Nyon – Um dia depois de um doce, que saboreou não como sobremesa, mas para abrir o apetite, o Benfica teve no prato um osso dificílimo de roer chamado Bastia, prova de que, nesta altura, músculo e pulmão, ou a ausência deles, são factores pouco menos que determinantes no funcionamento de uma equipa. A tarde de quarta-feira pode mesmo ainda vir a ser recordada daqui por alguns meses como importante para o futuro imediato dos encarnados: sofreram muito; tiveram alguma sorte; foram obrigados a recorrer a um espírito de entreajuda notável; sendo equipa nova, os jogadores agiram, sempre em esforço, como se jogassem juntos há muito tempo, coisas básicas, dirão os teóricos, mas que nem sempre são fáceis de encontrar. E, já agora, os encarnados acompanharam tudo com uma vitória, o que nestas coisas costuma ser apresentado como o menos importante, mas que não raras vezes determina o grau de influência de um momento como o de ontem no futuro mais ou menos longínquo.
Fica assim confirmado que, ao contrário dos testes de escola, que têm um limite de avaliação, no futebol não existe escala. O Benfica deu 13 ao Gland e teve pela frente um exercício de coeficiente de dificuldade mínimo, espécie de prova da 1ª classe para quem já estuda a pensar no exame de acesso à universidade. O Bastia, oitavo classificado do campeonato francês da época passada, que está mais adiantado na preparação – tanto que já passou até pela desilusão de ter sido afastado da Taça Intertoto –, tornou-se claramente um adversário exigente demais para a capacidade de resposta actual de um Benfica que, a menos de um mês do início da I Liga, nem tem o plantel fechado.
Toni terá ficado contente com o que viu e mesmo que tenha torcido o nariz a muitas coisas nunca o tornará público. A equipa sofreu perante um adversário que joga menos e tem piores executantes, mas que correu mais durante mais tempo.
À excepção do primeiro quarto de hora, em que a motivação proporcionada por ambiente espectacular e o entusiasmo de um golo, empurraram o onze português para níveis técnicos, de dinâmica e ritmo aos quais nem sequer era suposto pensar, tudo o resto foi cerrar os dentes e jogar no limite das possibilidades. Tudo perante um Bastia que demorou a recompor-se da meia dúzia de socos que levou, pela arte de Mantorras, Zahovic e Drulovic.
Quando esgotou o arsenal de forças armazenadas em cerca de quinze dias de trabalho, o Benfica encolheu-se e recuou no terreno, não porque tenha sido essa a sua opção, mas porque o adversário a isso obrigou. Foi então a hora de unir as tropas, sob o comando de Meira, que no primeiro dia a doer soube dar o exemplo e ser a voz de comando sempre necessária, até porque Andersson, seu parceiro do lado, foi uma sombra de si próprio.
A partida aqueceu muito a partir de certa altura e chegou a ser escaldante em determinadas fases. Feio como espectáculo, mas importante pelo teste à solidariedade da equipa, ao seu instinto de defesa perante as dificuldades, tudo para permitir do exterior a conclusão de que os seus elementos revelaram a solidariedade sem a qual não se fazem as grandes equipas.
Nos momentos de picardia os jogadores estiveram juntos; nos momentos mais desanuviados ninguém se sentiu afastado; a partir de certa altura cada um, individualmente, pensou que o mais importante era evitar o empate. Muito mais que fazerem o seu número.
Siga-nos no Facebook e no Twitter.