A verdade é que o Benfica teve de sofrer muito para assegurar os três pontos da ordem, talvez mais do que o previsto, pois de uma forma geral não apresentou os argumentos convincentes. A sua equipa atacou o jogo com razoável intensidade, é verdade, jogou quase sempre para ganhar, e tudo fez para o conseguir (como acabou por se verificar), mas na altura de liquidar, por completo, o seu adversário - primeiros vinte minutos da segunda parte, e quando se encontrava a vencer por 1-0 - falhou no alvo. Ou melhor: Tiago obrigou (47') Paulo Jorge a espectacular defesa, e dez minutos depois Nuno Gomes, na cara do guarda-redes, não conseguiu enganá-lo.
A vitória, tangencial e sofrida do Benfica, deve ser igualmente explicada pela óptima réplica dada pelo Gil Vicente. A sua equipa nunca se rendeu e tudo fez para contrariar os melhores argumentos contrários. Os atletas de Barcelos nunca se entregaram, raramente apresentaram dúvidas ou hesitações, e o golo de Geovanni (30') contribuiu apenas para que reforçassem o seu ânimo. Boa atitude, portanto.
Bom volume
Já que se fala de atitude, realce-se desde já que esse foi, sem dúvida, o principal trunfo colocado em campo pelos atletas de Camacho. O Benfica foi superior ao seu adversário nesse capítulo, e assim se explica também e sobretudo esta vitória difícil e conseguida com grande esforço.
Desde o início, e de um lado e do outro, houve critério e principalmente atrevimento. Cada um dos atletas soube o que fazer em cada momento do jogo, entregando-se aos duelos particulares com a máxima dedicação, e todos souberam jogar de peito aberto, contribuindo, desse modo, para um espectáculo digno, interessante e vivo.
Compreensivelmente, os jogadores do Benfica procuraram resolver logo de entrada o jogo, recorrendo com frequência aos flancos - sobretudo o direito, através de Armando e Geovanni, já que Fyssas deixou Simão quase sempre sem companhia para os consequentes desequilíbrios - mas o estilo apresentado foi quase sempre o mesmo, ou seja, cruzamentos constantes para a área, à espera que Nuno Gomes (sem êxito) conseguisse provocar estragos na defesa gilista.
Essa situação só foi notória, no entanto, a partir dos 20', quando o seu meio-campo conseguiu libertar-se das fortes e atentas marcações do adversário que, acresecente-se, privilegiou o homem-a-homem como solução mais segura para travar a contra-ofensiva encarnada. Qual foi então a estratégia apresentada? Simples: o Benfica impôs maior velocidade no seu futebol, ou melhor, a transição defesa-ataque surgiu de uma forma mais rápida e sobretudo mais firme, sempre pelo lado direito, e a partir daquela altura com muito mais perigo. Geovanni fez o golo (30') e depois de uma óptima iniciativa de Armando. Tudo ficou menos complicado, é certo, mas o Gil Vicente, como já foi dito, nunca se rendeu, e tudo fez para sair da situação de desvantagem, numa atitude louvável e que se prolongou até ao fim do encontro.
Perdidas
A segunda parte arrancou com duas grandes perdidas do ataque lisboeta - Tiago (47') e Nuno Gomes (57') tiveram a oportunidade de arrumar com a questão do resultado, mas Paulo Jorge por duas vezes - e principalmente na primeira delas - devolveu a esperança à equipa. Um forte incentivo que foi devidamente aproveitado por Braima que, aos 66', empatou o jogo, e numa fase em que a qualidade do espectáculo decrescia.
A partir daqui, o Benfica colocou em campo um outro argumento que acabou por ser determinante para a vitória final, ou seja, os seus atletas confirmaram que a motivação deve ser levada quanto possível, e de preferência a 100 por cento, seja o adversário o Gil Vicente ou o Inter de Milão. O principal intérprete dessa revolta, digamos assim, foi Manuel Fernandes que, nove minutos depois de ter entrado, desfez o empate. Um passe de Simão, depois de ter recuperado uma bola perdida por Luís Loureiro, contribuiu para que o jovem atleta entregasse os três pontos à sua equipa.
Uma vitória que se aceita e se justifica, sem dúvida, e conseguida com grande sofrimento; faltou impulso criativo à equipa de José Antonio Camacho, ontem à noite, mas todos souberam compensar essa situação com a consistência. E se juntarmos a aplicação e a disponibilidade de todos, assim fica explicada a vitória, garantida num momento fundamental da vida deste centenário clube que, quinta-feira próxima, entra em campo com o ânimo reforçado. Tem razões para isso.
Árbitro
BRUNO PAIXÃO (3). Um trabalho com dois reparos apenas: Hélder e Ferreira II agarram-se aos 34'. Quem agarra primeiro? Se é Hélder, é "penalty". Se é Ferreira II, o árbitro decidiu bem, ou seja, marcou falta contra o Gil Vicente. Um outro lance: Gaspar (52') travou em falta, na zona frontal, próximo da área, Geovanni. O cartão vermelho ficou por mostrar. O defesa só levou amarelo. Mal.
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