O Benfica bateu o Gil Vicente na estreia de José Antonio Camacho no banco, somando agora 26 pontos (mais um jogo), total que lhe permite ir a Alvalade, no sábado, no segundo lugar. À frente do Sporting, portanto. Se o clássico de Lisboa já estava enquadrado por uma série de pormenores interessantes, em especial o confronto de dois treinadores que foram jogadores de grande expressão internacional, esta questão pontual cria ainda maiores expectativas junto dos adeptos.
Mas ontem foi o dia da estreia de Camacho, uma espécie de "teste piloto" na sua relação com os jogadores em competição. O espanhol decidiu manter a equipa escalada por Chalana para o jogo com o Sp. Braga, mas não resistiu à tentação de mudar os extremos: Mantorras para a esquerda, Simão para direita. Porque, em relação a este Benfica, Camacho só conhecia verdadeiramente Simão, por tê-lo visto pelo Barcelona, na liga espanhola, a jogar à direita, no lugar que fora de Figo.
Contudo, um golo fabuloso marcado por Duah, com apenas onze minutos jogados, pulverizou o "efeito Camacho" e lembrou que na Luz, para além de um treinador novo e uma equipa disposta a agradar, jogava o Gil Vicente, actual quinto classificado, que ostentava como credencial de respeito uma série de cinco triunfos. Os galos de Vítor Oliveira, condicionados pela ausência dos craques Manoel e Ali, jogavam na Luz sem medo. Braima sobre Zahovic, Rui Guerreiro na marcação a Mantorras e o estreante Dário em cima de Simão controlavam o ataque do adversário, restando ainda Gaspar e Nunes para neutralizar Nuno Gomes.
Em desvantagem, Camacho deixou-se de reminiscências da liga espanhola e colocou todos os jogadores nos seus lugares, com Simão à esquerda. Nuno Gomes empatou e, de seguida, Simão abriu o livro, começando a desequilibrar o adversário e o jogo. Tirou o segundo cartão amarelo a Rui Guerreiro e, na sequência da marcação da falta, o Benfica colocou-se em vantagem. O quadro não podia ser melhor para as águias: mais um jogador em campo e 56 minutos para jogar. Foi então que Camacho viu, em vez de ganas, moleza e pouca vontade de acelerar. Bobby Robson dizia que os jogadores portugueses tinham medo de massacrar o adversário, de acabar com ele, limitar-lhe as possibilidades de lutar pelo resultado. Camacho haveria de concordar com ele, depois de ter visto jogar a sua equipa sem arriscar durante um terço do jogo.
Paulo Alves e Nandinho em campo tornaram o Gil Vicente numa equipa com mais referências ofensivas, nos últimos 15 minutos. E foi a agressividade de Vítor Oliveira no banco do Gil que acabou por espicaçar ainda mais o Benfica, já muito depois de Drulovic ter ocupado o lugar de Mantorras no flanco direito. Os ataques em superioridade numérica sucederam-se e só a indecisão e falta de qualidade no último passe impediu que tivesse sido construída uma goleada expressiva, a corresponder à ambição do técnico espanhol, que recorreu também ao húngaro Fehér, optando por colocar Nuno Gomes no lugar do substituído Zahovic. Um remate seco de Petit deu mais verdade ao resultado, mas não desfez a grande dúvida de Camacho: o Benfica tem qualidade para 90 minutos de grande futebol? Nada como um jogo com o Sporting para encontrar a resposta.
Elmano Santos não foi bem auxiliado.
Siga-nos no Facebook e no Twitter.