O BENFICA de José Mourinho voltou a ganhar fora da Luz e repetiu o hábito de ir buscar ao banco de reservas a solução para os seus sérios problemas de funcionamento.

Na ausência forçada de João Tomás, foi o egípcio Sabry a saltar do “banco” com as botas bem atadas para resolver o que parecia insolúvel, apesar de dar a ideia de ainda não ter feito completamente as pazes com a equipa.

Foi a terceira vez consecutiva que o Campomaiorense perdeu com o Benfica em inferioridade numérica. Depois da expulsão de José Soares logo no começo da partida, em Abril, na última visita encarnada (4-2) e apenas um mês depois da de Poejo, na Luz (2-0), domingo também foi decisiva a atitude de Lucílio Baptista de expulsar Cao, deixando Meira em campo.

A discriminação pareceu ajustada à gravidade das faltas, embora deixe sempre a ideia de proteger o mais forte, uma vez que a diferença do comportamento dos dois jogadores no incidente foi a agressão do médio local, um jogador “marcado” pelos juízes e que há pouco mais de um ano fora expulso pelo mesmo árbitro frente ao Boavista.

Lucílio Baptista, que dirigiu a final da Taça de Portugal perdida há dois anos pelo Campomaiorense com o Beira Mar, teve um jogo muito fácil pela frente, assinalando pouco mais de metade das faltas do último Sporting-Boavista e é tempo de dirigentes, técnicos e jogadores assumirem as suas responsabilidades e deixarem de branquear incidentes estúpidos como esta expulsão.

Benfica pior contra 10

Podendo jogar toda a segunda parte com mais um jogador, o Benfica acabou por exibir-se pior do que antes do intervalo - repetindo o que já se passara em Paços de Ferreira.

Por causa da expulsão, o novo técnico dos alentejanos acautelou o sistema, retirando o seu avançado, mas mantendo o equilíbrio de forças na intermediária, o que bastou para uma vez mais deixar a nu quanto esta equipa do Benfica sente a falta de um organizador de jogo - o tal Roger que numa primeira instância da governação Vilarinho parecia confirmar que efectivamente o novo presidente “percebia de futebol”.

O golo e a vitória surgiram, a equipa encarnada pode encarar o “derby” de domingo com o moral elevado, mas é improvável que sem alterações profundas ela venha a conseguir a estabilidade exibicional imprescindível à conquista de grandes resultados.

O Benfica está a ganhar, mas sem brilho nem convicção.
Apesar dos perigos de qualquer deslocação para uma equipa sob grande pressão psicológica, Campo Maior era por tradição (recente) um campo favorável ao Benfica, que nunca lá perdeu e que, pelo contrário, apontou nove golos nas suas últimas duas presenças no Alto Alentejo, a última das quais há apenas sete meses.

Aliás, tão ou mais interessante que a dúvida do resultado seria comparar as duas equipas apresentadas por Heynckes e Mourinho em menos de um ano e verificar que apenas um jogador (Calado) fez parte de ambas - o que dá uma ideia da estabilidade (ou falta dela) em que tem vivido o departamento de futebol da Luz.

Mourinho fez alinhar a mesma formação que vencera em Guimarães (com Van Hooijdonk no lugar de Tomás), mas desta vez o jogo foi muito menos fluido, por causa do estilo voluntarioso, rápido e físico proposto pelos alentejanos - e também porque o holandês é menos veloz que o português e nunca conseguiu libertar-se da marcação de Marco Almeida.

Muita correria, sobretudo pelo flanco direito, e pressão permanente sobre os médios benfiquistas impediram-nos de impor o ritmo.

Apesar de só uma vez o Benfica ter corrido perigo, na sequência de um pontapé de canto finalizado com uma cabeçada sem oposição de Marco Almeida (16’), a actividade dos visitantes foi sempre mais defensiva do que organizativa.

Para o ataque, quase se limitaram a lançamentos sobre a direita que revelaram um Carlitos “descalibrado” na força, colocação e discernimento dos seus cruzamentos, acabando invariavelmente mal o que iniciava bem.

Só uma vez (18’) resultou a jogada - dir-se-ia única - com Miguel a ver Paulo Sérgio desviar o seu remate à queima-roupa, alguns minutos depois de já se ter oposto com classe a um remate de Maniche.

O segundo tempo foi ainda mais pobre, com o Benfica a fazer o seu primeiro remate aos 63 minutos, numa altura em que o Campomaiorense tinha apenas nove jogadores, por lesão temporária de Marco Almeida.

Foi então que a estrela de Mourinho para as substituições de recurso brilhou - e foi a única que brilhou numa noite que começara sob a ameaça de temporal: Sabry, desta vez, demorou menos tempo a marcar o golo do que da outra vez a atar as botas!

Com este golo, o egípcio reacendeu a estrelinha das substituições de Mourinho e alimentou a sua chama junto dos adeptos, mas fartou-se de ouvir broncas por causa do seu incorrigível individualismo.

A ganhar, o Benfica pôde finalmente vincar superioridade técnica e colocou à prova a categoria do “capitão” alentejano, embora perto do final o veterano Constantino tenha desperdiçado a ocasião mais soberana de todo o jogo, provocada por falha de Fernando Meira que, entre o perigo de golo e a expulsão que o afastaria do “derby”, jogou na primeira hipótese: teve sorte.

Golo

0-1 por SABRY, aos 75 minutos. À entrada da área do lado direito, o egípcio recebeu a bola de Carlitos e flectiu para o meio em dribles, até se decidir por um remate cruzado de pé esquerdo que surpreendeu Paulo Sérgio.

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