OBAMA LÁ

O dia em que a imprensa parou

Por Mário Bentes em 27/01/2009 na edição 522

Esqueçam Klaatu, o esquisito alienígena do filme O dia em que a Terra parou, interpretado pelo ator Keanu Reeves. O grande nome que parou o mundo e a imprensa na terça-feira (20/1) foi o de Barack Hussein Obama, o novo mensageiro da paz do mundo – minto, da própria imprensa. A intensa cobertura da posse do novo presidente dos EUA pelos chamados "grandes" veículos de comunicação, sobretudo os televisivos, foi "marcante". Marcante, mas não pelo aspecto jornalístico.

O que se viu da imprensa ao longo de todo o dia foi quase o que se vê entre fãs adolescentes de mais um candidato a novo popstar musical; algo bem próximo da tietagem. Por um momento, parecia até que quem caminhava rumo à Casa Branca era o tal de Edward Cullen, o vampiro deprimidamente apaixonado de Crepúsculo. E os jornalistas e comentaristas lá, boquiabertos e aparentemente mais felizes que a multidão que cercava Obama.

Além da já costumeira e irritante subserviência implícita (e explícita) nos textos, como em "o novo presidente americano" – como se nós também não fizéssemos parte do continente –, "o homem mais importante do mundo" – como se o cargo de presidente de uma "democracia" fosse algo divino, como nas antigas monarquias medievais –, a tal cobertura foi marcada também por uma espécie de euforia contagiante que levou nossos colegas de imprensa a um quase orgasmo noticioso.

Futuro será a manchete

Comentários furrecas do tipo "veja como ele anda", e informações nada relevantes trazidas ao público como a manchete do ano: "Obama comeu bolo de maçã na sobremesa". Na Record News, do grupo de mesmo nome – "a caminho da liderança" –, o comentarista, empolgadíssimo com a elegância da primeira-dama Michelle Obama, disse o que, se fosse escrito, estaria em letras garrafais: "O modelo que a primeira-dama está usando foi desenhado por um estilista cubano". Tradução: "Os Obama são tão benevolentes, que até deram oportunidade a um refugiado do regime castrista". Que lindo.

Os jornalistas tentam. Ficar plantado o dia inteiro e mais um pouco para cobrir uma festa que não é nossa obviamente não é trabalho fácil. Mas aposto que seria muito menos penoso para nossos colegas (e para os telespectadores) dialogar com especialistas sobre os novos rumos da política internacional dos EUA para com a América Latina ou com o Médio-Oriente do que simplesmente "narrar" cada passo dos Obama.

O Jornal Nacional, da gloriosa Rede Globo, também não deixou por menos. Quem via a expressão de alegria silenciosa em William Bonner e em Fátima Bernardes até poderia achar que Felipe Massa era o novo campeão do mundo da F-1. Talvez a mesma expressão de alegria quando noticiaram a então "queda" de Chávez na Venezuela, em 2002, vítima de um golpe dado por militares, e o avesso de quando tiveram de divulgar que outro golpe, desta vez na Bolívia, por parte de meia dúzia de endinheirados da província de Santa Cruz, deu com os burros n´água.

Talvez amanhã, com os ânimos mais frios, nossa querida imprensa pense em suítes jornalísticas menos "dos americanos" e mais para "todos nós", pensando mais no futuro que na festa de um dia. Porque ele, o futuro, de algum modo e da forma como for, será a verdadeira manchete do dia. É esperar para ver.

***

Estudante do 7º período de Jornalismo em Manaus, repórter do Portal Amazônia e redator freelance

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