TV GLOBO

Daniel Castro

05/04/2005 na edição 323

"O sucesso de ‘Da Cor do Pecado’, do estreante João Emanuel Carneiro, estimulou a Globo a lançar uma nova autora para a faixa das 19h. A escolhida foi Andrea Maltarolli, 40, ex-’Malhação’. Ela já entra para o time de teledramaturgos da Globo (escritores de ‘Malhação’ não têm o mesmo status de autores de novelas das seis, das sete e das oito) ‘atropelando’ um veterano, Mário Prata.

Contratado no ano passado, Prata (‘Estúpido Cupido’) iria escrever a novela que sucederá ‘A Lua me Disse’, de Miguel Falabella, que estréia no dia 18. Mas ‘Por Aí’, título provisório da trama de Maltarolli, agradou mais à cúpula da Globo e ganhou a vaga.

Maltarolli já escreve, sob supervisão de Carlos Lombardi, as primeiras cenas de ‘Por Aí’. ‘É uma comédia que envolve transgênicos, sociedade secreta e quadrilha caipira, mas não é rural’, diz.

‘Os transgênicos entram na história como uma pesquisa da sociedade secreta. A quadrilha faz um assalto para ajudar a mocinha, uma caipira no Rio. E o mocinho é um cientista mal-humorado que sofre de transtorno obsessivo-compulsivo’, revela.

Maltarolli entrou na Globo há 11 anos, como aprendiz. Com Emanuel Jacobina (‘Coração de Estudante’), idealizou ‘Malhação’. ‘Fazíamos oficina de autores e apresentamos o projeto no final do curso. Como éramos pivetes, ficamos colaborando com um programa que criamos.’

OUTRO CANAL

Palanque 1 Jô Soares quer fazer mais entrevistas com políticos na temporada 2005 do ‘Programa do Jô’, que começa amanhã na Globo. ‘O país está pedindo isso. E podemos fazer porque não é um ano eleitoral. Vamos sondar mais a política, para não deixar nada passar em branco’, diz Jô.

Palanque 2 Mas, nesta semana, entre vários globais, o ‘Programa do Jô’ só tem confirmado um político: Celso Amorim, ministro das Relações Exteriores. ‘Lastimo que o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, não tenha aceitado meu convite. Nem a mulher dele’, conta Jô, que continua tentando entrevistar o presidente Lula.

Marcação O ‘big brother’ Alan passou toda a manhã de quinta-feira acompanhando o ensaio sensual que Grazielli Massafera fez para o site Paparazzo, da Globo. Chegou ao local das fotos, um haras na zona oeste do Rio, e ficou na dele, com um walkman. Sempre que tinha um intervalo, Grazi corria para beijá-lo.

Temática No embalo da novela ‘América’, o ensaio de Grazielli, que deve entrar no ar hoje, teve produção country. Ela usou botas, minissaia e chicotes. As fotos passaram pelo crivo do pai da moça.

Movimento Já são 15 as cidades que terão manifestações contra ‘América’, acusada de ‘glamourizar’ rodeios, na próxima quinta. No Rio, o encontro será na Cinelândia. Em São Paulo, no Masp."

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"Nova novela das 21h terá conflito de classe", copyright Folha de S. Paulo, 31/03/05

"Depois de ‘América’, que trata de temas tão díspares como vida após a morte e rodeios, a Globo irá investir em uma novela tradicional. A sinopse de ‘Belíssima’, à qual a Folha teve acesso, revela uma trama clássica, com uma heroína sofredora e uma vilã bem definidas, quase mexicana.

O que mais marca a novela é o conflito de classes. Há vários relacionamentos entre pobres e ricos, ressaltando contrastes sociais.

O autor Silvio de Abreu define São Paulo, onde a novela será ambientada, como uma ‘megalópole’ de ‘distribuição de renda aviltante’, que tem os mais distintos povos (haverá um núcleo grego), os milionários nos shoppings, os miseráveis na periferia.

A trama terá como pano de fundo a indústria da moda (a heroína é herdeira e presidente de uma fábrica e cadeias de lojas de lingerie chique). A Globo deve gravar na São Paulo Fashion Week.

Abreu resume a novela em uma frase: ‘Em uma sociedade regida pela aparência, a beleza é o poder que faz suas próprias leis’.

‘Belíssima’ contará a história de Júlia Assunção, uma executiva discreta, alheia a revistas de celebridade, que irá se apaixonar por um operário de uma das fábricas que comanda, André, sem saber que ele é pobre. A vilã será a avó de Júlia, a quem culpa pela morte da filha. E, mesmo detestando pobres, incentivará o ‘maleável’ André a se casar com Júlia. André deixará Júlia pobre.

OUTRO CANAL

Salada A modelo Mariana Weickert, ex-MTV, assinou com a Rede 21 e fechou, com o cantor Lobão e Marcelo Tas, o time de apresentadores do ‘talk-show’ ‘Saca Rolha’, que deve estrear no final de abril, às 22h30. ‘Ela tem espontaneidade e fará uma quebra nesse grupo’, aposta Rogério Gallo, diretor artístico do canal.

Corte Silvio Santos decidiu extinguir a diretoria de marketing do SBT. Ex-Globosat, Eduardo Barrieu, que ocupava o cargo, deixou a emissora ontem. A área de marketing, agora mais enxuta, será incorporada pelo departamento comercial.

Sigilo For Man, o primeiro canal gay brasileiro, que a Sky começa a vender hoje por R$ 30 mensais, será identificado por vários códigos nas faturas de cobrança. Nenhum deles terá referência a canal adulto. É para proteger seus assinantes, principalmente homens casados. Em seis meses, a meta é vender 200 mil filmes avulsos e 50 mil assinaturas mensais _estas mais para ‘assumidos’.

Baixaria A Globo descobriu que são quatro os provedores de internet de onde estão saindo mensagens, em inglês, contra rodeios na novela ‘América’. A autora Glória Perez, o diretor Jayme Monjardim e diretores da emissora recebem cerca de cem e-mails por dia, todos com o mesmo texto. Dois dos provedores do spam são de Portugal."

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"Bial volta a dividir ‘Fantástico’ com Glória", copyright Folha de S. Paulo, 2/04/05

"Depois de oito meses ‘separados’, os jornalistas Pedro Bial e Glória Maria voltarão a apresentar juntos o ‘Fantástico’ em maio, contrariando rumores de que, por desavença, eles não dividiriam mais a mesma bancada.

Estrelas da Globo, Glória e Bial se estranharam no ano passado, ao ponto de um não cumprimentar o outro. Depois das Olimpíadas, a emissora passou a evitar escalar os dois para a mesma edição do ‘Fantástico’. Na festa de final de ano do programa, no entanto, o apresentador do ‘BBB’ abordou Glória Maria e os dois se abraçaram e beijaram.

Mesmo com o retorno dos titulares, Zeca Camargo e Renata Ceribelli continuarão assíduos apresentadores do programa. É que, a exemplo do que já faz Glória Maria, Pedro Bial voltará a realizar reportagens especiais, o que o obrigará a viajar eventualmente.

A primeira será na Polônia, onde o ex-correspondente Bial tentará entrevistar o ex-presidente Lech Walesa (1990-95), fundador do sindicato Solidariedade.

A reportagem será exibida no ‘Jornal Nacional’ na última semana de abril. Fará parte de uma série sobre os 40 anos da emissora, em que autores de reportagens marcantes revisitarão os locais dos fatos e tentarão ouvir os mesmos personagens.

O aniversário da Globo também será lembrado pelos colunistas do ‘Bom Dia Brasil’, que analisarão os últimos 40 anos.

OUTRO CANAL

Letras O mercado editorial deve tirar proveito da fama de Jean Wyllys, vencedor do ‘Big Brother Brasil’. Editoras já entraram em contato com a Globo interessadas em publicar livros do baiano, que por sua vez quer investir no seu lado escritor. Ele já tem um, de contos, pronto.

Piada A ex-’big brother’ Pink grava hoje sua primeira participação no ‘trash’ ‘Zorra Total’. ‘Interpretará’ ela mesma, uma cabeleireira despachada, que falará mal dos cabelos de seus clientes. Seu primeiro freguês será o também ex-’big brother’ Alan. Se Pink desabrochar sua verve de humorista, deverá ficar meses no programa. Estréia no dia 9.

Reciclagem Carlos Massa, o Ratinho, voltará a fazer o papel de ‘defensor do povo’ em seu programa no SBT, que passará a ser diário, às 19h10. Mas continuará apresentando ‘games’.

Chegada Ex-autor do primeiro time da Globo, Lauro César Muniz assume oficialmente na Record na próxima semana. Ele apresentará à cúpula da emissora duas sinopses de novelas contemporâneas e uma ‘releitura’. Em agosto, a Record põe no ar uma delas, às 21h.

Estágio A Record ainda não conseguiu vender as três cotas de patrocínio de ‘O Aprendiz’, que a Vivo desistiu de bancar. O banco Bradesco está desistindo de comprar uma delas."

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"Grazielli, do ‘BBB’, vira ‘repórter’ da Globo", copyright Folha de S. Paulo, 1/04/05

"A Globo está encantada com Grazielli Massafera, 22, vice-campeã da quinta edição de ‘Big Brother Brasil’. A miss Paraná deve assinar nos próximos dias um novo contrato com a emissora, que a quer, inicialmente, como ‘repórter’ de programas de entretenimento, mas avalia que ela também tem potencial para ser atriz.

Anteontem, Grazielli foi convidada a fazer um ‘teste’ no ‘Caldeirão do Huck’ e aceitou. Ela fará sua estréia já no próximo dia 9, na edição que comemorará os cinco anos do programa. A miss entrará em um link ao vivo. Se for bem, ela fica no ‘Caldeirão’.

A Globo quer Grazielli por causa de seu carisma e de sua beleza. Embora tenha perdido a disputa de R$ 1 milhão para o baiano Jean Wyllys, a miss teve respeitáveis 12 milhões de votos na final do ‘reality show’. Tem uma legião de fãs, principalmente jovens.

Grazielli passou boa parte do dia de ontem fazendo ensaio sensual para o site ‘Paparazzo’, da Globo. As fotos devem entrar no ar no domingo.

Grazielli, que anteontem recebeu proposta para posar nua na revista ‘Playboy’, também interessa à Band. A Gaeta, empresa que promove o concurso Miss Brasil, irá pedir à Globo autorização para que Grazielli, terceira colocada em 2004, participe do evento, no próximo dia 14. A Gaeta diz que, por contrato, a paranaense tem de transmitir a faixa de terceiro lugar para a substituta.

OUTRO CANAL

Placar A última votação de ‘Big Brother Brasil 5’ foi equilibradíssima na internet. Jean e Grazielli estavam praticamente empatados até o início do programa de terça-feira. Foi o voto por telefone que desempatou o jogo.

Chuvisco 1 Adriane Galisteu chamou Cacá Rosset para conversar em seu camarim anteontem à noite, após gravação do piloto do ‘talk show’ ‘Fora do Ar’, que tem também Hebe Camargo e Jorge Kajuru. A loira não gostou do comportamento de Rosset, principalmente na primeira metade do programa. Achou que ele falou demais e que foi ríspido com ela.

Chuvisco 2 Assim, Rosset já corre o risco de ficar fora do ar mesmo antes da estréia do novo programa, agora marcada para o dia 13. No SBT, já se fala em substitutos. Ratinho tem sido lembrado.

Horário pago O novo ‘reality show’ da Band, de futebol, com Zagallo, nada mais é do que peça de campanha da Nike. O programa, que busca revelar um novo meia-atacante, se chama ‘Joga 10’, marca da Nike. Como nos primórdios da TV brasileira, foi desenvolvido por uma agência publicitária, a Age, da Nike.

Exportação A Rede TV! conseguiu: o ‘Teste de Fidelidade’, o suspeito quadro de João Kléber, será exibido, a partir do dia 9, pela TVI, rede aberta portuguesa."



FORA DO AR
Daniel Castro

"Talk show’ reúne Hebe, Galisteu, Kajuru e Rosset", copyright Folha de S. Paulo, 3/04/05

"Parecia tudo ensaiado. Jorge Kajuru apareceu com um enorme dicionário ‘Aurélio’ para ‘traduzir’ o vocabulário de ‘intelectual’ de Cacá Rosset, que sacou do bolso um pênis de borracha quando Adriane Galisteu abriu sua sacola com modernos objetos eróticos (um pato e um batom que vibram e uma pequena ‘estátua’ transparente que pode substituir o órgão sexual masculino). E todos rasgavam seda para Hebe Camargo.

Mas o combinado não resultou numa gravação perfeita. Nos bastidores, Galisteu reclamou que Rosset falou mais do que os outros e que foi grosso com ela.

Esse foi o tom da gravação, na última quarta, do ‘piloto’ (programa teste) de ‘Fora do Ar’, ‘talk show’ do SBT que deve estrear no próximo dia 13, depois das 23h. Por causa das reclamações de Galisteu, o piloto não deve mais ir ao ar, como planejado pelo diretor Orlando Macrini.

Assim, ‘Fora do Ar’ se assemelha a ‘Saia Justa’, o bate-papo entre quatro mulheres do canal GNT, não só no formato mas também nos bastidores. As supostas intrigas entre as participantes de ‘Saia Justa’ repercutem mais do que as opiniões delas.

Na gravação do piloto de ‘Fora do Ar’, Hebe, Kajuru, Galisteu e Rosset discutiram eutanásia, relacionamentos de mulheres mais velhas com homens jovens, política (muito pouco) e fetiche sexual.

A maioria se posicionou a favor da eutanásia, menos Rosset, o falante, que admitiu ter mudado de opinião nas 24 horas que antecederam a gravação.

Hebe, chamada por Rosset de ‘lenda viva’, até contou que sua mãe, agonizando numa cama, morreu após um médico aplicar uma injeção misteriosa nela. Kajuru então disse que prefere morrer a viver entubado. ‘Vai ter fila de candidato para te matar’, brincou o tagarela Rosset.

No meio da discussão, que Galisteu assistia como figurante, Rosset começou a contar uma história, revelando a rusga com a loira. ‘A história é curta, não?’, perguntou Galisteu a Rosset, que a mandou parar de bancar a cronometrista. O jogador Roger, namorado de Galisteu, chega ao auditório, e a apresentadora do ‘Charme’ releva a dividida.

No bloco seguinte, a conversa descamba para a impotência sexual, enquanto Marília Gabriela e Reynaldo Gianecchini são sintonizados na TV que enfeita o cenário. ‘Eu já broxei várias vezes’, confessa Kajuru. Rosset revela seu lado ‘intelectual’. Fala em edipiano e arquétipo, e Kajuru pega, mas não consulta, o ‘Aurélio’.

Sobra então para o novo presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, que disse que o Legislativo não pode ser ‘supositório’ do Executivo. ‘Ele deveria colocar um supositório no cérebro’, chuta Kajuru. ‘Não, eu não poria no cérebro’, diz Hebe, sugerindo algo erotizado. Eis que Galisteu, até então quase muda, se revela com sua sacola de produtos sexuais de butique chique."



AMÉRICA
Isabelle Moreira Lima e Nina Lemos

"Caubóis urbanos ‘brincam’ de fazenda em SP", copyright Folha de S. Paulo, 3/04/05

"O ambiente country mostrado pela novela ‘América’ está em São Paulo. Não só no interior, mas na capital, onde caubóis vestidos de bota, chapéu e cinto saem ‘traiados’ (vestidos de peões americanos) nos finais de semana para ‘curtir a vida no campo’ -só que numa versão encenada na cidade grande. Para isso, além dos apetrechos de vestuário, freqüentam casas noturnas que remetem ao ambiente rural.

Os rodeios são o ponto alto para quem vive o estilo country. A prática, que causa polêmica desde antes da estréia da novela (leia texto abaixo), é o esporte predileto deles. Só que caubói urbano não sabe montar. Prefere assistir e sabe de cor o nome dos astros das arenas. Eles viajam juntos para as festas onde acontecem os eventos. Na falta delas, assistem imagens sanguinolentas em vídeo.

Em um sábado no clube Amnésia, em Santo André (Grande São Paulo), cerca de mil caubóis param a avenida em frente ao local e dançam na rua antes de entrar. Em vez de cavalos, se locomovem (e se exibem) em picapes equipadas com sons ultrapotentes. O estilo preferido é o country americano, mas o sertanejo brasileiro também é bem-vindo.

Dentro do bar, um telão exibe rodeios. Caubóis dançam em grupo coreografias importadas do Oeste americano. ‘Aprendi a dançar praticando nos bailes e nas festas’, diz o metalúrgico Ricardo Braga, 32. Ele coleciona em casa seis chapéus que não podem, nunca, serem tocados pelas abas. Isso é considerado desfeita grave no meio dos caubóis. ‘O chapéu a gente tira segurando por cima.’

A vida no campo fora do campo, segundo ele, é ‘uma maneira de fugir do estresse’. Com a chegada da novela, já existe até workshop para quem quer aprender as coreografias que Braga aprendeu nas festas.

Medo dos ‘abeias’

O fato de o estilo de vida adotado pelos caubóis chegar até as telas da Globo faz com que eles temam a chegada dos ‘abeias’ (pessoas de fora do movimento). Por outro lado, provoca euforia. O operador de televendas Kleber Kasinski, 28, se sente honrado por ser retratado nas telas. ‘Ajuda a mostrar e valorizar nossa cultura.’ O estudante Rogério Valsani, 30, caubói que trabalha com marketing, concorda. ‘Acho que estão divulgando o nosso jeito de viver, e isso é bom.’

Valsani sai de casa, de sexta a domingo, vestido de caubói para freqüentar lugares como a Estância da Serra, que reúne até 15 mil pessoas. Além dos eventos noturnos, a casa tem por tradição efetuar o evento ‘boi no rolete’. Dois bois são assados inteiros, como no interior. Só a cabeça é tirada.

‘Eu me sinto em uma fazenda quando estou aqui. E claro que não sinto pena do boi, só quando acaba’, diz o impressor Alex Ribeiro, 24, integrante da comitiva urbana Só Copo Cheio.

É que os caubóis de São Paulo, apesar de habitarem uma metrópole, se esforçam muito para que a brincadeira de morar no campo funcione. Como os caubóis originais, eles formam comitivas (grupo de pessoas responsáveis por levar bois do campo até o revendedor ou frigorífico). Só que as comitivas paulistanas são grupos de amigos que se reúnem para freqüentar eventos country, fazer churrasco e só. Muitas vezes andam juntos em fila -de carros, não de cavalos.

Picape 4 x 4

‘A picape é um dos nossos símbolos. O caubói é a pessoa que gosta de rodeios e da vida no campo. É diferente do peão, que é o cara que monta’, tenta definir Kasinski, participante da comitiva Boi Ligeiro, que reúne cerca de 80 pessoas. Além de saírem juntos, eles fazem churrascos e programam viagens (o plano é conhecer os rodeios de Las Vegas).

‘O bom das comitivas é que nos tratamos como família. Ninguém é inimigo de outras turmas. Aqui não existe violência’, diz o gerente de vendas Fabiano Guilherme, também da Boi Ligeiro. Os dois moram em São Bernardo e consideram o ABC o grande ponto de caubóis de São Paulo. ‘Aqui é o lugar da cidade que mais se adequou ao country’, diz Fabiano.

As mulheres também participam do movimento e são chamadas de ‘cowgirls’ ou ‘cowboas’. Segundo a administradora de empresas Kátia Oliveira, 30, chapéu enfeitado com imagens de Nossa Senhora Aparecida (a padroeira dos caubóis), os homens do seu meio são mais interessantes. ‘Eles têm uma coisa máscula, são viris.’

O ‘jeito de se vestir’ é parte fundamental na equação de um caubói. ‘Gosto de usar chapéu, cinto e bota. Tudo isso faz parte de um caubói. E o cara que é de verdade não sente vergonha de andar assim na rua’, diz Rogério Valsani. O sonho dele e do amigo Rodrigo Amaral, 29, operador de computadores, é conhecer o Texas. ‘Lá é a capital dos rodeios. É o que Barretos é para o Brasil em dimensão mundial’, diz Amaral. ‘Um dia irei para lá’, diz Valsani. Mas quando estão no Villa Country, clube de São Paulo na Água Branca (zona oeste), onde foi lançada a novela ‘América’, se sentem um pouquinho no Texas. ‘A atmosfera faz a gente se sentir um pouco lá, sim.’

Não por acaso. O Villa Country foi aberto há três anos e reúne em seus diferentes ambientes elementos da cultura western norte-americana e da sertaneja brasileira. O salão de shows, por exemplo é batizado de ‘saloon’ e decorado com cortinas de veludo vermelho e painéis de cenas de filmes estrelados pelo ator-caubói americano John Wayne.

A decoração da casa é feita basicamente com peças compradas em fazendas do Texas e do Tenessee, adquiridas durante dois meses de pesquisa dos arquitetos nos Estados Unidos. Entre as peças está um fogão de 1843, usado como peça de cenografia de filmes de caubói dos anos 60, e lustres feitos com chifres de alce.

Valsani, o freqüentador assíduo do Villa Country que sonha com o Texas, não pensa em imigrar para a América, como os personagens da novela. Para os caubóis do asfalto, é bem mais fácil conquistar o sonho americano e viver o ‘way of life’. Basta um bom chapéu enfeitado com broches, umas noites no ‘saloon’ do Villa Country e, quem sabe, uma viagem para o Texas (ou Barretos) nas férias."



PUBLICIDADE & TV
Bia Abramo

"A publicidade sempre está um passo além", copyright Folha de S. Paulo, 3/04/05

"Não são poucas as vezes que, diante da televisão, dá vontade de gritar, à maneira de Raul Seixas, ‘pare o mundo que eu quero descer’. Nos últimos tempos, parece que a publicidade tem se esmerado em produzir, a cada intervalo comercial, muitos momentos desse tipo.

Por pior que seja a televisão em termos de programação, a publicidade sempre consegue ser um pouco pior, sempre está alguns passos além na direção da barbárie. E não estamos aqui falando da cafajestagem malandra dos comerciais de cerveja. Aliás, as propagandas de cerveja não são exatamente violentas, ainda que sejam, de fato, machistas etc.

Mas há um tipo de mensagem publicitária que só se pode classificar como violenta, mesmo que não haja nenhuma cena que explore situações de violência. Ao contrário, são propagandas em tom ‘científico’ ou ‘bem-humoradas’, mas cujas mensagens representam ataques graves a valores que (ainda) deveriam se sobrepor ao consumo.

A educação de crianças é um dos alvos prediletos das idéias geniais dos publicitários. Eles sabem que a maioria dos pais não sabe e não tem tempo nem vontade de assumir a parte árdua da educação dos filhos. É exatamente aí que eles entram.

Uma propaganda recente da marca mais conhecida de iogurte infantil, por exemplo, começa avisando que a falta de nutrientes essenciais nos primeiros estágios do crescimento pode causar sérios danos estruturais. Em seguida, um pediatra aparece em meio aos seus filhos. Com a dupla autoridade de pai e de médico, informa que o produto em questão supre perfeitamente as necessidades nutricionais de uma criança em fase de crescimento. A imagem final é uma construção de blocos de madeira, cuja base é substituída por uma embalagem vazia do produto. Logo, pais, desistam da batalha árdua de fazer as crianças comerem arroz, feijão, bife e verdura. Podem dar logo um desses e irem malhar.

Em outra, mais engraçadinha, uma professora avisa que antes de sair os alunos devem entregar o trabalho ‘de’ Pitágoras. Os alunos vão deixando sobre a mesa os trabalhos, todos impecavelmente impressos, com ilustrações coloridas, até que um deposita uma pedra chata e lisa com um diagrama do triângulo retângulo. A professora olha com espanto para o menino, que está vestido como o personagem Bambam, dos ‘Flintstones’, clava ao ombro, cabelos desgrenhados, rosto sujo. ‘Não deixe seu filho na Idade da Pedra’, conclui o comercial de um provedor de conexão rápida com a internet. E, depois, relaxe: ele vai ter um jeito fácil e cômodo de dar conta de seus trabalhos escolares copiando da internet, claro. Vocês não vão brigar mais por causa disso, e você vai poder ir ver tranqüilo sua série predileta na TV.

Jogando duplamente com a infantilidade -das crianças mas também dos pais que resistem a assumir a parte ‘chata’ e difícil da educação-, a publicidade mostra sua face mais brutal."

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