Benfica-Sp. Braga, 2-2: O brilho da estrela minhota e o melhor Benfica da época
UM JOGO regulado por emoções e claramente marcado pelos estados de espírito das duas equipas, eis o que pode dizer-se numa primeira abordagem da partida de segunda-feira, na Luz, entre Benfica e Sp. Braga. E convém fazê-lo antes mesmo de partir para as suas incidências, para o que (e como) cada uma das equipas jogou e para a análise a um resultado que de volta em volta acabou em empate. Bom para uns, mau para outros, mas... empate. O Sp. Braga chegava à Luz no alto do seu primeiro lugar, com índices de confiança perto do máximo e com uma lição aprendida por estudada e testada centenas de vezes. Nos instantes iniciais viu-se uma equipa capaz de transformar promessas em certezas, jogadores de média craveira em estrelas de primeira grandeza, situações aparentemente delicadas em casos de difícil resolução para o adversário.
Pressionado pela derrota no Bessa, ainda a reflectir sobre a eliminação europeia e em fase de assimilação de uma nova forma de jogar, o Benfica foi a imagem oposta. À vontade de cumprir o guião juntou o medo do erro; quando precisava de usar a cabeça e o talento, mostrava apenas coração e generosidade; na hora em que necessitava de tranquilidade, pesava a agitação de não acertar o passe, o desarme, o remate. Passos trocados que tinham pouco a ver com a qualidade dos jogadores e o potencial da equipa, e encontravam explicações nos efeitos nefastos de um percurso aos solavancos e que, apesar de já estarmos em Outubro, nem sequer conheceu outro ponto alto para além da vitória expressiva, na Luz, frente ao Beira Mar.
COM O MAL DOS OUTROS...
Assentemos, pois, neste princípio: o Sp. Braga foi mais brilhante na forma como soube jogar com a intranquilidade do Benfica do que propriamente pela sua própria produção. O 4x3x3 de José Mourinho, ainda por cima, permitiu que o encaixe fosse feito sem alterar a estrutura habitual. Manuel Cajuda actuou, como de costume, com três homens na frente - Edmilson e Riva descaídos para os flancos, Fehér na zona central; contrapôs ao trio de médios benfiquistas - Calado, Poborsky e Dani - a vigilância de Castanheira, Tiago e Barroso, respondendo com quatro defesas ao ataque adversário, composto por Carlitos (direita), Miguel (esquerda) e Van Hooijdonk (no centro).
O Benfica cultivou mais a posse de bola, forma encontrada por José Mourinho para expor menos as deficiências defensivas. Os encarnados nunca chegaram a ser uma equipa ansiosa, justamente porque o objectivo principal foi não cometer erros. Isso conduziu-os a um ritmo pausado na procura dos espaços e à menor exuberância dos seus jogadores no sentido de saírem vencedores dos vários duelos individuais que tinham pela frente. O Sp. Braga agiu como sempre (até poder, mas já lá vamos), dando como válida a velha máxima “com o mal dos outros podemos nós bem”.
Foram fulminantes os primeiros momentos de grande agitação no jogo: aos 27’, na sequência de um canto apontado por Dani, Ronaldo falhou, à boca da baliza, o que parecia mais fácil; sete minutos depois, os bracarenses chegavam à vantagem, através de um golo de Fehér. O último lance antes do intervalo foi uma espécie de prenúncio do que iria suceder no segundo tempo: mais um grande passe de Dani e Poborsky a rematar à rede lateral, depois de passar por Quim.
A GRANDE DEFESA DE QUIM
O período complementar foi diferente. Cresceu o Benfica, e a esse crescimento não foi indiferente a injecção de talento que representou a entrada de Sabry. Finalmente a equipa conseguiu explorar os flancos, o egípcio contagiou os companheiros de forma a vencerem os vários duelos espalhados pelo campo e o Sp. Braga não teve outro remédio senão recuar e reduzir as ambições ao retardar daquilo que parecia inevitável: o golo benfiquista.
Mourinho teve, por fim, o seu momento de felicidade, ao ver João Tomás cabecear com êxito, um minuto depois de o lançar no jogo. Cinco minutos depois, Ronaldo isolou-se pela esquerda da grande área e rematou à barra, e aos 72’ aconteceu um dos grandes momentos da noite. Pelé afirmou que no Mundial de 1970, no México, o guarda-redes inglês Gordon Banks lhe defendeu um golo. O mesmo poderá agora afirmar Van Hooijdonk em relação a Quim. O holandês marcou um livre directo perfeito na força e na colocação, correspondendo o guardião minhoto com uma defesa absolutamente fantástica. Um momento espectacular, o mais bonito do jogo.
Mas não demoraria muito tempo até que o Benfica conseguisse regressar ao golo. Se o primeiro tinha resultado de um cruzamento perfeito de Sabry na esquerda, o segundo surgiu na sequência de uma grande jogada de Poborsky na direita (excelente a abertura de Chano), culminado também de cabeça mas desta vez por Van Hooijdonk. Foi a melhor fase dos encarnados no jogo, que constitui, ao mesmo tempo, o período mais brilhante de toda a época. Dani, a passe de Sabry, podia ter dilatado a vantagem (rematou ao lado). Estávamos a dez minutos do fim do encontro.
O Benfica entrava para a recta final com o trabalho mais difícil concluído. Ultrapassara a inibição inicial, resistira ao golo bracarense, tinha encontrado o talento para dar a volta ao marcador e caminhava com segurança para a meta, ao mesmo tempo que o adversário não dava mostras de reacção, parecendo resignado à sua sorte. Mas mesmo no final brilhou mais alto a estrelinha minhota. Se o Benfica precisou de uma dezena de remates para fazer dois golos no segundo tempo, os bracarenses tiveram requintes de malvadez no modo como evitaram a derrota. Remataram duas vezes no mesmo lance, no derradeiro minuto da partida - uma bateu no poste; a outra, na recarga, acabou dentro da baliza de Enke. Noutras condições poderíamos mesmo dizer que a equipa de Manuel Cajuda teve a estrelinha dos campeões...
Lucílio Baptista rubricou trabalho aceitável, mas cometeu muitos erros de julgamento nas pequenas faltas.
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