VITÓRIA INDISCUTÍVEL DOS ENCARNADOS, MAS O ÁRBITRO...
À QUINTA foi de vez - Mourinho lá se estreou a ganhar como treinador do Benfica. Mas foi uma vitória dorida, sofrida, que deixou o treinador benfiquista, nos últimos minutos, à beira de um ataque de nervos.
O “fantasma” do golo do bracarense Artur Jorge, há quinze dias, já em período de compensações pairou de novo sobre o Estádio da Luz no “forcing” final do Belenenses, em busca do empate.
Mas, se esse golo de Artur Jorge, que “carimbou” o 2-2 final, teve um sabor a profunda injustiça, pela grande segunda parte que o Benfica protagonizou, domingo à tarde coube ao Belenenses queixar-se, não da má sorte ou da falta dela, mas da actuação do árbitro Isidoro Rodrigues, pela influência directa que viria a ter no resultado, em prejuízo da equipa do Restelo.
Se não, vejamos. Aos 32', assinalou um livre indirecto contra o Belenenses, na área azul, por pretenso atraso de Tuck para o guarda-redes Marco Aurélio, quando se tratou, na verdade, de um corte do médio azul, quando Sabry se aprestava para dominar a bola em posição privilegiada na área. Um erro de interpretação que ganhou uma amplitude maior pelo facto de se tratar de uma jogada susceptível de resultar em golo, como, de resto, veio a acontecer.
Na sequência da mesma, Marchena faria um grande golo, mas o mérito da sua execução não invalidou a origem do mesmo, assente num erro de interpretação do árbitro. Tanto mais que na segunda parte teve critério totalmente diferente num lance em que Ronaldo tocou a bola e Enke segurou-a com as mãos.
Mas a tarde desastrada de Isidoro Rodrigues teria outros desenvolvimentos: aos 74', um atraso para Enke mais apertado obrigou este a chutar contra Marcão, que na sequência do ressalto introduziu a bola na baliza. Aparentemente o árbitro terá considerado braço na bola, mas o remate de Enke é tão "à queima" que retira, de algum modo, fundamentação à tese arbitral.
Mas, se neste lance ainda o árbitro pode ser credor do benefício da dúvida, o mesmo já não pode dizer-se de outro lance, três minutos depois, quando Cléber se estatelou já na área, tocado (?) por Rojas (deixou-nos muitas dúvidas a existência da falta), e Isidoro Rodrigues indicou a marca do livre directo fora da área. A existir falta - e o árbitro assinalou-a - teria de ser grande penalidade contra o Benfica.
Como se constata, o Belenenses pode queixar-se do trabalho do árbitro, mas isso não invalida outra constatação: é que a equipa de Marinho Peres, com excepção do último quarto de hora, quando passou a estar em superioridade numérica, nunca mostrou estofo e capacidade para chegar ao golo.
O Benfica, sem ter repetido a excelente exibição da segunda parte frente ao Braga - longe disso -, foi quase sempre melhor e esteve sempre mais perto de marcar. Em relação ao jogo de há quinze dias, Mourinho, embora fiel ao sistema de jogo que utilizou até aqui, fez várias alterações, ditadas por lesões e pelo regresso de Marchena.
O espanhol retomou o seu lugar no eixo da defesa, Meira “saltou” para o lugar de Calado, como médio-defensivo, encostou Poborsky ao flanco direito (que jogara frente ao Braga como médio-interior-direito), deu a titularidade a Chano nesta posição e colocou Miguel como médio-interior-esquerdo, mais ofensivo que o espanhol. Bem aberto à esquerda, o egípcio Sabry.
O Benfica assumiu a iniciativa do jogo, mas fê-lo de uma forma cerimoniosa, sem pressionar e impor um ritmo forte ao jogo. O jogo era chato e incaracterístico (salvo um ou outro rasgo de Miguel e Sabry) e o Belenenses também não ajudava: devagar, devagarinho era o andamento azul, agravado pela falta de inspiração do trio criativo do ataque (Eliel provou domingo ser bom com a bola nos pés, mas faltam-lhe mobilidade e "pernas" para jogar em relvados maiores, como o da Luz; Guga e Verona estavam em "dia não" - seria o nome do adversário a intimidar?).
O certo é que um jogador começava a fazer a diferença e a provocar desequilíbrios na certinha defesa azul: Miguel. De resto, o flanco esquerdo (Miguel/Sabry) funcionou sempre melhor que o oposto (Chano/Poborsky). Tuck nunca foi capaz de travar o jovem benfiquista, quando entrava pelos olhos dentro que era imperioso que o fizesse.
Aos 10' já ficara na retina num passe a rasgar para Poborsky (Sabry falhou a finalização) e aos 29' assinou uma jogada magistral a oferecer ao checo o golo, que este falhou por milímetros. Mas seria depois do golo de Marchena que o Benfica conheceria o seu período de fulgor, com Miguel a fazer estragos na defesa azul.
O 1-0 ao intervalo chegou lisonjeiro para o Belenenses.
Na segunda parte, Marinho Peres fez o que se exigia: trocou o desastrado Lito por Marcão, mais um ponta-de-lança, libertando mais a acção de Eliel e esperando que os criativos Verona e Guga se libertassem das inibições. Nada feito, porém.
É certo que Marcão veio dar outra acutilância ao ataque azul, que passou a ter uma referência, mas os criativos nada!
O jogo tornou-se mais vivo e mais aberto e o Benfica passou a jogar mais recuado, aproveitando o maior balanceamento ofensivo dos azuis para tentar matar o jogo no contra-ataque. O Benfica deu a sensação de ter o jogo controlado e esteve sempre mais perto do 2-0 que o Belenenses do 1-1.
Mas defender cada vez mais perto da sua área comporta riscos e as coisas complicaram-se no último quarto de hora: Sérgio Nunes foi expulso, Meira recuou para central, a Chano começaram a faltar as pernas, Miguel foi perdendo fulgor e inspiração, Poborsky nunca acertou e Carlitos não entrou bem no jogo. Ou seja, o Benfica “perdeu” o meio-campo e os últimos minutos foram de aflição para os benfiquistas, em particular para José Mourinho, que estava a ver que ainda não era desta que quebrava o “seu” ciclo de uma derrota e três empates.
Um detalhe: os defesas encarnados estão muito faltosos (influência da entrada de Mozer para a equipa técnica?) e, se domingo Sérgio Nunes foi expulso, Rojas e Chano também o deveriam ter sido, beneficiando da benevolência do árbitro. A equipa somou vinte e seis faltas ao longo do jogo, algumas delas em "zonas proibidas". Agressividade sim, mas em excesso pode trazer dissabores.
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