Se Camacho pudesse escolher os adversários a seguir à derrota com o Beira-Mar na Luz, para "curar" as "feridas" e restaurar os níveis de confiança, dificilmente faria melhor opção que o Molde e o Alverca. As eventuais sequelas psicológicas da derrota com o Beira-Mar já lá vão - ontem, foi um "fartar vilanagem", quer pelo que o Benfica jogou quer pelo número de oportunidades de golo desperdiçadas. Com efeito, os encarnados poderiam e deveriam ter saído de Alverca com uma goleada histórica e este é o único aspecto que deve ter deixado Camacho um pouco preocupado. O Benfica continua a sentir grandes dificuldades em materializar o fluxo de jogo que cria. Por incrível que pareça, só a um quarto de hora do fim é que "matou" o jogo, quando o podia ter feito mesmo antes do intervalo. O jogo devia ter ficado resolvido logo na 1ª parte.
Do ponto de vista colectivo, o Benfica fez uma excelente exibição, segura e concentrada do ponto de vista defensivo, ao contrário do que tem sido habitual, dinâmica e criativa do ponto de vista ofensivo. A equipa abordou o jogo de forma muito positiva, determinada em assumir o comando das operações e em resolver a questão o mais cedo possível. E cedo se percebeu, face à postura táctica do adversário, que seria apenas uma questão de tempo.
Peito aberto
José Couceiro afirmou durante a semana que ia jogar para ganhar. Até aqui nada de original. O problema é que Couceiro quis jogar com o Benfica de "peito aberto", tendo jogadores de qualidade individual muito inferiores aos do Benfica. O que ele fez foi um "hara-kiri". Pôs a equipa, num acesso de lirismo cândido, a jogar num 4x3x3 longo, em setenta metros do campo, concedendo espaços ao Benfica que se revelaram fatais. Ou seja, quando a equipa perdia a posse de bola - o que acontecia rapidamente porque a sua linha média não era capaz de a fazer circular - não só não pressionava como defendia com poucos homens atrás da linha da bola. Os seus três homens na frente não recuavam, para fixar a defesa encarnada, e os médios eram de um laxismo confrangedor na marcação a Tiago e Zahovic, que deviam estar a ser marcados por Zé Roberto e Torrão. Foi justamente no meio-campo que o Benfica tomou literalmente conta do jogo. Tiago era um "pássaro à solta", Zahovic idem aspas, mudando constantemente de posições e provocando constantes situações de superioridade numérica e desequilíbrio. O Alverca parecia uma "carruagem de mercadorias", tal a dispersão da equipa em campo, deixando espaços para jogadores do talento de Tiago, Zahovic, Geovanni e Simão manobrarem. A equipa atacava com cinco/seis homens e quando perdia a bola defendia com outros cinco ou seis. Ora, isto é absolutamente suicida. Aliás, desafio Couceiro a apresentar a mesma estratégia quando o FC Porto se deslocar a Alverca. Se o fizer, uma coisa é certa: a equipa será goleada por números históricos.
O lateral-esquerdo Ruteski, que fez a sua estreia esta época, coitado, andou em "palpos-de-aranha" sem acertar com o tempo de entrada aos lances face a Geovanni. Foi pelo seu lado que o Benfica chegou ao primeiro golo, logo aos 13", numa combinação entre Geovanni e Tiago (Zé Roberto e Torrão estavam a "dormir"?), e desbobinou muitas jogadas que poderiam ter acabado em golo.
Porque razão nenhum dos centrais do Alverca acompanhava Nuno Gomes quando este recuava para receber a bola de costas? O ponta-de- -lança do Benfica tinha tempo para tudo, para fazer a rotação, para arrancar em direcção à área ou abrir nas faixas laterais para Geovanni e Simão, sempre sem oposição. Já não seu usa, muito menos ao nível da SuperLiga. O que valeu ao Alverca é que Nuno Gomes tem tendência para tabelar, não tem a baliza nos olhos, não é um "matador", caso contrário Yannick teria ido mais vezes buscar a bola ao fundo das redes.
A sensação que transparecia era a de que o segundo golo do Benfica estava sempre iminente, tal a facilidade com que os seus jogadores penetravam nas linhas defensivas do Alverca. Falta realmente um "matador" ao Benfica, mas jogadores como Geovanni, Simão, Zahovic têm de assumir, também, responsabilidades em termos de maior eficácia na finalização.
Depois do Alverca inacreditavelmente ter chegado ao intervalo a perder apenas por um golo, José Couceiro nada mudou. Estava tudo "OK". Perdido por um, perdido por mil, o seu Alverquinha ia até ao fim naquela sua ideia megalómana de afrontar o Benfica olhos nos olhos. Quem nada mexeu foi Camacho, claro. O jogo estava perfeito, só faltavam mesmo os golos, que inevitavelmente iriam surgir. A surpresa foi terem acontecido só no último quarto de hora.
A subir
Seja como for, este jogo permitiu constatar a subida de forma de alguns jogadores importantes, como Tiago e Geovanni, cujo sub-rendimento era algo de surpreendente e estranho, tendo em conta a sua produtividade a época passada e a sua qualidade individual. Por outro lado, a defesa revelou maior consistência e não sofreu nenhum golo de bola parada porque esteve mais concentrada. Confirmou, também, que a passagem de Ricardo Rocha para o eixo confere outra solidez ao sector, por ser um jogador mais rápido e com maior poder de choque. Uma palavra para Zahovic, pelo espírito de sacrifício e de equipa que evidenciou.
Árbitro
PAULO PARATY (1). Cometeu dois erros importantes, ambos na 2ª parte. Aos 70', Nuno Gomes foi carregado por Amoreirinha à entrada da área, mas Paulo Paraty não sancionou o lance em conformidade. Se o tivesse feito, para além do respectivo livre directo, teria de expulsar Amoreirinha, o infractor, por acumulação de amarelos. Mas o erro mais grosseiro coincidiu com o segundo tento do Benfica, a um quarto de hora do fim, ao deixar passar em claro a posição irregular de Nuno Gomes, que executou o primeiro remate que esteve na origem do golo de Geovanni. Aliás, o seu auxiliar levantou a bandeirola.
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