Benfica-Sporting, 3-0: Vitória mais gorda em 12 anos a coroar o «derby do penalty»
PARA a história este passa a ser o “derby do penalty”, por ter caído finalmente um dos recordes mais insólitos do futebol: ao fim de quase cinco anos, 1800 dias, 167 jogos e de 254 horas de jogo consecutivo, o Sporting sofreu um golo de grande penalidade cuja cobrança, por Van Hooijdonk, o árbitro mandou repetir perante a estupefacção geral, como se quisesse sublinhar com um bis esse momento raro!
Esse “penalty”, indiscutível na falta de André Cruz sobre o avançado holandês como recurso para uma intervenção deficiente de Paulo Bento, terá resolvido o jogo, mas os sportinguistas lamentam outras decisões de Jorge Coroado, veterano de cinco “derbies”, como justificação para o desnível final.
Primeiro, foi um “penalty” não assinalado contra o Benfica aos 60 minutos, por não ter tido a certeza se a falta de Meira sobre João Pinto fora cometida ou não no canto interior esquerdo da área.
Depois foi a expulsão do “capitão” Pedro Barbosa, a um quarto de hora do final, por presumível insulto – o primeiro cartão vermelho mostrado a um leão desde a expulsão do mesmo jogador, por Vítor Pereira, em Alverca, há mais de um ano.
Apenas uma das três decisões de Coroado foi errada, e embora a conversão em golo desse a igualdade 1-1, o Sporting tem muitos outros motivos para se queixar para lá do árbitro.
Apesar de o desnível final ser desajustado ao que se passou em campo até ao momento da expulsão, os leões fizeram muito pouco para vencer. Apáticos na maior parte do tempo, perante um adversário com escassos recursos, nem uma só vez estiveram em situação de finalização na área.
O Benfica, pelo contrário, foi mais intencional, teve um início fulgurante, e soube justificar o triunfo com um final em grande estilo.
É a terceira derrota do campeão em 13 jornadas, esfumando-se a esperança em encurtar para apenas dois pontos o atraso relativamente ao FC Porto e perdendo mesmo o segundo posto para o Sporting de Braga.
Para o Benfica, com uma sequência invulgar de quatro triunfos consecutivos (três para a Liga e outro para Taça), a vitória permite manter a acesa a esperança de ainda participar na discussão dos primeiros lugares.
A equipa de Mourinho oferece aos novos dirigentes o melhor início possível para o tal “Dezembro gordo”, se nos lembrarmos que desde Março de 1988 não se verificava tamanho desnível num “derby” no Estádio da Luz.
E até o regresso de João Pinto, assinalado nos limites do desportivismo, ficou marcado por uma definitiva transferência de afectos, com João Tomás a arrebatar em definitivo o cadeirão de “menino de ouro” vago desde o Verão.
Promessa não cumprida
Quando surgiu a grande penalidade, o espectáculo era dos mais pobres de sempre, os espectadores estavam irritados e a imagem dada pelas duas equipas era confrangedora. O Benfica esgotara todos os seus recursos com dez minutos de grande fulgor e duas ocasiões de golo negadas por Nélson, mas durante mais de meia hora os dois conjuntos entretiveram-se a trocar a bola nas zonas intermédias, com os visitantes a conseguir empurrar o jogo para o meio-campo encarnado.
Nesse primeiro período, só uma vez o Sporting visou a baliza, com um remate longínquo e torto do desconcentrado Acosta!
O bloqueio táctico com que os dois treinadores tacitamente foram concordando ao longo desses 45 minutos iniciais, em parte provocado por dois esquemas absolutamente iguais, estava para o jogo como as promessas não cumpridas dos dirigentes, transformando em nada as belas ideias de futebol pelos flancos, lançadas na fase de euforia inicial.
Embora não conseguissem suportar o controlo do jogo no campo do adversário, Calado e Chano mantiveram a pressão sobre os organizadores leoninos, em particular João Pinto, cometendo faltas cirúrgicas, sobretudo na segunda parte, e empurrando o jogo para as faixas laterais onde Dudic e Diogo Luís, mais defesas que atacantes, raramente estiveram em dificuldade.
Ao Sporting foi sugerida a conclusão através de cruzamentos e diagonais aéreas, o que fez contrastar a má forma de Acosta com o entendimento quase perfeito entre Meira – melhor jogo pelo Benfica – e Marchena: coisa rara, o Benfica não sofre golos há três jogos consecutivos, em coincidência com a ausência de Paulo Madeira.
Mourinho vence Inácio
O “penalty” teve o mérito de obrigar Inácio a sair da passividade, alterando ao intervalo a orientação dos catetos do seu triângulo central, com a troca de Paulo Bento por Horvath.
Arrepender-se-ia, porém, de ter optado por manter Pedro Barbosa, o jogador mais lento em campo, porque não apenas o esquema não se mostrou mais funcional, como também o “capitão” veio a cometer um erro disciplinar que afundou as aspirações da conjunto.
Antes desse momento capital ainda o técnico leonino atacou o espaço inexpugnável da área benfiquista com os longos centímetros de Spehar, a merecer finalmente a estreia na Liga ao fim de onze meses de “preparação”.
O Sporting afunilou ainda mais o seu jogo, porque Sá Pinto perdeu a verticalidade das suas investidas pelo flanco direito e, acima de tudo, abriu-se um corredor no flanco direito com a saída de Rui Jorge.
José Mourinho não tardou a explorar o filão, mandando a campo o veloz Poborsky e em pouco tempo o 1-0 tremido virou 3-0 apoteótico, com mais dois golos de João Tomás, definitivamente o novo “menino de ouro” dos benfiquistas, em lances de contra-ataque rápido tão ao seu gosto.
Maior vitória em 12 anos
A uns tudo correu excepcionalmente bem: a procura pela vitória foi muito intencional, mas ninguém poderia imaginar o maior desnível entre as duas equipas em doze anos na Luz (4-1 em 87-88), a par de outras duas vitórias encarnadas por 6-3 e 4-1 nos últimos anos, mas no reduto do adversário.
Aos outros tudo correu tão mal que o único registo que não foi quebrado nesta noite acabou por ser a já longa seca leonina frente ao seu rival de sempre: 8 jogos seguidos de campeonato sem um triunfo verde e branco.
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