O leão "afogou-se" há duas semanas neste Rio, a águia esteve quase a ter a mesma sorte, viu-se aflita na luta contra a "corrente", esbracejou, debateu-se, mas conseguiu chegar à margem, exausta, mas sem se "afogar".
O Rio Ave confirmou que é uma equipa bem organizada, compacta, com alguns jogadores claramente acima do valor médio de uma equipa que ambiciona a manutenção e, sobretudo, com um sistema de jogo que se adequa às características desses jogadores.
O Benfica procurou impor o seu jogo, mas voltou a evidenciar uma pecha que não é de agora: falta-lhe capacidade de remate no último terço do campo, situação que se agravou com a ausência de Sokota. E o Rio Ave não só encaixou muito bem no sistema de jogo encarnado em termos de organização defensiva, como demonstrou sempre capacidade para sair para o ataque.
Sem contundência
O jogo foi vivo, repartido, teve profundidade, lances de perigo junto das duas grandes áreas, mais junto da de Moreira do que de Mora. O Benfica fazia uma boa circulação de bola até à entrada da área, mas depois faltava contundência no último terço do campo.
Os dois laterais (Miguel e sobretudo Fyssas, que 'estoiro' deu o grego na 2ª parte) estavam condicionados porque Carlos Brito jogou sempre com dois homens abertos nas alas, ora Evandro, ora Jacques, ora Paulo Jorge.
No meio-campo, à falta de discernimento de Aguiar, juntava-se o défice de ritmo de Zahovic, que passa sempre bem a bola, mas não tem dinâmica para surgir nos espaços vazios a tentar finalizar. Acresce, ainda, que Nuno Gomes, desapoiado, não faz o que Sokota faz de costas para a baliza, tem muito mais dificuldade em segurar a bola e permitir a subida dos médios, jogando com eles. Donde, o perigo para o Rio Ave vinha, sobretudo, de Simão, pelas dificuldades que criou na 1ª parte a Zé Gomes.
Havia ainda as diagonais de Tiago, mas Carlos Brito sabia da ameaça que representavam e Niquinha e Mozer fizeram um bom trabalho de cobertura, revezando-se nessa tarefa, já que Zahovic, muito mais estático, suscitava menos preocupação. Mas pior que o esloveno esteve Geovanni, sem "nervo" e sem inspiração, o que limitou a opções ofensivas.
Neste contexto, não surpreendeu que o Benfica, apesar da dinâmica que o jogo adquiriu, e dos lances junto das duas áreas, o máximo que conseguiu, verdadeiramente, foi um lance em que Tiago apanhou a defesa de Vila do Conde em contrapé e lançou Geovanni, e mesmo à beira do intervalo, um remate de Hélder à figura de Mora.
O Rio Ave praticava um futebol mais directo, no qual revela uma boa rotina, procurando sempre pôr a bola no chão e sair a jogar, explorando a velocidade e o dinamismo dos seu trio atacante, em particular Paulo César e Evandro. Além disso, são jogadores tecnicamente evoluídos, que seguram bem a bola e criam problemas a qualquer defesa. Aos 15' e aos 26', Niquinha e Evandro estiveram à beira de marcar, mas o remate saiu-lhes ligeiramente por alto.
O jogo estava equilibrado, vivo, emotivo. Prometia. Na 2ª parte, o Rio Ave chegou cedo ao golo e obrigou Camacho a apressar o que já lhe iria em mente: tirar os dois jogadores de menor rendimento em termos ofensivos, Zahovic e Geovanni para insuflar "sangue novo" com as entradas dos putos João Pereira e Manuel Fernandes.
Estoiro do Benfica
Houve uma reacção imediata e enérgica do Benfica. Houve um período de dez minutos em que a equipa encostou o Rio Ave lá atrás, pressionou mais, imprimiu maior velocidade às trocas de bola. Cinco minutos depois do 1-0, Tiago restabeleceu o empate e o Benfica parecia relançado para dar a volta ao jogo.
Mas foi sensação pouco duradoiro, porque a equipa quebrou fisicamente nos últimos vinte minutos, apesar das entradas de João Pereira e Manuel Fernandes. Houve vários "estoiros" que se ouviram ali perto, na Póvoa de Varzim, o mais gritante deles o de Fyssas. Não podia com uma "gata pelo rabo", de tal modo que Camacho se viu obrigado a substituí-lo a poucos minutos do fim por Armando, face à ameaça da entrada de Gama. Mas houve mais, Simão, Tiago... a quebra foi quase geral, embora alguns casos fossem mais evidentes que outros.
Quem soube aproveitar foi o Rio Ave, que foi para cima do Benfica no último quarto de hora. A equipa estava claramente mais fresca e obrigou o Benfica a defender junto à sua área e a terminar o jogo com o credo na boca.
Árbitro
Paulo Paraty (2). Cometeu dois erros importantes, ao deixar passar em claro dois lances faltosos, aos 65' e 67', de Hélder sobre Paulo César e de Manuel Fernandes sobre Jaime, ambos quase sobre a linha da grande área. Aos 59' resolveu dar a Lei da vantagem quando Nuno Gomes foi carregado por Danielson. O Benfica viu-se privado de um livre susceptível de resultar em golo.
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