A POEIRA ainda está longe de assentar. Depois da explosão da bomba JVP, o universo benfiquista continua em estado de choque. O capitão, o “menino de ouro”, recebeu guia de marcha e já não consta do rol de jogadores do Benfica. Por vontade do treinador, devidamente escudado na administração da SAD.
Jupp Heynckes não quis João Pinto, indiscutivelmente o melhor jogador do Benfica nas últimas épocas. Porquê? Eventualmente por não caber no modelo táctico que o alemão prefere para a sua equipa. Mas, perante o enorme fosso de qualidade existente entre JVP e a generalidade do plantel, a questão que se coloca é simples: não seria preferível adequar um modelo táctico que rendibilizasse João Pinto? Ou seja, colocando um avançado de raiz que libertasse o ex-capitão e lhe permitisse colocar o seu virtuosismo ao serviço da equipa? Nuno Gomes não era o parceiro ideal para JVP (como o não foram Cannigia ou Donizete)? Mas provou-se que podia coabitar com JVP, incluindo, simultaneamente, um jogador como Brian Deane. Estes considerandos de ordem táctica mostram que Jupp Heynckes preferiu assumir os riscos inerentes da dispensa de João Pinto a formatar a equipa à sua medida. E que riscos são esses?

HEYNCKES, independentemente dos reforços que indicar ao Benfica e por mais que venha dizer que o clube dispõe de um plantel mais coerente, estará submetido à ditadura impiedosa dos resultados imediatos. E digo mais. A sua situação merecerá menos tolerância por parte dos sócios e adeptos do que a que foi oferecida a Artur Jorge (resistiu três jornadas) e Manuel José (saiu após a quarta jornada). Utilizando a terminologia da Fórmula 1, Heynckes precisa de imitar o compatriota Schumacher e conseguir um “arranque canhão”. Caso contrário, dificilmente chegará ao fim da corrida...

COM a opção clara feita pela administração da SAD do Benfica de se submeter à vontade do treinador em matéria de constituição do plantel, cai a tese da “espinha dorsal da selecção portuguesa” como base da equipa. A Fernando Couto foi torcido o nariz, Paulo Bento foi recusado liminarmente e a João Vieira Pinto foi mostrada a porta da rua. É uma nova filosofia, que parte da desvalorização dos jogadores portugueses (a revelação feita por JVP de que Heynckes apenas admitiria Figo como reforço lusitano é por si só suficientemente significativa) e busca, em outros mercados, a solução para os problemas. Será, contudo, procurando craques no inflacionado mercado espanhol que o Benfica formará a tal equipa competitiva? Ao mesmo tempo que os encarnados lutam para conseguir o concurso do internacional sub-21 Marchena, do Sevilha, por uma verba de cerca de um milhão de contos, o Villareal, equipa modestíssima, recém- promovida à I Liga de Espanha, contratou o avançado Victor, ao Valladolid, por 1,8 milhões de contos? Será aqui que o Benfica deve apostar?

A SAD do Benfica decidiu deixar-se guiar pela vontade do treinador. Mas, mesmo respeitando a opção de Jupp Heynckes quanto à dispensa de João Pinto, não parece ter sido escolhido o melhor “timing”. O Benfica nunca teria nada a perder em deixar que JVP jogasse o Euro-2000, promovendo, seguidamente, a sua saída do clube. Se o Campeonato da Europa corresse bem ao ex-capitão, o clube da Luz poderia encaixar uma verba interessante com a sua venda (mesmo atendendo ao alto salário auferido); caso contrário, nunca faria pior negócio do que aquele que acabou por realizar.

APESAR da visível contestação de algumas centenas de sócios e do desencanto actual de muitos mais, Vale e Azevedo continua a garantir que o Benfica terá, em 2000/2001, um plantel forte, capaz de vencer o Campeonato. Para sustentar esta tese, precisa, indubitavelmente, de argumentos diferentes dos que até agora apresentou. Ou seja, os sócios precisam, cada vez mais, de ver para crer na equipa ganhadora proveniente do investimentos de cinco ou seis milhões de contos prometido na fase imediatamente a seguir ao anúncio da SAD. Resguardado, para já, num silêncio estratégico, o presidente do Benfica deve ter consciência da fase delicada que o seu consulado atravessa. Vale e Azevedo sempre fez da popularidade junto das bases o seu maior trunfo. E, nunca antes, como hoje, o seu prestígio junto dos associados andou tão por baixo.

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