A Meditação
A MEDITAÇÃO
Entre os exercícios mais indicados para avançar no caminho da perfeição, nenhum é recomendado com tanta insistência por todos os mestres espirituais,como o da oração mental ou meditação. É meio indispensável para se chegar à perfeição. Sem ela, nunca um discípulo conseguirá corresponder à sua vocação, que é a vocação para a perfeição.
Diz S. Vicente de Paulo que “a meditação é necessária aos que se consagram ao serviço do altar como a espada ao soldado”. Por isso, todo o discípulo que deseja seriamente tornar-se um dia sacerdote segundo o Coração de Jesus, dará ao exercicio da meditação a importância que realmente merece, e fará da meditação objecto de todos os seus esforços. É pela fidelidade á meditação quotidiana que o discípulo tem a certeza de alcançar a perfeição e chegar, bem preparado, à dignidade sacerdotal e ao ministério da salvação das almas. Nunca a deve deixar por fazer seja sob que pretexto.
E quando o trabalho mais o preocupar e fôr mais intenso, mais tempo nela deve empregar. Para isso, compenetre-se bem do seu valor, importância e necessidade. Para tanto, basta lembrar, resumidamente, o que ela é e quais as suas vantagens.
O QUE É?
É uma elevação e aplicação da nossa alma a Deus, para lhe prestarmos as homenagens, que lhe são devidas, e nos tornarmos assim melhores para a sua glória. Ou, por outras palavras: é uma afectuosa consideração dos divinos mistérios e outras verdades, com a qual a alma é levada a louvar, temer e amar a Deus, a imitar as virtudes de Jesus Cristo, da SS.ma Virgem e dos Santos, a fugir do mal e a seguir o bem.
QUAIS SÃO AS SUAS VANTAGENS?
Para empregar umas palavras de S .to Agostinho e de S. João Crisóstomo, pode dizer-se que ela é sol que espalha a sua benéfica luz sobre a nossa alma, alimento que sustenta a sua vida, remédio que a cura das suas feridas; é para a alma o que os nervos são para o corpo: princípio de vigor e movimento—sol animae, cibus, pharmacum nervi.
1) Desapega-nos do pecado e das suas causas. Com efeito, é a meditação que nos ilumina sobre a malícia do pecado e nos fortifica a vontade para podermos resistir aos ataques do demónio. A meditação é a melhor arma que temos à mão para alcançar vitória sobre as tentações. Valendo-nos deste remédio bendito, ponhamos o nosso coração sobre as brasas do Divino Amor, deixemo-lo arder nestas chamas celestiais, por meio da oração, e estejamos certos de que o fumo aromático da devoção que dela sair, será bastante para desterrar o demónio e destruir todos os laços que ele arma sobre o caminho da nossa vida. Se perdemos a vitória, não podemos alegar escusa, pois temos sempre à mão arma tão segura.
2) Faz-nos praticar todas as grandes virtudes cristãs. Ilumina a nossa fé, sustenta a nossa esperança, estimula a nossa caridade, torna-nos prudentes, justos fortes e temperantes. Não há virtude que não possamos adquirir com a meditação quotidiana.
3) E’ um remédio contra as tristezas da vida e é fonte de consolações e alegrias espirituais. Vivemos num vale de lágrimas e de misérias, sujeitos a perturbações, tristezas e melancolias. O mais eficaz e poderoso remédio para as vencer é a meditação.É’ o que nos ensina o Divino Espírito Santo, pela boca do Apóstolo S. Tiago.
4) É a chave dos tesouros do céu. S.to Agostinho chamou à meditação chave do Paraíso. E, com efeito, a meditação é uma chave de ouro que serve em todos os cofres e tesouros do céu. Abrir o Coração de Deus, por meio da meditação bem feita, é abrir os tesouros riquíssimos da divina misericórdia.
5) Prepara a nossa união e até a nossa transformação em Deus. A meditação è uma conversa com Deus. A força de tratar com o autor de todas as perfeições, deixamo-nos penetrar e embeber por Ele, como a esponja se deixa penetrar pela água, ou como o ferro, mergulhado na forja, se transforma num tição ardente.
COMO SE FAZ?
1 – Quando se tem um livro sobre o qual se deseja meditar:
a) Ler à noite os pontos da meditação para o dia seguinte, fixando-os; ao deitar, recordá-los; ao despertar, pela manhã, não pensar em mais nada, porque a meditação requer o coração quieto e sossegado; cultivar, com verdadeiro esmero, a guarda dos sentidos externos e da imaginação.
b) Fazer oração preparatória: imaginar a cena que se vai meditar ou outra que com a meditação tenha relação, para fixar a imaginação com objecto sensível; e, finalmente, pedir a Deus que nos conceda a graça de tirarmos da meditação o fruto que desejamos.
c) Aplica-se a memória, lendo pensadamente ou lembrando os pontos da meditação anteriormente preparados. Aplica-se o entendimento, pensando quais, as conclusões práticas a tirar; que motivos me levam a isso; como me tenho havido neste ponto; que fazer para o observar melhor; que obstáculos devo remover; e quais os meios a empregar. Aplica-se a vontade, formulando, ao fim de cada ponto, resoluções práticas, pessoais, sólidas, humildes e cheias de confiança, e excitando afectos acomodados ao que se vai meditando. Nestes afectos é que consiste principalmente o fruto da meditação; deles, portanto, se deve fazer muito uso, multiplicando-os e dilatando-os propositadamente.
d) Toma-se umà~resolução para praticar durante o dia. Esta resolução, em geral, há-de ser acomodada ao nosso estado de perfeição e por isso deve ter relação com o exame particular. Um pequenino pensamento, ou uma jaculatória (ramalhete espiritual) ajudará a lembrar o propósito durante o dia. Oferecer o propósito a Deus, pedindo graça para o cumprirmos generosa e fielmente. Rezar a acção de graças.
Quando a meditação é lida ou pregada por alguém, devemos ouvir com atenção e procurar exercitar as faculdades da nossa alma, conforme fica indicado, para se tirar todo o proveito possível.
2 – Quando não se tem livro:
Apresentam-se apenas três de entre os muitos métodos que existem :
1º Método: Pondo-nos na presença de Deus ou imaginando-nos diante de Cristo, peçamos-lhe graças para conhecer a beleza da sua lei e os pecados que contra ela cometemos, e logo sobre cada um dos mandamentos de Deus ou da Santa Igreja, ou sobre os nossos deveres e as virtudes próprias do nosso estado, etc, formaremos dois actos:
- a) exame, vendo as faltas cometidas nesta matéria;
- b) arrependimento, pedindo delas perdão, com propósito firme de emenda.
2.° Método: Rezar lentamente uma oração qualquer de que se gosta, como o Pai-Nosso, a Avè-Maria, a Salve Rainha, etc, para considerar e saborear a significação de cada palavra.
3.° Método: Fazer passar pela imaginação e pelo coração qualquer mistério de Nosso Senhor Jesus Cristo, a fim de gravarmos, mais profundamente, na alma, todas as circunstâncias desse mistério e excitarmos, no coração, piedosos sentimentos e boas resoluções. Termína-se com um piedoso colóquio com Jesus e com sua Mãe, pedindo a graça de amar, com maior generosidade, o nosso Divino Salvador.
A prática da meditação, embora pareça complexa, na realidade é de muito fácil aplicação, contanto que nos esforcemos por a aprendermos bem. Desde que haja da nossa parte boa vontade e um verdadeiro e generoso esforço, a graça de Deus não faltará e suprirá a insuficiência da nossa acção. O que importa é fazer sempre a meditação.
Piedoso discípulo, podes seguir um dos métodos acima indicados ou outros mais adaptados às necessidades da tua alma. Nisto, como em tudo o mais, deves seguir a indicação do teu Director Espiritual, o qual deve conhecer tudo que se passa em tua alma. Ele te dirá como deves proceder e deves seguir com docilidade as suas indicações.
Meu caro discípulo, sê sempre fiel á tua meditação.