UMA semana depois das três "bicadas" num leãozinho, que provocaram um "terramoto" com epicentro na 2ª Circular, eis que a águia regressa à dura realidade de uma equipa cujas lacunas e limitações não lhe permitem objectivamente lutar pela conquista do título. Quatro vitórias consecutivas [Farense (casa), Campomaiorense (fora, para a Taça), V. Guimarães (fora) e Sporting (casa)] fizeram sonhar de novo os adeptos benfiquistas mais ferrenhos e indefectíveis, mas bastou uma curta viagem a Alverca para fazer com que voltassem a pôr os pés no chão.
As vitórias em Guimarães e na Luz, frente ao eterno rival, provaram que uma equipa unida, concentrada e motivada como se apresentou o Benfica nesses dois jogos – estado de espírito para o qual terá sido importante o trabalho psicológico desenvolvido por José Mourinho junto dos "seus meninos" – consegue esconder e superar limitações, jogando no limiar das suas capacidades. Mas não é de todo possível que os "meninos" o façam em todos os jogos, especialmente quando o adversário não se chama Sporting ou FC Porto e os estímulos não são tão fortes a ponto de galvanizarem a equipa e levá-la a superar-se.
Foi o que aconteceu, domingo à noite, em Alverca. O Benfica, ainda a saborear a rotunda vitória sobre o Sporting, apresentou-se como em tantos outros jogos que já realizou na I Liga, sob o comando de José Mourinho: sem elã, sem soluções, sem fluidez de jogo, sem um toque de classe. Todos se lembram dos jogos em casa com o Estrela da Amadora e o Farense ou fora com o Marítimo, isto para não ir mais longe. É evidente que depois da vitória sobre o Sporting se esperava "outro" Benfica em Alverca, até pelo efeito daquela no aumento dos índices de confiança dos jogadores. Não creio que o regresso à normalidade exibicional da equipa tenha a ver com a troca de Mourinho por Toni. Provavelmente, com Mourinho, domingo à noite, no banco o resultado não seria diferente. O problema reside justamente em dois aspectos: há um défice de qualidade do plantel – o que faz com que custe a perceber que dois jogadores com a qualidade individual de Poborsky e Sabry não sejam devidamente rendibilizados, embora Toni, domingo, tenha feito muito bem em não mexer na equipa (só trocou Van Hooijdonk por João Tomás) que venceu o Sporting – e há ainda um modelo de jogo por estabilizar e uma equipa por construir.
Dizendo de outro modo, nem Heynckes nem Mourinho (este por falta de tempo) o conseguiram.
Superioridade a meio campo
Que diferença na forma como o Benfica abordou o jogo de domingo se comparado com o de Alvalade. Há uma semana entraram a "cem à hora", domingo só a "vinte", a pegarem no jogo de forma muito lenta e denunciada e a permitirem que o Alverca cedo conquistasse uma coesão defensiva que lhe foi incutindo confiança para ser mais ousado nas saídas para o ataque.
O jogo cedo se repartiu entre os dois meios campos, mas foi sempre o Alverca a equipa mais perigosa e que mais perto esteve do golo. Por uma razão fundamental: a equipa de Jesualdo conseguia ganhar alguma superioridade numérica no meio-campo – Diogo, Rui Borges, Ramires e André contra Chano, Calado e Maniche. Entre ambas, uma coisa em comum: faltava qualidade no passe, o que emperrava as acções ofensivas e reduziam o seu grau de perigo para as duas balizas.
Paralelamente, o Benfica não beneficiava da circunstância de jogar com dois pontas abertos na alas – só Carlitos a espaços metia o turbo, já que Miguel esteve muito apagado, o que deixava João Tomás muito só na luta contra os centrais contrários, com a agravante de ter perdido quase todos os despiques de costas para a baliza. O Alverca só com Anderson no apoio ao possante Mantorras acabou por ser sempre a equipa mais perigosa.
Quando João Tomás colocou o Benfica em vantagem soou a alguma injustiça, já que se alguma das equipas o merecia, essa era, seguramente, o Alverca. Mas a justiça foi reposta à beira do intervalo: Rui Borges surgiu pelo meio a baralhar as marcações aos médios encarnados e a oferecer a Mantorras o golo do empate. Duas falhas de marcação grosseiras dos médios e defesas benfiquistas.
Jesualdo manda recuar
Surpreendentemente, na 2ª parte, Jesualdo Ferreira resolveu dar indicações à sua equipa para recuar no terreno e oferecer a iniciativa ao Benfica. A ideia subjacente a esta decisão – presume-se – seria a de atrair o adversário e surpreendê-lo no contra-ataque. Todavia, o Alverca recuou excessivamente e passou a defender muito próximo da sua área, o que criou algumas situações de apuro junto à baliza de Paulo Santos.
Toni não perdeu tempo e sacrificou um médio defensivo, Chano, para a entrada de Van Hooijdonk. Era altura de "carregar" sobre a baliza do Alverca e dois pontas-de-lança tão "físicos" como o holandês e João Tomás poderiam ser a chave para o triunfo. Mas essa opção fragilizou o meio-campo encarnado, abrindo espaços que o Alverca viria a explorar na ponta final do jogo. Mesmo assim, Jesualdo Ferreira demorou seis minutos após a opção de Toni a decidir-se pela entrada de Milinkovic, o homem que iria decidir o jogo. Se o Benfica desguarnecera o meio-campo, era preciso reforçar o do Alverca, sobretudo com alguém com a qualidade de passe de Milinkovic (é incrível que um jogador do seu quilate seja suplente nesta equipa – se já não tem "pulmão" para os 90' isso não obriga a que não seja titular). E a verdade é que foi este jogador, fresco e com espaços, a criar os melhores lances do jogo, um dos quais ele próprio finalizou. Faltavam dez minutos para o fim e o "pressing" final do Benfica foi infrutífero.
A troca de Miguel por Sabry também não trouxe mais soluções ao flanco esquerdo do ataque encarnado.
Arbitragem
O árbitro João Ferreira deixou um amarelo por mostrar a Diogo Luís e no lance do golo do Benfica ficaram algumas dúvidas em relação à sua legalidade face ao apoio de João Tomás nas costas de Pedro Neves ao cabecear para o fundo das redes.
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