FC Porto ganhou bem, ao Benfica, o primeiro clássico da temporada. Foi uma equipa feliz na forma como obteve o primeiro golo (a bola, rematada por Alenitchev na cobrança de uma falta, tabelou em Calado e enganou Enke), mas depois soube fazer o suficiente para merecer a vitória, jogando de forma segura.
Curiosamente, a equipa de Fernando Santos conseguiu os golos no período mais equilibrado do jogo, a primeira parte. Não falhou as duas oportunidades de marcar, já depois de Enke ter realizado uma excelente defesa após cabeceamento de Ricardo Silva.
Nesse mesmo período, o Benfica jogou de igual para igual mas não conseguiu concretizar duas ocasiões - na primeira porque Ricardo Silva se superiorizou no último momento a Calado (28), na segunda porque Maniche não conseguiu cabecear em condições (36).
O Benfica falhou sempre no ataque. “Entregou” Van Hooijdonk a Jorge Costa e perdeu-se entre a habilidade inconsequente de Sabry e os lampejos de Poborsky, mais uma vez o melhor futebolista encarnado. E, a acabar a primeira parte, sofreu a penalização de um segundo golo (obtido “à vontade” por Jorge Costa), logo acompanhada pela expulsão de Rojas, que viu o cartão amarelo por duas vezes num minuto. A partir daí, o jogo ficou praticamente decidido.
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O Benfica queixou-se sem razão da falta que originou o primeiro golo. Talvez se devesse queixar de uma estratégia pouco ousada e servida por menos jogadores criativos.
Paulo Madeira a defesa-direito (e Sérgio Nunes à esquerda na segunda metade) é um recurso que pode dar descanso e liberdade a Poborsky mas limita a actividade nessa faixa.
Calado e Chano juntos - mais atentos a Pavlin e Alenitchev do que empenhados em organizar a manobra atacante - acabam por desfalcar o apoio à frente porque ambos são mais jogadores de “cortar” e “entregar” do que “subir” e “entrar”. Meira seria, com certeza, uma opção de maior qualidade, se bem que Heynckes saiba isso melhor do que todos e alguma razão há-de ter a sustentar a decisão de sentar o ex-vimaranense inicialmente no banco.
Ao invés, o FC Porto beneficiou do regresso de Capucho, um jogador sem medo de arriscar, que procura a bola e depois cria desequilíbrios no um-contra-um.
Com Alenitchev a confirmar-se como o maestro da equipa e Pavlin bastante sóbrio - e ambos como vértices de um triângulo que tinha em Chainho o ponto mais recuado -, o conjunto de Fernando Santos dispôs sempre de maior número de futebolistas integrados na manobra atacante. O FC Porto assumiu a iniciativa, até porque o Benfica quis jogar em contra-ataque.
Com Capucho, Alenitchev e Drulovic (e ainda faltam Deco e Maric) o FC Porto continua a ser uma equipa criativa e terá descansado os adeptos depois da derrota com o Anderlecht e o empate com o Sporting.
É evidente que, lá na frente, Domingos não é Jardel nem nada que se pareça e isso muda um tanto o jogo da equipa, mas não parece haver razão para tanto alarme quanto aquele que se tem visto nestes últimos dias.
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Na formação do FC Porto, Fernando Santos continua a preferir agora Ricardo Silva a Aloísio e Rubens Júnior a Esquerdinha. Percebe-se porquê. Ricardo Silva é, na realidade, um valor seguro, a defender e a atacar. Rubens Júnior está num momento de exuberante forma física.
O FC Porto, também porque tinha Nélson na direita, dominou os flancos perante um Benfica coxo dos dois lados. Heynckes precisa que Escalona seja mesmo bom e Dudic recupere a confiança, ou vai ter um problema bicudo a resolver para além da falta de um verdadeiro “nº 10” que jogue nas costas de Van Hooijdonk, o municie, e saiba dar profundidade e organização ao jogo atacante.
Parece muito mas pode não ser se Fernando Meira entrar bem e, sobretudo, se Kandaurov ascender finalmente com consistência ao lugar e às funções que lhe pareciam destinadas depois da dispensa de João Vieira Pinto e, sobretudo, da venda de Nuno Gomes.
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O embate dos dois sistemas (4x1x2x3 do FC Porto contra 4x2x3x1 do Benfica) originou muitos duelos particulares, especialmente no meio campo, zona do terreno em que o FC Porto construiu vantagem porque pôde contar sempre aí com o envolvimento de Capucho e Drulovic, dois homens que não se colam à linha à espera da bola. O jogo portista teve mais circulação e menos rigidez.
O Benfica acabava, assim, por não dispor de vantagem numérica no miolo e depois perdia claramente no envolvimento atacante, se bem que isso não tenho sido visível nos primeiros momentos do encontro.
Nesse período, a técnica de Sabry e o futebol incisivo de Poborsky disfarçaram as limitações do conjunto, que utilizou demasiadas vezes o recurso à falta. A equipa prometeu aquilo que não seria, depois, capaz de cumprir. A expulsão de Rojas, logo a seguir ao segundo golo do FC Porto, foi decisiva.
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Para cobrir o buraco deixado por Rojas, Heynckes optou por sacrificar Sabry e não um dos médios defensivos. Percebeu-se que estava mais empenhado em não sofrer uma goleada do que em sonhar com reviravoltas.
A equipa entendeu a mensagem e realizou uma segunda parte pobríssima, em que praticamente não incomodou Ovchinnikov. A excepção, mais uma vez, chamou-se Poborsky.
A rendição de Chano (jogador fino mas demasiado frágil) tardou demasiado, a substituição de Van Hooijdonk foi o reconhecimento da incapacidade de levar a bola até lá à frente. Kandaurov, naquele período, não conseguiu encontrar espaço; mas Meira provou que é um titular óbvio. Trata-se de um jogador polivalente e de classe, que joga em todo o campo. Está destinado a chegar rapidamente ao grupo dos melhores de Portugal.
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Enquanto Heynckes fazia o que podia, Fernando Santos fazia experiências. Paredes rendeu Pavlin. Cândido Costa, cheio de vontade, entrou para o lugar de Capucho momentos depois deste ter “embirrado” com um passe de Ricardo Silva.
Finalmente - o momento mais esperado pelos adeptos do FC Porto - surgiu Pizzi no lugar de Domingos.
A vontade do argentino em fazer golo foi evidente. Drulovic bem tentou ajudá-lo, em especial numa jogada (66) em que tinha três colegas melhor posicionados para um remate com ainda mais possibilidades de êxito.
O FC Porto passeou na segunda parte, durante a qual pareceu ter escolhido a opção de não correr riscos e garantir a importante vitória sem quaisquer sobressaltos. Ainda assim, o 3-0 esteve por diversas vezes à vista, enquanto o Benfica só teve uma oportunidade verdadeira, a dois minutos do fim, obviamente através de Poborsky.
A vitória portista foi plenamente justificada e merecida.
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António Costa realizou um trabalho competente. No lance que originou a falta transformada em golo por Alenitchev, não houve lugar a dúvidas no campo: foi falta. O árbitro esteve bem técnica e disciplinarmente.
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