Após o golo que deu o empate ao Benfica na noite de ontem, no Funchal, Simão foi festejar a proeza junto do banco do Marítimo, numa clara provocação a Cajuda, que por várias vezes se tinha insurgido contra o árbitro, acusando-o, através gestos, de ter medo de marcar faltas contra o onze lisboeta. A atitude mostra uma clara revolta que aos poucos se foi apoderando da equipa de Camacho, principalmente a partir da altura em que Dinda tinha colocado os locais em vantagem, na transformação de um livre.
A revolta valeu um ponto mas foi curta e, principalmente, tardia. Por outras palavras, o Benfica passou uma enormidade de tempo a fingir que jogava, sem qualquer fio exibicional e com alguns elementos em sub-rendimento. A entrada de Roger espevitou o conjunto, Simão lá apareceu e o empate acabou por ser um mal menor. Mas a subida ao segundo lugar voltou a ficar adiada. E com mais amargos de boca estará certamente o Marítimo: os três pontos fugiram numa altura em que a equipa, algo estranhamente e então em vantagem, perdeu o controlo das situações.
Sem Zahovic, Nuno Gomes, Petit e Ricardo Rocha, o Benfica ficou ainda privado de Geovanni, pouco depois da meia hora, e de Miguel, no início do segundo tempo. Contrariedades a mais para Camacho resolver, até porque os elementos em campo não mostravam capacidade para alterar o cariz do jogo, deficiente em termos sectoriais e sem transportador eficaz para servir os homens da frente.
Um zero
O futebol mais directo do Benfica nunca resultou e Van der Gaag, por exemplo, ganhou todos os lances de cabeça a Sokota. Mais apoiado, o sistema do Marítimo também nada rendeu em termos práticos durante o período inicial. Ou seja, as defesas superaram sistematicamente os ataques e os dois guarda-redes passaram a primeira parte sem efectuar uma defesa digna desse nome.
O encaixe das peças no meio-campo pode justificar o equilíbrio mas não o mau futebol. Com Fernando Aguiar de olho em Dinda e os pares Bino/Andersson e Wênio/Tiago a vigiarem-se mutuamente, restava a velocidade dos alas ou a inspiração dos mais dotados tecnicamente para fazer a diferença. Uma hipótese meramente académica, já que não houve um rasgo de quem quer que fosse para animar as bancadas.
O Marítimo dispôs-se num 4x2x3x1 em que Wênio e Bino eram os médios de contenção e Dinda, mais à frente, aquele que funcionava entre Alan e Danny e no apoio a Gaúcho. Respondeu o Benfica no 4x3x3 das últimas actuações, mas ontem com Fernando Aguiar no vértice defensivo do triângulo e Andersson e Tiago mais adiantados. Desligada, sem lograr construir uma jogada, a turma da Luz ouviu vários gritos do seu treinador, mas as indicações (e os ralhetes) também de nada valeram. Camacho resolveu, depois dos 30', fazer adiantar Tiago (no papel de Zahovic), invertendo o triângulo. Foi por esta altura que perdeu Geovanni, tocado, e Alex, que o substituiu, levou uma eternidade até "aquecer".
Mais Marítimo
O espectáculo melhorou ligeiramente, após o intervalo, com o Marítimo a ditar leis. Embora intermitente, a acção de Danny e Bino, mais a velocidade de Alan e a disponibilidade dos laterais (Ezequias em destaque) contribuíram para um ascendente que acabou por ser coroado com o golo do pé canhão Dinda.
A tarefa dos ilhéus foi facilitada pela já citada apatia dos benfiquistas, exímios a perder bolas, numa clara demonstração de falta de atitude ou, então, de classe. Como pior não podia ser, a entrada de Roger (a única alteração não forçada) serviu, sobretudo, para o Benfica ter mais tempo a bola nos pés.
Ao invés, a opção Chainho, no Marítimo, redundou numa aposta falhada. Cresceu o adversário, modificou processos e empertigou-se. Não muito mas o suficiente para empatar, obra de Simão com a ajuda de Fernando Aguiar.
Emoção
Os derradeiros dez minutos, por mais estranho que pareça, causaram emoção. As duas equipas procuraram a vitória, a toada tornou-se viva, de parada e resposta, e Sokota, primeiro, e Bino, depois, tiveram hipóteses de alterar o marcador. Algo que até então, registe-se, nunca sucedera: a partida arrastara-se sem anotarmos qualquer lance de perigo.
O empate não serviu as pretensões de Marítimo e Benfica mas serviu para aumentar a dor de cabeça de Camacho.
Árbitro
Mário Mendes (3). A actuação do árbitro foi muito contestada por Manuel Cajuda e em várias situações com razão, porque Mário Mendes assinalou diversas faltas com dualidade de critérios e a beneficiarem o Benfica. Também marcou faltas que não existiram e vice-versa, mas em termos gerais não se pode falar em juízos que tenham influenciado o resultado. Até porque não houve lances polémicos. À altura do empate...
Siga-nos no Facebook e no Twitter.