Benfica-Belenenses, 3-3: Balde de água gelada que... pode constipar
Os poucos benfiquistas que se deslocaram ao Estádio Nacional, crentes de que iriam ver a sua equipa ganhar moral para o grande embate das Antas, na próxima ronda, não sabem onde irão, eles próprios, encontrar fé para acreditar num resultado positivo frente ao FC Porto.
Não é todos os dias que se vê uma equipa desperdiçar vantagem de dois golos já nos descontos, sobretudo se essa vantagem acabara de crescer a escassos três minutos dos 90. Um balde de água gelada que pode... constipar.
O Benfica perdeu (mais) dois pontos pela forma algo displicente como encarou a ponta final do jogo, revelando um "facilitismo" que Camacho foi capaz de combater, apesar de ter recorrido ao capitão Hélder que, imagine-se, esteve meia dúzia de minutos em campo e "sofreu" dois golos.
O empate do Belenenses surpreende bastante, na medida em que a equipa não foi particularmente ambiciosa nem acertiva durante mais de uma hora, permitindo ao Benfica um avanço (feliz, mas...) merecido de 2-0.
Colocado perante a contigência de ter que anular dois ponta-de-lança (Sokota e Fehér), Manuel José recuou o jovem Eliseu para lateral-esquerdo, entregando a marcação directa a Fehér a Carlos Fernandes. Em verdade, a coisa só corria mal quando surgiam os contra-ataques encarnados, pois o avanço de Eliseu deixava "pasto" para João Pereira. E, face ao desacerto da linha média - com Neca em "destaque" -, as situações de algum apuro sucederam-se.
No entanto, foi preciso Wilson errar para o Benfica abrir o activo, quase à passagem da meia hora. Um castigo justo para quem não conseguia encontrar forma mais engenhosa do que uns pontapés compridos para o meio da defesa adversária, tentando tirar partido de alguma eventual falta de entrosamento entre os centrais (estreia de Luisão). As pouquíssimas jogadas de ataque estruturado não foram além de frouxos remates de longe.
Ouro sobre azul
A substituição (por lesão) de Petit por Andersson não teve grande influência no desenrolar do jogo mas foi depois do intervalo que o Benfica conseguiu imprimir um pouco mais de vivacidade. O segundo golo nasceu de uma assistência inteligente de Sokota, numa fase em que os alas começaram a mostrar algum desgaste e, certamente, Camacho terá dado indicações para se tirar mais proveito do fosso que o Belenenses não conseguia evitar entre o bloco defensivo e os homens que ficavam à espreita do contra-ataque.
Ao (praticamente) iniciar a segunda parte consolidando a vantagem, Camacho não sentiu grande pressão e deve mesmo ter chegado a pensar que aquele futebol chegava e sobrava. Aliás, apesar dos ameaços - Antchouet libertou-se de Argel e driblou Moreira, salvando Ricardo Rocha (71'); e o mesmo Ricardo Rocha opôs-se ao remate fatal de Valdiran no minuto seguinte -, o técnico do Benfica considerou que podia prescindir da unidade de melhor rendimento (Sokota), poupando-o para o jogo com o FC Porto e dando uma oportunidade a Roger.
Olho de 'Manel'
Correu mal. Roger foi inconsequente e, para agravar, do outro lado estava o arguto Manuel José a puxar dos seus trunfos. Depois de trocar os unidades de menor rendimento (Neca e Rui Borges) por Valdiran e Leonardo - curiosamente o autor do golo do empate -, o técnico do Belenenses deu a "machadada" com a chamada de Verona, prescindindo do também cada vez menos útil Marco Paulo.
A um quarto de hora do fim, o Belenenses ganhou o controlo do jogo, sem que se vislumbrasse capacidade ao Benfica para estancar as hemorragias que surgiam um pouco por todos os lados.
Um cruzamento parado com a mão de Tiago quando uma linha de três azuis surgia para fazer a emenda, assegurou o "penalty" da crença azul. Contra a corrente do jogo nesta fase final, o Benfica ainda conseguiu elevar a vantagem, na sequência de um canto e poucos acreditariam que o triunfo iria fugir aos encarnados. Mas fugiu. Com dois golos nos descontos de tempo. O primeiro, devido à liberdade que deram a Sané (e, claro, ao acerto do remate) e, o segundo, à custa do desnorte que se instalou na defesa ainda antes da entrada de Hélder.
Que defesa?
Em vésperas da ida às Antas, não podia haver desfecho mais desmoralizador. Depois de dois jogos sem sofrer golos, o Benfica encaixa três no dia em que estreia Luisão, o homem contratado para liderar o sector.
Curiosamente, o brasileiro teve uma actuação positiva. Inclusivamente, marcou um golo. E, desde os primeiros instantes, ganhou a simpatia dos adeptos encarnados, com intervenções serenas e autoritárias, simples e eficazes. Como explicar que o resultado da entrada de uma mais-valia na defesa resulta pior? É esse o grande enigma para Camacho meditar e resolver para as aspirações do Benfica não ficarem comprometidas logo à quinta jornada.
Duarte Gomes (4). O jogo arrancou com um lance em que a televisão parece condenar a decisão do árbitro (assinalou fora-de-jogo a Fehér), mas a verdade é que só um iluminado poderia ter decidido com certeza absoluta. Não havendo direito a repetições, a não validação do golo é tão aceitável como o inverso. No mais, o juiz lisboeta demostrou estar em forma, decidindo sempre em cima dos lances e aplicando os cartões de forma correcta.
Não contemplou com os ameaços de indisciplina e isso foi fundamental para a autoridade que conseguiu manter em todas as situações. Apesar de ter mostrado cinco vezes o cartão amarelo, não se pode dizer que tenha tido mão pesada: mostrou quando foi obrigado a isso. E, "the last but not the least", soube atender aos auxiliares. Só por isso é que houve "penalty" contra o Benfica.
Siga-nos no Facebook e no Twitter.