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Postado em 06/06/2014 por Tatiane Rosset | Comentários

Lúpulo plantado em SP quase foi para o descarte

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Desanimado com as tentativas de plantar sementes de lúpulo que havia iniciado alguns anos antes em seu sítio em São Bento do Sapucaí (SP), o agrônomo Rodrigo Veraldi decidira descartar o material na área de bota-fora de sua propriedade. “Dos sete ou oito diferentes grupos de sementes que plantei, um se desenvolveu, mas, com o verão chuvoso, ele acabava pegando doenças”, afirmou. Eis que, tempos depois do descarte, na estação de chuvas, ele passa pelo bota-fora. “Vi que, daquele material que eu tinha jogado fora, cresceu uma moita grande de lúpulo, que estava produzindo absurdamente.”

As raízes da planta original permanecem no local, e tornaram-se símbolo da experiência que deu certo “aos 48 minutos do segundo tempo”, no jargão futebolístico. Dela, foram retiradas mudas clone que, em maio deste ano, produziram de 10 a 12 quilos de lúpulo, dos quais pouco mais de um terço foi para a Cervejaria Baden Baden, de Campos do Jordão (SP), que utilizou o ingrediente na sua Heller Bock 15 anos, criada para festejar o aniversário da marca. Ingrediente que confere amargor, aromas e sabores à cerveja, o lúpulo, como eu escrevi no post anterior, não tem plantações em larga escala no Brasil, em grande parte devido a condições climáticas. Por isso, os cervejeiros nacionais são dependentes de outras nações produtoras da planta, como Estados Unidos, Bélgica, República Tcheca, Austrália, Nova Zelândia etc.

A história de Veraldi com o lúpulo começou há sete ou oito anos. Proprietário do Viveiro Frutopia – onde cultiva diversas variedades de frutas -, da vinícola e do restaurante Entre Vilas, ele recebeu de um amigo sementes de lúpulo e origem norte-americana. “Gosto muito de trabalhar com botânica e difundir tecnologia, por isso muita gente me traz plantas para propagação”, diz. “No caso do lúpulo, o primeiro passo foi separar machos e fêmeas, e com isso se passou um ano e meio até a floração.” Apenas os exemplares fêmeas são aproveitados na produção cervejeira. A partir daí, segundo Veraldi, foram mais dois ou três anos de avaliação e seleção de variedades mais resistentes até que ele chegou àquela do início do texto, que teve o problema com a chuva. Fez então o descarte e teve a surpresa alguns anos depois ao ver o lúpulo crescido e resistente à umidade elevada. No início do projeto, ele diz que, se o lúpulo não vingasse para fins de produção cervejeira, havia considerado tentar cultivá-lo como planta ornamental.

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Depois de conseguir plantas viáveis ao clima local, o próximo desafio de Veraldi é melhorar a qualidade da produção. Ele afirma ter fechado uma parceria com a Brasil Kirin, controladora da Baden Baden, para aperfeiçoamento técnico com ajuda da matriz da empresa, no Japão. Um dos desafios é melhorar o porcentual de alfa-ácidos, substância responsável por grande parte do amargor conferido pelo lúpulo à cerveja. Na colheita deste ano, ele ficou entre 1,5% e 2%, índice baixo comparado com outras variedades. “No próximo ciclo faremos uma avaliação melhor de solo e nutrição das plantas. Creio que podemos chegar a um índice de 4% a 5%.” O próximo plantio, calcula, deve chegar a um hectar e contar com 3 mil mudas. “O lúpulo demora algum tempo para atingir um bom nível de produtividade. Aquele arbusto que surgiu na área do descarte rendeu três quilos, índice alto, mas os mais novos produziram apenas alguns gramas.”

Veraldi também pretende resgatar algumas variedades que havia deixado de lado para cruzamento e aperfeiçoamento. “Para 2015 a produção ainda será pequena. Nosso forte será mesmo em 2016.” A experiência com plantio de lúpulo em território nacional, porém, ainda não tem nome. “Primeiro estamos seguindo os procedimentos de registro da variedade.” Ele espera que a plantação de lúpulo, assim como as outras que possui e cujas técnicas compartilha, ajude a criar novas oportunidades para a região e a valorizar o trabalho dos agricultores locais.

Postado em 05/06/2014 por Tatiane Rosset | Comentários

Baden Baden anuncia cerveja com lúpulo “brasileiro”

Logo Baden 15 Anos

Sem dar muitos detalhes sobre a iniciativa, a Brasil Kirin, uma das principais empresas cervejeiras com atuação no Brasil, anunciou hoje o lançamento de uma cerveja que leva na receita lúpulo plantado no Brasil – mais especificamente na Serra da Mantiqueira, no Estado de São Paulo. Parte da linha Baden Baden, de Campos do Jordão (microcervejaria comprada em 2007 pela Schincariol, que mais tarde foi adquirida pela empresa japonesa), a 15 anos é uma Helles Bock, ou Bock clara. Trata-se de um estilo de origem alemã, com notas destacadas de malte e amargor presente, mas não exagerado. Ela foi feita para celebrar o aniversário da cervejaria, criada em 1999.

O lúpulo é um dos principais ingredientes da cerveja, junto com o malte, a água e a levedura – cabe a ele dar amargor à bebida, além de notas herbais, florais, cítricas, terrosas ou condimentadas, por exemplo. Um dos principais desafios dos cervejeiros brasileiros é encontrar lúpulo fresco para suas receitas, em especial as que dependem mais do ingrediente, como India Pale Ales. Até agora, havia apenas registros de experimentos com plantio local de lúpulo, feitos pela Ambev, e iniciativas isoladas de microcervejeiros e produtores caseiros. O maior obstáculo ao plantio nacional é justamente o clima: o lúpulo depende de condições muito específicas de estações, temperaturas, luz solar, umidade e solo não apenas para se desenvolver, mas também para apresentar características de amargor, sabor e aroma que o tornem viáveis para uso na cerveja.

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A embalagem da edição especial de 15 anos da Baden Baden: lúpulo brasileiro na composição

Em entrevista ao blog, Marcus Dapper, mestre-cervejeiro responsável pela marca Baden Baden, afirmou que os lúpulos foram obtidos da plantação de Rodrigo Veraldi, na Serra da Mantiqueira. “Ele plantou várias mudas de lúpulo importadas. Não sabemos qual a variedade exata que acabou sendo utilizada. Vamos usar a estrutura da Kirin no Japão para análise e verificação de um possível uso em larga escala. Há muito ainda a se desenvolver para um plantio comercial.”

Ele afirmou que o plantio ocorreu em setembro e a colheita foi feita em maio. As flores frescas de lúpulo foram usadas diretamente na fervura. Dapper não deu muitos detalhes técnicos sobre o lúpulo, dizendo apenas que os exemplares dessa colheita apresentaram notas cítricas e terrosas. “Mas há um sem-número de variáveis no plantio do lúpulo que vão definir suas características, é difícil sabem com certeza ainda.” Em termos técnicos, segundo ele, o lúpulo utilizado possui de 1,5% a 2% de alfa-ácidos – substâncias responsáveis pelo amargor na cerveja -, índice considerado baixo se comparado a variedades plantadas na Europa e Estados Unidos.

Um detalhe importante dado pelo cervejeiro é que o lúpulo plantado e colhido no Brasil não foi o único a ser utilizado na receita. A empresa, porém, não informou qual porcentagem ele representa no total utilizado, alegando sigilo sobre os detalhes de seus produtos. Da mesma forma, não disse quais foram os lúpulos importados plantados no terreno, nem se os exemplares utilizados têm mais potencial para amargor ou aroma, nem se haverá outras cervejas produzidas pelo grupo que testarão esse lúpulo.

Leonardo Gayer, gerente de marketing de cervejas especiais da Brasil Kirin, afirma que o objetivo da experiência com o lúpulo não era apenas sua utilização em uma cerveja sazonal. “O objetivo é criar uma tradição e identidade nacionais, e inovar no mercado de cervejas especiais no Brasil.”

Em 2011, a microcervejaria Seasons, de Porto Alegre, já havia utilizado lúpulos plantados na região de Vacaria para produzir uma cerveja. A Seasons Harvest Ale foi criada em 29 de março daquele ano, e servida apenas em barris em eventos do setor na capital gaúcha. O responsável pelo plantio tentou enviar flores de lúpulo a outros cervejeiros fora do Rio Grande do Sul, mas elas não resistiram ao transporte.

A Baden Baden 15 anos deve chegar aos supermercados até o final do mês e custar R$ 14,95 a garrafa de 600ml.

Postado em 04/06/2014 por Tatiane Rosset | Comentários

Fuller’s é ‘figura paterna’ para jovem consumidor, diz cervejeiro da marca

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O cervejeiro John Keeling (Crédito: Fuller, Smith & Turner Brewery/Divulgação)

Prestes a viajar para o Brasil pela primeira vez, John Keeling, responsável pelas cervejas da inglesa Fuller’s, diz estar ansioso para conhecer as mudanças no cenário local das fermentadas. E crê que a marca para a qual trabalha, apesar dos mais de três séculos de história, ainda tem um papel importante a desempenhar na revolução cervejeira no Reino Unido e aqui. “Somos vistos como uma figura paterna”. No dia 11, ele dará palestra no Centro Brasileiro Britânico, na capital paulista. Leia mais na entrevista concedida por e-mail para o blog:

Como você analisa o cenário cervejeiro atual no Reino Unido? Cervejarias tradicionais como a Fullers estão conseguindo capturar a atenção dos consumidores mais jovens?

Vivemos um cenário bastante vibrante, no qual a Fullers desempenha um papel significativo. Assim como no resto do mundo, há um movimento por mais ênfase no sabor e na personalidade da cerveja ao invés de apenas na capacidade de refrescância. Entre os consumidores mais jovens, somos vistos como uma “figura paterna”. Por isso e por nossa associação com a cena cervejeira londrina, por meio da Aliança Cervejeira Londrina, somos vistos como relevantes pelos consumidores jovens.

Cervejas da Fullers como a Wild River (uma Pale Ale com lúpulos americanos) são uma tentativa de se aproximar da tendência de cervejas mais lupuladas, inspiradas pela escolar norte-americana?

Cervejeiros americanos foram originalmente inspirados elas cervejas inglesas e, em particular, pelas da Fullers. Isso porque estivemos entre os primeiros a exportar para os Estados Unidos e estamos baseados em Londres. Graças a essa localização, cervejeiros Americanos podiam facilmente visitar nossa cervejaria – perdi a conta do número dos que o fizeram. Com a Wild River, eu quis retribuir o elogio e produzir uma cerveja inspirada pela nova onda de cervejarias americanas.

Qual sua opinião sobre marcas como Brewdog e Mikkeller, que estão crescendo na Europa com cervejas mais fortes, mais amargas e um marketing mais agressivo? Novas cervejarias inglesas como a The Kernel e a Oakham podem ser incluídas nessa lista. Há espaço para eles e para marcas mais tradicionais entre os jovens fãs de cerveja?

Conheço bem as cervejas deles e, em particular, as da The Kernel, que, como nós, são fundadores da Aliança Cervejeira Londrina. Esses produtores ajudam a aumentar o mercado de cervejas mais interessantes e a Fullers produz algumas dessas cervejas interessantes. Muitos jovens cervejeiros e consumidores se interessam por cervejas mais tradicionais porque elas dividem os mesmos valores e padrões (com as fermentadas mais modernas), mas com sabores mais tradicionais.

Você tem acompanhado as mudanças no mercado cervejeiro brasileiro? Qual sua opinião sobre ele? Há espaço para a Fullers nesse mercado?

Esta será minha primeira visita ao Brasil e estou ansioso para explorar a cena cervejeira local. Creio que o país é parte dessa revolução cervejeira, tão excitante para todos que têm interesse em cervejas com sabor e personalidade. A Fullers tem sim um papel nessa revolução, e isso é mostrado pelo aumento das nossas exportações.

Qual sua expectativa para o futuro da cerveja no Reino Unido?

Um aumento nas vendas de cervejas interessantes, aliado ao declínio nas vendas das “cervejas de massa”. Isso sem dúvida é uma boa notícia para produtores como a Fullers.

Postado em 27/05/2014 por Tatiane Rosset | 3 comentários

Cervejeiro da Fuller’s falará sobre as Ales inglesas em SP

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O cervejeiro da Fuller’s, John Keeling (Créditos: Reprodução)

“Espremidas” pelo frisson da moderna e lupulada escola cervejeira norte-americana por um lado, e pela tradição dos rótulos alemães pelo outro, as Ales inglesas encontram espaço moderado no Brasil – é mais fácil ver copos com American India Pale Ales e Weizenbiers, por exemplo, do que com Bitters e Porters. Aos poucos, porém, surgem alguns eventos para valorizar as fermentadas da terra da rainha: um deles foi o A Pint With the Queen, na capital, em fevereiro. Agora, o cervejeiro John Keeling, responsável pelos rótulos da marca Fuller’s, dará uma palestra em São Paulo no dia 11 de junho sobre a escola inglesa da bebida. O encontro faz parte de uma agenda de eventos relacionada à Copa do Mundo, organizada pelo governo britânico.

A Fuller’s é uma das mais tradicionais cervejarias familiares inglesas (com mais de três séculos de história), conhecida por estilos clássicos, como a Special Bitter London Pride e a London Porter. Nos últimos anos, porém, apostou em novidades como a lupulada Wild River, uma American Pale Ale, e uma Imperial Stout com botões de rosa. Esses produtos aparecem no momento em que o mercado cervejeiro inglês – e britânico – tenta se renovar e atingir consumidores mais jovens. Em Londres, surgiram mais recentemente bons microprodutores, como a The Kernel. No Reino Unido, o maior símbolo de renovação da bebida é a escocesa Brewdog, com cerveja e propaganda agressivas.

Além da apresentação de Keeling, o evento terá a participação da mestre-cervejeira Kathia Zanatta, do Instituto da Cerveja Brasil, e do sommelier de cervejas Maurício Beltramelli. O evento ocorrerá às 19h no Centro Brasileiro Britânico (Rua Ferreira de Araújo, 741, Pinheiros). As inscrições devem ser feitas pelo site. É preciso fazer um cadastro antes de reservar vaga no evento.

Postado em 21/05/2014 por Tatiane Rosset | Comentários

‘Libertadores da cerveja’ começa hoje

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O cervejeiro Leonardo Ferrari, da argentina Antares, atual campeão da South Beer Cup

No campo de futebol, o Brasil teve seu pior desempenho dos últimos anos na Copa Libertadores de América, que aponta o melhor time sul-americano do ano. No copo, porém, as cervejarias nacionais jogam em casa a partir de hoje (21), na South Beer Cup, em Belo Horizonte. Até amanhã, mais de 500 cervejas do continente serão julgadas. O resultado sai amanhã (22).

Trata-se da quarta edição do torneio, cuja sede se alterna entre Brasil e Argentina. Em 2013, em Buenos Aires, a local Antares foi eleita a melhor cervejaria do continente — agora, a marca criada por Leonardo Ferrari defende o título.

No ano anterior, em Blumenau, a mineira Wäls ficou com esse posto. A cervejaria chega ao torneio com o status de ter conquistado uma inédita medalha de ouro para o país na World Beer Cup — competição bienal que ocorre nos EUA e tem fama de ser a mais concorrida do mundo — com sua Dubbel, além de uma prata com a Quadruppel.

Na estreia da competição sul-americana, em 2011, a paulista Bamberg foi eleita a melhor cervejaria.

Postado em 15/05/2014 por Tiago Faria | Comentários

Em Tóquio, cerveja é a melhor tradutora

Pode ser por falta de outras referências mais modernas, mas é impressionante como as pessoas que conheço têm como primeira associação, ao ouvirem falar de Tóquio, o filme Encontros e Desencontros (“Lost in Translation”), em que Bill Murray e Scarlett Johansson perambulam pelas ruas da cidade japonesa e se divertem com o fato de não conseguirem se fazer entender tanto quanto não compreendem os locais. Viajei para lá em abril disposto a fugir dessa ideia pré-concebida – e para tomar cervejas, é claro.

 

+ Cervejas em aeroportos ainda não “decolaram” por aqui

Mas percebi que a barreira do idioma é, realmente, o maior obstáculo para a interação com os locais. O que não impede quem visita o país de aproveitar bastante: depois de um tempo, percebemos, eu e minha esposa, que tudo que fizéssemos levaria um tempo extra, para decifrar as indicações e orientações locais, o que também tem sua graça.

Os japoneses com quem tive contato eram extremamente cordiais e dispostos a ajudar, embora nem sempre fossem capazes de tal. Bastava falar um “com licença” no idioma local e apontar um destino para que muitos desandassem a falar, dando explicações detalhadas e até divagando um pouco… em japonês!

+ Após vencer torneio nos EUA, brasileiro abre própria cervejaria

Depois de um dia de ginástica linguística e de mímica – consegui fazer uma dona de loja entender em menos de um minuto que precisava de agulha e linha, simulando o ato de costurar -, parar em um bar cervejeiro de Tóquio era um alívio. Em parte, porque esses locais já estão acostumados a atender turistas, em especial norte-americanos. Mas, principalmente, porque o vocabulário da cerveja está se tornando cada vez mais universal. Palavras como “Lager”, “Ale”, “India Pale Ale” e “Pilsner” são reconhecidas com facilidade. Outras sofrem ligeiras modificações de pronúncia, mas são perfeitamente compreensíveis, caso de “biru”, ou cerveja em japonês, que provavelmente veio de “beer” e se parece ainda com “birra”. Em um bar desse tipo, conhecer estilos cervejeiros torna-se mais importante do que saber japonês.

Entre visitas a templos, prédios modernos e museus, conheci cinco bares de Tóquio que trabalham com cervejas artesanais.

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O Popeye, em Ryogoku: 70 torneiras de chope

1) Popeye (2-8-17 Ryogoku)

Próximo à estação Ryogoku do metrô, ao museu Edo-Tóquio e a academias de sumô, este bar tem 70 torneiras de chope, a grande maioria de produtores japoneses. É provavelmente o melhor da cidade, além de ser um dos mais clássicos. Não se assuste se, ao entrar, todos os garçons gritarem (às vezes alguns mais atrasados que os outros), pois é um costume saudar os clientes na chegada e na saída.

O bar tem um balcão que imita uma panela de cobre típica de antigas cervejarias. O cardápio indica o estilo, teor alcoólico e índice de amargor dos chopes, o que facilita a montagem de um “esquema tático” de degustação. Algumas dicas: a linha Divine Vamp, produzida para o bar, tem uma India Black Ale muito boa, criada na Baird; há, ainda, uma bela India Pale Ale da Shiga Kogen; para fechar, uma Imperial Stout da Swan Lake, densa, licorosa e oleosa.

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No Craftheads, chopes americanos e japoneses dividem espaço com seleção de uísques e bourbon.

2) Craftheads (1-13-10 Jinnan, 1° subsolo)

O caminho até este bar nos colocou em uma situação cômica. Eu havia marcado o lugar errado no mapa, e demos de cara com um prédio da NHK, emissora de televisão japonesa. Na portaria, já incrédulo, mostrei o endereço à recepcionista, que apontou o subsolo. Fomos lá e nada achamos. Após algumas idas e vindas, ela mesma nos levou a uma sala de arquivo, onde alguns funcionários trabalhavam. Me ocorreu apenas citar o nome do bar e falar “biru”, o que levou os presentes a darem boas risadas; certamente viramos o assunto do happy hour alheio.

Passada a confusão, achamos o bar, a algumas centenas de metros dali. O ambiente é propositalmente rústico, com fiação e tubulação expostas no teto e balcão de cimento. A maioria das torneiras (mais de 20) é de cervejas americanas, que também dominam a parte de garrafas, mas há uma boa representação japonesa. O ponto alto da visita foi uma degustação vertical de Imperial Stouts da Baird, de 2012, 2013 e 2014. A mais antiga ganhou com facilidade. Provei ainda uma cerveja com chá Earl Grey, exótica mas bem doce. O bar ainda tem uma boa carta de uísques e bourbons norte-americanos.

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Localizado na movimentada Shibuya, Good Beer Faucets tem chopes da casa interessantes.

3) Good Beer Faucets (1-29-1 Shoto, 2° andar)

Quem já se acostumou com a Lei Cidade Limpa certamente se sentirá hipnotizado e um tanto aflito em Shibuya, onde fica o bar. A quantidade de propagandas, luminosos e telões com volume de estádio de futebol chega a desnortear. Aprecie o quanto puder e parta para o Good Beer Faucets, o mais turístico dos bares de cerveja que conheci em Tóquio, com direito a garçonete europeia. Nas 40 torneiras – de cujo sistema de limpeza a casa se orgulha, e que realmente parecem conservar bem os chopes – a maioria é de produções japonesas. A Red Ale da casa, batizada de Redneck, tem bom equilíbrio entre malte e lúpulos cítricos. A Brown Ale, chamada Endless, também agrada.

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Ant n’ Bee tem alguns chopes interessantes, mas cozinha patinou na visita.

4) Ant n’ Bee (5-1-5 Roppongi, 1° subsolo)

Recomendação de uma amiga, este pequeno bar tem 20 torneiras de chope. Não vi muita diferença de rótulos em relação aos anteriores, a não ser por uma Belgian IPA da Shonan, boa, com potentes notas de cravo e cítricas. Um ponto negativo é que há pouca separação da área de fumantes, o que pode atrapalhar quem está ali mais pelos aromas das cervejas do que dos cigarros. A cozinha também deixou a desejar, entregando um polvo frito numa poça de óleo. Pode ter sido azar. Pela cerveja, vale a visita.

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Bar da Brewdog se parece com outras unidades e não tinha rótulos japoneses.

5) Brewdog Roppongi (5-3-2 Roppongi)

Irritado com a comida do Ant n’ Bee, usei o aplicativo cervejeiro do site Ratebeer.com para checar se havia outro bar com boas fermentadas próximo dali. E tomei um susto ao ver que a Brewdog já havia fincado sua bandeira no Japão, pouco tempo depois de inaugurar sua unidade paulistana. O ambiente, embora seja diferente no tamanho, é praticamente igual ao do bar em São Paulo – que, por sua vez, é similar ao dos bares em Camden e Shoreditch, em Londres. A lista de cervejas da marca e convidadas é boa, mas não havia nenhum rótulo japonês, o que é um ponto negativo e me fez quebrar a regra de só tomar cervejas do país em que estou quando em férias. Fui obrigado a me contentar com uma excelente Stone Arrogant Bastard Oaked, dos Estados Unidos. Francamente…

Postado em 05/05/2014 por Tatiane Rosset | Comentários

Cervejas em aeroportos ainda não “decolaram” por aqui

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Belchior que me perdoe, mas não tenho medo de avião nem preciso segurar na mão do passageiro da poltrona ao lado quando embarco em um voo. Mas o “gole de conhaque” sugerido na letra da música do cantor me fez pensar que, antes de ficar horas esperando no aeroporto e, depois, espremido na classe econômica, seria bom degustar uma boa cerveja para viajar mais relaxado. O problema é que, em São Paulo, ainda é difícil que isso ocorra.

No Aeroporto Internacional de Guarulhos, por exemplo, só encontrei dois locais – o On the Rocks e o Balloon Café – que trabalham com uma marca artesanal brasileira, a Blondine, produzida atualmente em Curitiba (mas que terá fábrica no interior paulista), em quatro variedades básicas: Pilsen, Weiss, Pale Ale e Munich Dunkel. Já é alguma coisa, mas o aeroporto teve, no passado, variedade mais ampla. Antes havia, nas áreas de embarque, bares da Eisenbahn (com mais de uma dezena de rótulos próprios) e da Devassa, ambas marcas da Kirin, mas eles foram desativados.

Como comparação, passei no final de março pelo aeroporto internacional de Atlanta, o Hartsfield-Jackson, a caminho do Japão – viagem que renderá alguns dos próximos posts. Lá, a cervejaria local Sweetwater tem bares em dois dos terminais, sendo que, na minha visita, apenas um estava funcionando. À disposição dos clientes, seis torneiras da marca, com boas cervejas como uma American Pale Ale, Rye India Pale Ale (ou IPA feita com malte de centeio),  Imperial India Pale Ale, uma potente Imperial Stout sazonal e até uma receita com framboesas. Os preços dos pints (cerca de 450ml) variavam entre 6,50 e 8 dólares. As 14 horas restantes de viagem, em uma poltrona do meio na classe econômica, foram parcialmente aliviadas pela degustação.

Também vi garrafas da Sweetwater em outros bares e lanchonetes do aeroporto, onde ainda era fácil encontrar a Samuel Adams – que tem um espaço próprio por lá – e outros rótulos importados manjados, como a Guinness. A alegria, porém, terminou no avião, onde a oferta de marcas se resumia a Heineken, Miller e companhia. Um colega que partiu de Atlanta para o Colorado em voo local na mesma época, contudo, teve mais sorte e pode degustar a Sweetwater a alguns milhares de pés de altura.

Já de volta à realidade brasileira, resta torcer para que o novo terminal internacional de Cumbica tenha mais pontos de venda de cervejas artesanais locais ou importadas, ou que se amplie a oferta nos pontos existentes. Certamente será mais fácil enfrentar eventuais atrasos munido de boas fermentadas no copo.

Postado em 01/05/2014 por Tatiane Rosset | Comentários

Um trabalho cervejeiro para o 1º de Maio

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Não é preciso ter um motivo formal para apreciar uma cerveja, ainda mais se for um bom exemplar. Mas, a cada efeméride no calendário, me flagro pensando em quais fermentadas se encaixariam melhor nesta ou naquela ocasião. Há as mais manjadas, como cervejas com notas de chocolate (ou o próprio ingrediente) para a Páscoa, ou cervejas natalinas para o 25 de dezembro – embora boa parte das importadas chegue ao Brasil depois da celebração.

Mas e para o 1º de Maio, Dia do Trabalho? Forçando um pouco a memória, me ocorreu a lista abaixo, ideal para o clima fresco, quase frio, de hoje na capital paulista. Agora é só arregaçar as mangas e iniciar a árdua tarefa de prová-las durante o feriado:

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Burgman Working Class (600ml, 5,5%) – Produzida pela sorocabana Burgman, esta cerveja também se inspira nos trabalhadores ingleses, mas é de um estilo diferente, o Oatmeal Stout. Como sugere o nome, ela leva aveia na composição. Corpo macio e final levemente adocicado. A R$13 na Sinnatrah (tel.: 3862-5421/ 35673542).

 

 

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Chimay Dorée (330ml, 4,8%) – Esta Belgian Ale, bem menos alcoólica que os mais conhecidos rótulos da marca (White, Red and Blue), foi criada  para consumo dos monges trapistas e funcionários da cervejaria. Os trapistas seguem a regra de São Bento, ora et labora, ou reze e trabalhe. Leves notas frutadas e condimentadas, com corpo leve. A R$ 17 no Empório Alto dos Pinheiros (tel.: 3031-4328)

 

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Fuller’s London Porter (500ml, 5,4%) – o estilo Porter tem seu nomeassociado aos carregadores que trabalhavam em portos londrinos no Século 18. Boas notas de malte chocolate, café e torrado, com final seco. R$ 23,90 no site Cerveja Store.

 

 

 

Além dessas cervejas, há no mercado outras duas alusivas a trabalhadores. A Klein Estivadora, do Paraná, é uma Brown Porter que leva centeio na composição. Infelizmente, o lote disponível em São Paulo venceu exatamente um dia antes da comemoração do 1º de Maio. Outra leva deve chegar às prateleiras na segunda metade do mês.

Há, ainda, a Bodebrown Cara Preta, também paranaense, que homenageia os mineiros ingleses. Infelizmente, pesquisei seis pontos de venda na capital paulista e não consegui encontrá-la.

Postado em 24/04/2014 por Tatiane Rosset | 1 comentário

Após vencer torneio nos EUA, brasileiro abre a própria cervejaria

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O cervejeiro brasileiro e uma de suas produções caseiras.

Radicado nos Estados Unidos há 18 anos, o engenheiro de computação Cesar Marron, de 37 anos, decidiu começar a produzir cerveja em casa há quatro. “A ideia nasceu da paixão por cozinhar. Vejo a cerveja como alimento em forma líquida”, afirma ele, que é natural de Lençóis Paulista (SP). No final de 2012, ele começou a participar de concursos de cervejeiros caseiros, e arrematou 12 medalhas em 15 competições. A mais destacada delas veio no final de 2013, quando foi um dos dois vencedores do torneio Longshot, organizado pela Samuel Adams, uma das marcas precursoras do movimento artesanal norte-americano.

O prêmio inclui a produção da receita em escala comercial, o que ocorreu entre o final de fevereiro e o início de março deste ano. Cesar recebeu há alguns dias as garrafas – com um desenho seu no rótulo -, e avalia que a vitória deu impulso ao seu projeto de criar uma “nanocervejaria” na cidade em que vive – Evanston, em Illinois.

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Garrafa da Samuel Adams Grätzer, que leva caricatura do Brasileiro César Marron no rótulo. Ao lado, outra cerveja vencedora

Em sua décima edição, a competição reuniu mais de mil cervejas participantes e premiou, além do brasileiro, uma American Stout feita por um cervejeiro caseiro da Flórida e, em categoria separada, uma India Pale Ale com abacaxi produzida por uma funcionária da Samuel Adams. Cesar escolheu uma receita ao mesmo tempo histórica e inovadora para a disputa: uma Grätzer ou Grodziskie, cerveja de origem polonesa que leva malte de trigo e um tipo especial de malte defumado na composição.

O estilo foi incluído em 2013 na lista de diretrizes da Brewers Association, entidade norte-americana que organiza concursos cervejeiros. “Tive de ajustar bastante a água que usei na produção, para ficar igual à empregada pelas fábricas na Polônia há 200, 300 anos. Também precisei usar um malte defumado em carvalho, diferente do utilizado em outros estilos de cerveja.” O cervejeiro admite que, pela receita inusitada, não esperava ganhar o concurso –o  que lhe rendeu um susto ao saber que estava entre os semifinalistas. “A organização pediu mais garrafas dela, e eu tinha enviado as últimas para outra competição. Tive de explicar a situação ao pessoal desse outro torneio, e buscar às pressas as garrafas, que estavam no meio de outras 1.200.”

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O brasileiro César Marron (esq.) e o cervejeiro da Samuel Adams Dean Gianocostas, em uma das plantas da fábrica

Um dos juízes do concurso da Samuel Adams, Norman Miller, do blog cervejeiro Beer Nut, escreveu que a escolha da cerveja do brasileiro gerou polêmica na mesa de avaliadores. “Alguns, eu entre eles, achamos que a cerveja era fenomenal e uma boa maneira de apresentar às pessoas um estilo polonês pouco conhecido, levemente defumado e feito com trigo. Outros juízes acharam que ela era muito fraca, mas ainda assim a cerveja venceu, deixando para trás outros excelentes finalistas.” De fato, a receita produzida comercialmente teve um acréscimo de força alcoólica – passou de 3,2% para 4,4% -, mas, segundo Cesar, manteve a essência da versão caseira. “Ela ficou bem leve, uma cerveja de verão, mas com um gosto perceptível de fumaça.”

Embora não tenha recebido dados oficiais sobre o volume de sua cerveja que foi produzido comercialmente, Cesar ficou impressionado com o alcance da distribuição da receita, que ocorreu em escala nacional. “No primeiro dia de vendas, o Untapdd (aplicativo que permite aos usuários analisarem cervejas e compartilharem suas impressões) registrou 170 avaliações dela.” Embora a bebida já não seja considerada artesanal por alguns microcervejeiros americanos pelo volume que produz anualmente, ela tenta se manter próxima ao conceito de craft brewing. “Acredito que o concurso, além de manter a raiz artesanal da marca, é uma forma de ajudar os caseiros a se desenvolverem.”

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César Marron posa com a garrafa da cerveja vencedora do concurso, que leva sua caricatura

E essa ajuda ocorreu  no projeto de criar a Sketchbook, que ele chama de “nanocervejaria”, em Evanston, onde mora. “Sem dúvida eu ter ganho o concurso ajudou no projeto, ao destacar a minha credibilidade e facilitar a busca por parceiros. Meu foco ao fazer cerveja em casa sempre foi aprender o máximo possível e agarrar a oportunidade quando ela surgisse.” Lançado após o concurso, um projeto Kickstarter dele e de seu sócio, com objetivo de arrecadar 15 mil dólares para a empreitada, atingiu a meta em quatro dias.

A cervejaria, segundo ele, deve começar a funcionar em agosto, com capacidade média de 5 mil litros mensais (60 mil anuais), atendendo apenas a vizinhança. “A ideia é que a nossa fábrica retome o conceito de séculos atrás, onde cada vila tinha sua padaria, seu açougue próximo dos moradores”, afirma, e brinca: “Mas a repercussão do concurso já assustou uma vizinha nossa, que passou a me chamar de ‘cara da Samuel Adams’. Ela acha que vou atrair multidões para o bairro.”

Cesar tem acompanhado com curiosidade o mercado brasileiro de cervejas. “Meu irmão, que também é cervejeiro caseiro no Brasil, me manda notícias. Dá para perceber que há um crescimento forte por aí.” Ele afirma que, no futuro, sonha em abrir uma microcervejaria no Brasil. “Vou esperar de novo pela oportunidade.”

Postado em 23/04/2014 por Tatiane Rosset | Comentários

Um brinde ao aniversário da Lei de Pureza Alemã da Cerveja!

Reinheitsgebot

Cópia da ‘Reinheitsgebot’, a Lei da Pureza Alemã da Cerveja

É provável que você, leitor, não veja ninguém erguendo um brinde na mesa do bar em homenagem à Lei de Pureza Alemã da Cerveja — ou, para complicar um pouco, a Reinheitsgebot, como é chamada em seu país natal. Mas a regra, criada em 23 de abril de 1516 pelo Duque Guilherme IV da Baviera é considerada a mais antiga norma alimentar ainda em vigor e até hoje gera acalorados debates entre fãs de cerveja nas redes sociais.

Em linhas gerais, a norma regulamentava o preço da cerveja em dois períodos do ano, mas também determinava que a bebida só poderia ser produzida com água, malte e lúpulo – a levedura, outro protagonista da cerveja, não tinha seu papel exato conhecido à época, sendo isolada e controlada apenas séculos depois.

Há países, como a Bélgica, que desenvolveram excelentes escolas cervejeiras sem restrições similares à Reinheitsgebot, usando açúcar e ingredientes como coentro e casca de laranja em suas receitas. Os belgas são rotineiramente citados como exemplo por críticos da Lei de Pureza, para quem a norma cria uma “amarra” à criatividade dos cervejeiros. O que é visto como obstáculo por uns, porém, é considerado um desafio extra por defensores da regra. Estes citam como exemplo a grande quantidade de estilos, alemães ou não, que usam apenas os quatro ingredientes.

No Brasil, no início do renascimento cervejeiro artesanal, ocorrido há pouco mais de uma década, era comum ver pequenos produtores enfatizando que suas crias seguiam a Lei de Pureza. O que não quer dizer, nem no caso local nem no mundial, que com isso a cerveja seguramente será boa. Muitos rótulos fracos foram e ainda são produzidos por aqui, e nem a Reinheitsgebot nem qualquer outra escola cervejeira podem ser culpados por isso.

Pessoalmente, mais do que enfatizar uma suposta pureza cervejeira, prefiro encarar o 23 de abril como uma celebração das boas receitas alemãs. É o que farei logo mais. Prost!

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