As seleções de França e de Portugal voltam a defrontar-se amanhã, e a verdade é que a equipa das quinas não tem boas recordações dos duelos anteriores – perdemos 16 dos 22 confrontos, alguns de forma bem dolorosa. Mas, ainda assim, parece que os gauleses têm razões de queixa dos portugueses. Humilhados no ranking da UEFA, no qual se viram ultrapassados em 2012/13, sendo relegados para o 6.º lugar – chegaram mesmo a ocupar a 7.ª posição no início desta época após serem superados momentaneamente pela Rússia –, contra o 5.º posto de Portugal, que já esteve mesmo em 4.º.
Esse facto confirma o acentuar do declínio económico e desportivo do campeonato francês, colocando mesmo em causa toda a organização do futebol local. Até o insuspeito “L’Équipe” assume isso sem rodeios, lançando ontem a questão: “Como salvar a Ligue 1?”. E avança com a resposta, propondo mudanças radicais, tal como reduzir a elite da prova a dez clubes, instaurar os quatro pontos por vitória e abrir os clubes aos sócios, permitindo a participação destes no capital.
A fuga dos melhores jogadores – sobretudo para Inglaterra – é outra consequência dos problemas económicos da maioria dos clubes, aos quais nem o Paris SG ou, sobretudo, o Monaco escapam. Mas se estar atrás de Espanha, Inglaterra, Itália e Alemanha acaba por não ser difícil de engolir, pior é ver o êxito dos portugueses na Europa, apesar de também serem salientadas as dificuldades, particularmente financeiras, dos clubes nacionais.
Reação tardia
Roland Courbis, atual treinador do Montpellier e sempre muito incisivo na manifestação das suas opiniões, não deixou dúvidas quanto ao que vê no horizonte. “Tenho a impressão que estamos a acordar, não soubemos antecipar. Tivemos alguma tosse, depois fomos ao hospital e agora estamos a caminho do cemitério. Deveríamos ter reagido quando tínhamos apenas alguma tosse, certo?”, referiu o técnico, criticando os dirigentes franceses mas lembrando as vantagens dos clubes portugueses, sobretudo o recurso a fundos para a contratação de jogadores.
DEZ PROPOSTAS PARA A MUDANÇA *
1 - Ligue 1 só com 10 clubes. Os 20 atuais seriam divididos em duas séries, com os melhores numa delas. A competição passaria a ter quatro voltas.
2 - Vitória a valer 4 pontos. A ideia seria estimular o jogo ofensivo, face ao jogo tático e defensivo da maioria das equipas.
3 - Flexibilidade da DNCG. A Direção Nacional de Controlo de Gestão é muito rigorosa na análise aos défices dos clubes.
4 - Limitar os salários. Cada clube definiria um máximo a pagar aos jogadores, proporcional ao respetivos orçamentos, reduzindo assim os riscos de incumprimento.
5 - Importar o “Boxing Day”. Passar a jogar no período do Natal, acabando com a pausa habitual. Além disso, passaria a haver encontros ao meio-dia.
6 - Árbitros estrangeiros. Procurar um intercâmbio com outras federações, trazendo juízes de outros países para a Ligue 1.
7 - Melhorar os estádios. Transformar os recintos em locais de espetáculo, tal como já acontece em Inglaterra e na Alemanha.
8 - Sistema de sócios. Tradicional em Espanha e também em Portugal, apenas St. Étienne, Bordéus e Nantes adotaram esquemas semelhantes em França.
9 - Prova para as reservas. As equipas B dos clubes franceses disputam atualmente o 4.º e 5.º escalões e passariam a ter um campeonato próprio.
10 - Mais treinadores estrangeiros. Marcelo Bielsa e Leonardo Jardim são os únicos exemplos atuais e são pedidos mais técnicos com nome feito.
* Divulgadas ontem pelo “L'Équipe”
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