Benfica-D. Aves, 5-1: Com o ataque como melhor defesa Toni «inventou» um Benfica-glutão
GOLOS, muitos golos, animaram a tarde de sábado no Estádio da Luz e permitiram ao Benfica um “score” dos antigos. Numa partida cheia de ocasiões para marcar – por paradoxal que pareça, face aos números finais, Robert Enke fez uma exibição notável – os donos da casa mostraram vários méritos, mas não deixaram de evidenciar lacunas que, contra adversários mais bem apetrechados, poderão provocar amargos de boca aos seus adeptos.
Toni, embalado pelos sucessos de Loulé e Paranhos, manteve a equipa num 4x4x2 puro, que se mostrou, a espaços, demolidor para a defesa contrária. Com Van Hooijdonk em grande plano a assinar um “hat-trick” e ainda a assistir para mais um golo, a turma da Luz foi capaz de sufocar o adversário e a evidenciar duas virtudes: boa condição física e uma fortaleza psicológica perfeitamente contrastante com o comportamento abúlico da última apresentação em casa, no milénio passado, contra o Gil Vicente.
Porém, como não há bela sem senão, o Benfica deixou-se “partir” em vários momentos do encontro. Sem que o meio-campo aguentasse o vaivém necessário a uma boa compensação defesa-ataque, a equipa encarnada dividiu-se entre os que iam para a frente e não regressavam – Chano, Carlitos, Van Hooijdonk, João Tomás e Maniche – e os que só defendiam – Dudic, Marchena, Ronaldo, Meira e Escalona. Nesses momentos, valeram à equipa do Benfica duas circunstâncias: alguma inocência dos avançados do D. Aves e, especialmente nos duelos com Quinzinho, a inspiração de Robert Enke, sábado numa das suas melhores apresentações desde que está no Benfica.
Euforia perigosa
Após uma vitória por cinco a um, coisa rara nas derradeiras temporadas dos encarnados, e em vésperas de receber o FC Porto para a Taça e Campeonato, natural será que entre os benfiquistas se crie alguma euforia. Se o fizerem estarão a laborar num erro perigoso. A equipa de Toni precisa, nos confrontos com os dragões, de ser muito mais rigorosa defensivamente e, provavelmente sem abdicar da disposição atacante que manifestou nos últimos encontros, deverá assumir outra atitude perante as fundamentais marcações a meio campo. Toni, logo que chegou, identificou o problema e tratou de deslocar Meira de trás para o meio. Uma solução que muito provavelmente manterá, recuperando Calado (ontem não jogou por castigo) para o lado do ex-vimaranense, com prejuízo do veterano Chano. Contudo, ao tomar essa decisão estará a prescindir do mais lúcido dos seus médios. Mas a verdade é que Chano já não tem 90 minutos em alto ritmo nas pernas e o FC Porto não desperdiçará oportunidades como as que o D. Aves sábado não foi capaz de concretizar.
Da goleada ao D. Aves podem retirar-se alguns elementos de análise importantes, quanto aos encarnados:
– Enke está em grande, rápido a sair e confiante entre os postes;
– Marchena sobe de forma a olhos vistos e é, sem dúvida, um grande patrão para a defesa;
– Dudic e Escalona evidenciam notáveis progressos a subir no terreno, envolvendo-se com classe na manobra ofensiva, mas ainda deixam muito a desejar na hora de defender;
– Fernando Meira não aguenta sozinho a tarefa de roubar a bola ao adversário;
– Van Hooijdonk, com o desgaste provocado na defesa contrária por João Tomás, dota o ataque do Benfica de uma dimensão “poder físico-jogo aéreo” há muito arredada da Luz.
Golos e ocasiões
Carlos Carvalhal pretendeu tapar os caminhos para a baliza de Tó Luís, apostando no enervamento dos encarnados, que aumentaria à medida que os minutos passassem sem golos. As contas saíram-lhe, porém, furadas. Com a sua equipa a falhar na hora da verdade – a primeira ocasião de golo foi dos forasteiros e logo aos quatro minutos, Enke “tirou o pão da boca” a Quinzinho – a defesa abriria brechas que seriam aproveitadas por Van Hooijdonk para colorir o “palcard” logo aos 15 minutos. E nem mesmo o 5x3x1x1 se mostrava suficiente para suster as ondas atacantes dos encarnados. Nas respostas, que a já explicada má relação defesa-ataque do Benfica propiciava, os avenses não aproveitavam como deviam e chegavam ao intervalo vergados ao peso de um 3-0.
Na segunda parte, e apesar das substituições, a matriz do encontro manteve-se inalterável: Os forasteiros criavam perigo (13 remates ao longo de todo o encontro), mas era o Benfica a facturar. O 5-1 chegou a 25 minutos do fim do encontro e pensou-se que a “fome” encarnada dos últimos tempos ia dar numa fartura ainda maior. Porém, quando Toni tirou Van Hooijdonk (73 minutos), o holandês recebeu uma monumental ovação que deveria ter marcado o final do encontro. Porque, na verdade, o derradeiro quarto de hora foi apenas para cumprir calendário e nem mesmo a entrada de André e a estreia de Ricardo Esteves serviram para espevitar o jogo.
Vários pequenos erros de Francisco Ferreira, sem influência no resultado, não impedem uma apreciação globalmente positiva do seu trabalho.
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