V. Guimarães-Benfica, 0-1: Orgulho salvou o jogo... Sorte ditou o vencedor
Um final dramático, como há muito não se via num relvado português, colocou os factores no lugar: a vida é muito mais importante do que perder ou ganhar; o futebol é apenas um jogo insignificante comparado com a desgraça que pode bater à porta em qualquer momento.
Instantes depois do golo que deu três pontos ao Benfica e roubou um ao V. Guimarães, Fehér caiu inanimado, suscitando clima de pânico generalizado dentro das quatro linhas, incompreensível e assustador para quem estava nas bancadas.
Os minutos que se seguiram apagaram da memória as incidências de hora e meia e, no fim, na curta viagem para as cabinas, as lágrimas sobrepuseram-se aos efeitos de um resultado desportivo que as circunstâncias tornaram absolutamente insignificante.
É, por consequência, um exercício doloroso para o jornalista escrever esta crónica, até porque ao fim de alguns minutos a notícia que saiu do Hospital de Guimarães foi a mais estúpida: Fehér falecera. Depois disso, tudo o resto deixa de importar. Ou, pelo menos, devia deixar.
Orgulho
Foi o orgulho ferido por 45' desinteressantes, jogado aos repelões, sem qualquer sentido prático na procura do golo, que levou o Benfica a lutar verdadeiramente pela vitória. Foi o modo como tomou a iniciativa e se estendeu no relvado que devolveu a emoção a um jogo que, até ao intervalo, não teve ponta de interesse. O último quarto de hora, então, foi um acumular de tensões e erros de parte a parte, que anunciaram o perigo em cada uma das balizas.
Com o relvado cada vez mais pesado, os dois treinadores apostaram num tipo de jogo directo - não por acaso, o Vitória acabou com Romeu e João Tomás e o Benfica com Sokota e Fehér. O golo espreitou nas duas balizas mas foi a sorte encarnada, desmentida logo a seguir com a tragédia que afectou o húngaro, a sentenciar o vencedor.
Transição
Com Zahovic no lugar de Nuno Gomes, ou seja, com mais uma unidade para levar a bola e ajudar na luta do meio-campo, o Benfica viveu em permanente equívoco durante a primeira parte. O V. Guimarães ganhou ascendente por vários motivos: venceu a luta do miolo - Petit esteve sozinho numa zona em que os adversários venceram os duelos individuais; anulou João Pereira e Simão em termos ofensivos e obrigou-os a a recuar; transformou Sokota num atacante condenado ao fracasso.
Com jogadores aptos a explorar a transição da defesa para o ataque, os encarnados nunca o fizeram a preceito. Defenderam no limite do erro, muitas vezes com o coração nas mãos e só levaram perigo à baliza de Palatsi em acções de ataque continuado ou em lances de bola parada - cantos e livres de zona lateral.
Resignados
Se o 4x3x3 de Jorge Jesus estava desenhado na perfeição, o de Camacho cedo se transformou num 4x1x4x1. E isto porque Tiago e Zahovic, por força da pressão vimaranense, tiveram de recuar, formando uma linha a toda a largura do terreno com João Pereira e Simão. Petit estava atrás, Sokota à frente e todos se mostraram muito desarticulados.
O problema dessa fase benfiquista foi a forma resignada como os jogadores se entregaram à desinspiração e às marcações adversárias. E parecia claro que ou as coisas mudavam ao intervalo ou o V. Guimarães continuaria mais perto da vitória e o espectador não poderia aspirar a mais do que o bocejo de uma noite de chuva, com muito pouco futebol para oferecer.
Só depois do intervalo foi possível conjugar a vontade de ambos em ganhar. Vieram também os erros que criaram a emoção e os factores aleatórios que deram a vitória a uns e a derrota a outros, já passava dos 90'. Pouco depois, a euforia e a tristeza uniram-se no pranto da tragédia.
Árbitro
OLEGÁRIO BENQUERENÇA (4). Um jogo difícil, pelo estado do terreno e pelo natural ímpeto dos jogadores. Discerniu bem as infracções nos sucessivos choques durante a hora e meia (esteve sempre muito perto dos lances) e foi moderado nas acções disciplinares (evitou ao máximo a mostragem do amarelo). Teve o bom senso de acabar o jogo imediatamente a seguir à reposição da bola após a saída de Fehér.
Siga-nos no Facebook e no Twitter.