No passado dia 31 de outubro de 2014, na Sala do Teto Bonito, e no âmbito do programa “Back to School”, da iniciativa da Comissão Europeia, o Instituto de Odivelas (IO), recebeu algumas antigas alunas do IO que deram o seu testemunho sobre o trabalho que desempenham nas instituições da União Europeia, descrevendo as suas experiências profissionais bem como o seu percurso pessoal e académico que passou também pelas carteiras das salas de aula do IO.
O programa “Back to School” tem como objetivo convidar funcionários portugueses das instituições europeias a visitar as suas antigas escolas contribuindo para a divulgação da cultura, das oportunidades e das especificidades do trabalho na União Europeia. Assistiram à palestra as alunas do 9.º ano e do 12.,º ano, acompanhadas pelos respetivos professores.
As antigas alunas presentes na ocasião foram as seguintes:
- Angela Athayde, N.º 252/1966, licenciatura em Direito e Relações Internacionais, Universidade de Genebra, Suíça;
- Isabel Maria Pratt, N.º 116/1970, diploma de Secretariado e Relações Públicas, Instituto Superior de Línguas e Administração, Lisboa;
- Alexandra Athayde, N.º 251/1977, licenciatura em Economia, Universidade Nova de Lisboa;
- Rita Nogueira Ramos, N.º 188/1977, licenciatura em Direito, Universidade Clássica de Lisboa;
- Anabela Pereira, N.º 174/1971, licenciatura em Engenharia do Ambiente, Universidade Nova de Lisboa.
As antigas alunas fizeram uma apresentação sobre o trabalho que desenvolvem nas respetivas áreas de trabalho na Comissão Europeia, nomeadamente na Direção Geral da Tradução e da Direção Geral do Alargamento.
As antigas alunas recordaram, ainda, a sua experiência pessoal enquanto alunas do IO e o contributo desta escola para a sua educação e formação académica. Salientaram as diferenças e as semelhanças entre o seu tempo de alunas e a atualidade e destacaram o regime de internato bem como o currículo do IO como mais-valias fundamentais para a aquisição da autonomia, da segurança, de regras de disciplina, de método, de organização e de trabalho, indispensáveis à confiança pessoal e à prática profissional de cidadãs da Europa e do Mundo. Referiram, também, a cumplicidade e as vivências comuns associadas ao valor da amizade e ao “ser amiga é ser irmã”, lema das antigas alunas.
As antigas alunas e funcionárias na UE ofereceram a todas as alunas um kit com brochuras com informação variada e diversos materiais referentes às instituições europeias. O Instituto agradeceu a sua presença e precioso contributo educativo e ofereceu pequenas lembranças.
Tratou-se de mais um momento de voltar à escola e de encontro de alunas do século XX e de alunas do século XXI, com memórias e vivências tão semelhantes como a de terem, para sempre, à frente da identificação de antiga aluna - AA, um número com um, dois ou três dígitos.
Apresenta-se o texto que a AA Isabel Pratt leu aos presentes e que causou particular impacto junto das atuais alunas do IO:
Muito boa tarde Meninas de Odivelas, Senhores e Senhoras,
O meu nome é Isabel Pratt e fui aluna deste Instituto de 1970 a 1975.
Antes de mais, queria agradecer aos corpos diretivos deste Instituto a oportunidade que me deram de partilhar com todas vós as «marcas» que este estabelecimento deixou em mim e me acompanharam ao longo da vida.
Tive um percurso académico dentro e fora do Instituto e conclui o Curso Superior de Secretariado do ISLA em 1980. Iniciei a minha vida profissional nos quadros do Aeroporto de Lisboa e seguidamente nos quadros da EDP.
Em 1985 estava a ingressar nos quadros do Conselho da União Europeia em Bruxelas. Um ano antes da adesão de Portugal à então chamada CEE, para preparar o Ato de Adesão.
Com a assinatura do Tratado de Lisboa em 2011, o departamento em que me encontrava no Conselho foi transferido para o SEAE. Este novo Serviço Europeu é o equivalente ao Ministério dos Negócios Estrangeiros das estruturas nacionais.
Apesar de estar a viver há mais tempo fora do que dentro de Portugal, os anos passados neste Instituto, foram, sem dúvida, os mais marcantes de toda a minha existência.
Apesar de, na altura, o Instituto me parecer como uma fortaleza, cheia de regras completamente ridículas e fora de moda, tenho de confessar que foram as bases de tudo aquilo que sou hoje.
Para além de ter tido excelentes professoras, os valores de tradição, ordem, rigor e respeito, foram os que mais me marcaram ao longo da minha vida profissional e pessoal.
Podia dar bastantes exemplos a nível profissional mas escolho talvez o mais representativo: Quando foi criado, no seio da estrutura do Conselho da U. E. o embrião do que iria vir a ser mais tarde o Serviço Militar da União Europeia - SMUE – como já fazia parte dessa Direção-Geral, fui imediatamente absorvida por esta unidade. Não sei se foram as minhas qualidades profissionais ou o facto de ter frequentado o Instituto que desenvolveram a minha discrição e amabilidade, mas a verdade é que me senti desde logo à vontade nesta nova unidade. Mais tarde com a transferência do SMUE e dos serviços conexos do Conselho para o SEAE, fui desde logo convidada para chefiar o Serviço encarregue da gestão e distribuição da informação classificada. Nestas funções tive a oportunidade de colaborar, não só com as outras instituições da UE como o Conselho, a Comissão e o Parlamento, mas também, com as 140 delegações da UE espalhadas pelo mundo, assim como com diversas organizações internacionais como a ONU, a NATO e a EUROPOL entre outras. Estou também diariamente em contacto com as variadas missões civis e operações militares da UE no mundo.
A nível pessoal e familiar, o Instituto deixou também bastantes marcas.
Posso começar por dizer que, estou casada há 33 anos com um ex-aluno do Colégio Militar; e isto já diz muita coisa, mas não posso deixar de sublinhar que foram os nossos filhos que mais sentiram diretamente, as marcas do Instituto e do Colégio Militar.
Apesar de terem nascido em Bruxelas e terem sido criados num ambiente multicultural, foram os hábitos e a cultura portuguesa que imperaram. Desde pequenos que sempre se queixaram de muita rigidez da nossa parte, quando insistíamos para que tivessem postura à mesa e não se esquecessem de dobrar o guardanapo no fim da refeição. Mas quando eles protestavam mesmo, era quando insistíamos para que eles descascassem a fruta de faca e garfo, sobretudo a banana.
Felizmente, o ambiente multicultural em que cresceram e estudaram, ajudaram a aceitar os nossos valores e os nossos princípios, que os aproximavam mais dos amiguinhos ingleses e austríacos do que dos espanhóis ou gregos. Nós também sempre tentámos brincar com estas diferenças culturais e tirar o maior partido delas.
Estou plenamente convencida de que no mundo virtual em que eles vivem, estes valores e estes princípios, representam uma mais-valia para o futuro.
Isto foi o que o Instituto me ensinou, agora, o que o Instituto não me ensinou, mas entranhou em mim, foi muito mais profundo e só pode ser compreendido por outras alunas deste Instituto. O que senti quando estive rodeada de paredes carregadas de história, dos claustros, das escadarias, foi como se estivesse mergulhada num museu cheio de histórias para contar. Os meus colegas, colaboradores e amigos, dizem que tenho referências diferentes e que sentem que tudo em mim parece vir de longe.
De facto, sem me perceber, reproduzo os hábitos e o ambiente do Instituto em tudo.
Começo por ser extremamente rigorosa a começar com a minha apresentação tanto em casa como no escritório. Em casa tenho uma gaveta cheia de luvas de várias cores e uma coleção de chapéus impressionante que uso regularmente. A nossa mulher-a-dias já não resmunga e já se habituou à minha rigidez que passa pelo fazer a cama, passar a ferro ou ainda deixar as toalhas da casa de banho alinhadas. Reconheço ser um pouco maníaca na arrumação dos armários e sobretudo quando tenho de pôr a mesa para receber amigos ou convidados. Estou quase com a régua para alinhar os copos e os talheres com os pratos, sem esquecer as cadeiras.
Quando estávamos à procura da nossa casa de férias, acabámos por escolher a casa por causa da tijoleira do chão, porque era parecida com a do Instituto e a do Colégio Militar.
Quando escolhemos a nossa casa de Bruxelas, foi pior ainda, tivemos de encontrar a alma do Instituto e do Colégio Militar. Foi difícil mas lá encontrámos uma casa centenária que nos agradou e que liberta uma atmosfera equivalente. Entrar em nossa casa é quase como entrar num gabinete de curiosidades em que tudo o que nos rodeia está impregnado de história. Esta história, cabe a nós transmiti-la às gerações futuras. É neste quadro, que tentamos dar a conhecer aos nossos amigos e convidados, os verdadeiros valores portugueses através da história, da música e da gastronomia portuguesas. Sentimos, no fundo, a mesma obrigação dos embaixadores, na divulgação dos verdadeiros valores nacionais no estrangeiro.
Não posso finalizar a minha intervenção, sem deixar de lembrar que hoje é também um dia carregado de história. Não porque vieram algumas ex-alunas ao Instituto falar do seu percurso profissional e pessoal, não, é porque hoje, dia 31 de outubro, é o último dia oficial do nosso compatriota Durão Barroso, à cabeça da Comissão Europeia. Tenho a certeza de que, tanto ele, como eu, na vossa idade, estávamos longe de pensar nas oportunidades que nos iriam surgir e que abraçámos para representar Portugal e os valores portugueses na Europa e no Mundo.
Para todas vós, meninas de Odivelas, a minha última palavra será, explorem, tentem experiências novas, explorem o desconhecido e BOA SORTE!
Muito obrigada.