry (a fazer que jogava) por Ricardo Esteves, tentando reequilibrar a defesa - Esteves foi para a direita, Rojas passou para o outro lado.
Se em toda a primeira parte o Benfica só teve um remate perigoso (Maniche, aos 9 m, depois de um canto), na segunda a coisa não foi diferente. Aos 51 m, João Tomás foi bem lançado na direita por Miguel, ganhou posição e rematou, mas Paredes interpôs-se e a bola foi para fora. Pedro Espinha não fez, em todo o jogo, uma defesa que fosse uma defesa.
Ainda entrou Roger, mas Fernando Santos respondeu com Peixe e Pavlin. E o 4-0 surgira já antes (67 m) numa jogada ridícula: Jorge Costa, qual elefante em loja de porcelanas, ganhou uma bola na área depois de um canto, estava de costas, conseguiu virar-se, passou dois ou três benfiquistas, vejam bem, e já quase na linha de fundo foi tocado pelo inevitável Rojas. Alenitchev marcou com competência.
A segunda parte do FC Porto foi menos exuberante, teve só um golo, mas talvez não menos oportunidades. E o Benfica beneficiou ainda de uma espécie de contagem de protecção de Lucílio Baptista, que podia ter dado “penalty” numa jogada entre Pena e Ronaldo já perto do fim e deixou ainda por mostrar mais alguns cartões aos lisboetas. Não mostrou cartão a Rojas na grande penalidade (decisão aceitável, porque não houve violência nem a jogada era de golo, ainda que fosse perigosa), Calado safou-se com um amarelo depois de dois pontapés despropositados em Deco.
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