Ao ambiente quente, afectuoso e simpático que encontrou em Torres Novas, o Benfica respondeu com uma exibição fria e pobre, culminada com um triunfo sofrido perante uma equipa que luta pela permanência no escalão maior. É certo e sabido que não há nenhuma vitória que desmoralize, mas a verdade é que o técnico dos encarnados tem muito em que pensar, após algumas das individualidades que escalou para o encontro terem mostrado insuficiências gritantes.
Os milhares de benfiquistas que encheram o anfiteatro emprestado por Torres Novas puderam, por exemplo, manifestar ruidosamente o seu descontentamento com a produção de Zahovic, um virtuoso fora de forma e, mais do que isso, longe do coração dos adeptos. Nos 45 minutos que esteve em campo, o esloveno mais não fez do que justificar a substituição; Camacho fez-lhe a vontade e o Benfica, sem atingir um nível por aí além, acabou por arrancar um segundo tempo sofrível que lhe valeu os três pontos em disputa.
Sem Petit, com Hélder estranhamente inquieto perante Fary e com as "ventoinhas" do ataque a produzirem aos soluços, os encarnados começaram por não ultrapassar a organização aveirense. António Sousa optou por um 4x1x4x1, onde todas as marcações eram feitas à zona, excepto a de Sandro a Zahovic. O Benfica "entupia" no congestionamento de tráfego a meio-campo e não tinha soluções para aquecer a noite. Durante a primeira parte os encarnados remataram apenas três vezes (e o Beira-Mar, uma), o que prova a indigência emocional em que se viveu. Tudo marcado, tudo lento, tudo previsível, enfim, um espectáculo que só provocava uma enorme sensação de tédio. Foi então que Camacho entrou em jogo, não foi de modas, aproveitou o intervalo para trocar Zahovic por Carlitos, passando Simão para as costas de Nuno Gomes e Geovanni para a esquerda. Os resultados desta substituição não se fizeram esperar. A velocidade aumentou e os espaços começaram a aparecer. Ao fim de dez minutos de aplicação, o Benfica chegou ao golo, por Geovanni, uma estreia absoluta a facturar. Pensou-se então que o Benfica ia arrancar para uma vitória tranquila. Nada disso. O Beira-Mar, timidamente, primeiro, e depois de forma mais atrevida, foi ganhando ascendente a meio-campo, onde a falta de Petit foi flagrante. Andersson joga o que pode, de forma honesta, embora limitada, mas o principal problema reside em Tiago, que "vale" o dobro quando está ao lado do ex-boavisteiro. Por isso, ao ver que o Benfica tinha perdido o meio-campo, José Antonio Camacho apostou na experiência de Drulovic para segurar a bola, coisa que o sérvio fez com acerto, por um lado, mas com pouca companhia, por outro. À medida que o relógio corria para o minuto 90, o Benfica ia ficando mais e mais intranquilo, quiçá com o pensamento no "particular" com o Ajax. Moreira ainda salvou uma situação difícil e Fary esteve, em dois outros momentos, em condição de empatar o jogo. O muito público afecto aos encarnados gritava já "está na hora" e quando o árbitro deu a contenda por terminada, um enorme suspiro de alívio ecoou pelo estádio de Torres Novas. O Benfica, que acabou por ganhar bem, porque, mesmo assim, foi a equipa mais positiva, não ganhou para o susto. E Camacho deve mesmo voltar a equacionar se o que lhe faz mais falta é um lateral-esquerdo ou um avançado. A segunda hipótese está, por certo, mais perto das carência ontem evidenciadas.
Lucílio Baptista fez um trabalho sereno, os jogadores não lhe arranjaram problemas e ele fez o mesmo...
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