P. Ferreira-Benfica, 0-0: Ajudou muito à raça pacense o profundo sono encarnado
OBVIAMENTE, não é a mesma coisa jogar contra o Benfica – mesmo em Paços de Ferreira – do que jogar ante em Leiria ou noutro lado qualquer, ante equipas do tal propalado "outro campeonato".
Queremos dizer que José Mota terá "medido distâncias" e, por isso mesmo, o rendimento da sua equipa na primeira parte não atingiu a bitola já demonstrada noutros jogos – Bessa incluído –, isto é, o futebol desenvolvido não conseguia chegar à área contrária – muito por culpa da estratégia adversária, mas já lá iremos – e a segurança do meio-campo estava de rastos, sem força para se impor, sem capacidade para fazer a circulação de bola, sem calma para urdir qualquer contra-ataque.
Naturalmente que o Benfica teve culpas nestes "pecados". Primeiro, o seu meio-campo – com Dani inicialmente metido mais ao meio e Maniche encostado à linha – era uma primeira barreira defensiva, pressionante e eficaz na sua função; depois, ao seu estilo, Poborsky exigia sempre dois "polícias – Zé Nando por função de lateral-esquerdo e Everaldo ou Marco Paulo, consoante o checo continuasse pelo flanco ou inflectisse para o miolo do terreno.
Simultaneamente o estilo de jogo dos pacenses favorecia a estratégia do Benfica: pouca utilização dos flancos e a bola sempre metida para a zona frontal da área onde Paulo Madeira – um regresso em pleno – foi barreira intransponível.
Posto isto assim, escusado será dizer que o jogo não mostrava grandes virtudes, quer em termos técnicos quer, ainda, em emotividade ou espectáculo. Muito disputado entre as duas grandes áreas mas raramente lá chegando em lances de futebol corrido.
DOMÍNIO INCONSEQUENTE
O domínio do Benfica – evidente e indiscutível – acabava, assim, por ser uma coisa inconsequente, sem efeito prático. Se Pedro teve o talento para, por duas vezes, negar êxito aos remates de Dani e por uma vez tirar a bola na altura exacta em que Poborsky se aprestava para cabecear, no resto do tempo não lhe foi exigido trabalho de vulto. Prova evidente de que o Benfica, mesmo senhor da bola e do jogo, não mostrava a arte necessária para poder criar os desequilíbrios que conduzissem aos remates com êxito.
E aos poucos, os homens da "capital do móvel" iam começando a acreditar nas suas capacidades e a esticar um pouco mais o seu jogo. Timidamente? De certa maneira. No entanto, aos 24 e 30 minutos, um remate de Paulo Vida é safo sobre o risco e Beto falha "chapéu" a Enke. Um "aviso" que não foi tomado em linha de conta, fundamentalmente porque não se via continuidade nessa ambição pacense.
E se, repete-se, o futebol da casa parecia encolhido, sem clarividência, sem fluidez, mais negros foram os horizontes perspectivados a partir do minuto 42, quando João Armando viu o cartão vermelho directo, por "agarranço" claro a Van Hooijdonk. Jogar contra uma equipa em inferioridade numérica é sempre uma vantagem...
MELHOR COM... DEZ!
O segundo tempo foi bem diferente para os homens da casa. Sem dúvida que José Mota deve ter "acordado" a sua gente nos balneários e o resultado desse "abanão" foi uma atitude muito mais atrevida, muito mais coesa. Afirmar que o Benfica interiorizou a ideia de que "mais minuto, menos minuto o golo aconteceria" é subjectivo; porém, na prática, essa foi a imagem deixada.
Melhor: pareceu mesmo que quem estava com dez jogadores em campo eram os lisboetas, tal o estilo pastoso do seu futebol, a calma com que tentavam chegar à área contrária e a forma acomodada como aceitavam o crescendo do antagonista.
As substituições operadas por Mourinho – entradas de João Tomás, Miguel e Sabry – tinham por objectivo abrir a frente atacante, dar-lhe mais velocidade, mais criatividade e, claro, gerar situações de golo. Mas, as intenções são uma coisa e a prática, outra.
O Benfica "adormeceu" e esse sono foi muito útil à garra pacense: os remates de João Tomás não trouxeram problemas, Miguel não conseguiu criar desequilíbrios e Sabry não mostrou pitada da sua velocidade, do seu poder de finta.
Ao contrário, os homens de José Mota, de dentes cerrados, já não se ficavam pelo seu meio campo tementes de um qualquer contra-ataque contrário, antes, em passes curtos e variando os flancos de jogo, surgiam na cara de Enke em condições de rematar. E, verdade se diga, não fora a calma e o valor do alemão em duas situações – aos 75 e 88 m. – e o resultado poderia ter sido outro, bem diferente.
No fundo, e passe a imagem, o Benfica adormeceu num jogo em que teve à sua mercê factores importantes e que por norma entram nas decisões dos jogos. Com a particularidade de, ao acordar, ver o seu guarda-redes a salvar o ponto. Estranho e lição para o futuro.
Relativamente ao Paços de Ferreira, é evidente que se a dinâmica trazida para o segundo tempo tivesse sido utilizada desde o início, pelo menos em termos de espectáculo os 90 m teriam sido muito diferentes.
Claro que quando se diz "melhor com dez", não se pretende subestimar o valor de quem viu a cartolina vermelha, antes se destaca a tal "raça" que só depois "subiu ao relvado".
EM SUMA...
Duas curiosidades: o Benfica continua apenas com um golo marcado fora do seu estádio e o Paços de Ferreira cedeu pontos, pela primeira vez, no seu reduto. Mas este empate é bem mais saboroso para os pacenses do que o é para os benfiquistas. Sem ponta de dúvida!
Quanto ao trabalho do árbitro Duarte Gomes pouca coisa a dizer em "desabono". Na amostragem dos cartões amarelos e no vermelho directo esteve certo. Terá faltado outro amarelo (e que seria o segundo) para Diogo Luís, numa entrada nada meiga aos 60 m.
No lance – 85 m – em que Paulo Madeira salta com Paulo Vida e "aperta" os braços, não temos certezas. O nosso ângulo de visão estava tapado por um espectador exaltado.
Siga-nos no Facebook e no Twitter.