sexta-feira, 13 de agosto

O surrealismo comunista

Se alguém ainda duvida de que o controle de informações do modo como era feito na antiga União Soviética é coisa do passado, basta olhar para um dos parceiros preferenciais do nosso governo: a China. Pensando bem, basta olhar para o último plano a borbulhar na cachola do Efelentífimo. Mas eu digrido.

A China tem um equipamento de escala colossal capaz de bloquear o acesso a sites que as babás estatais considerem perigosos para as mentes frágeis dos seres criados no Jardim do Éden comunista. Pensem bem: filtrar a internet de um país inteiro. Coisa grande, menino, como nos tempos do papai Josef.

Graças à incômoda liberdade de investigação do mundo ocidental, dois pesquisadores da Harvard Law School analisaram o sistema de bloqueio de sites do governo chinês e publicaram os resultados na internet, o que não deixa de ser irônico. Uma das descobertas é que a lista dos 18 mil sites bloqueados é incrivelmente dinâmica – ou seja, é o resultado do trabalho de uma equipe de babás, provavelmente gigantesca, trabalhando dia e noite para sua maior segurança. Nem a imaginação mais desvairada de um Kafka seria capaz de conceber algo tão surreal. A única diferença é que neste caso a coisa é de verdade.

Olhar apenas para a existência de um bolsão de atividade econômica privada não é uma boa maneira de ver o nível de liberdade num país. A liberdade econômica está longe de ser a única forma possível de liberdade, e nesse ponto já disputo a afirmação de Mises de que a liberdade econômica é um pré-requisito para os demais tipos de liberdade. A refutação a isso foi dada pela história, como gostam de argumentar os marxistas.

Para encontrar o comunismo, procurar, nesta ordem: a liberdade religiosa, a liberdade de acesso às informações, a liberdade econômica para os microempresários e a liberdade de escolha profissional da população em geral. Ou a falta delas.

segunda-feira, 9 de agosto

Eu li e recomendo

Todas as Festas Felizes Demais

segunda-feira, 2 de agosto

A resenha de quadrinhos como forma de pretensão

Morcego e HellboyHellboy é a melhor história em quadrinhos dos últimos anos. Ainda assim, sofre do mesmo problema de tantos outros roteiros: o mal é muito mais bem caracterizado que o bem. Não me canso de lamentar isso novamente a cada vez que leio as graphic novels, até porque termino quase sempre com esse único porém me incomodando como um espinho encravado.

Tudo o mais é absolutamente exuberante e surpreendente, incluindo o traço de Mignola, único e reconhecível a cem metros de distância, os personagens, as soluções do enredo. Mas, no final, aquela sensação de que ficou faltando alguma coisa. Quanto à adaptação para o cinema, esta evitarei comentar. O filme é um exemplo tão perfeito de pasteurização que deveria ser usado por produtores de leite como material de treinamento.

Nada mais comum que obras que têm nos mundos inferiores sua fonte de inspiração, ao mesmo tempo em que deixam de lado qualquer menção aos superiores. É algo como uma nova cosmologia aleijada onde só existisse o avesso, sem o algo do qual o avesso é avesso. Aranha e HellboyPretendem que o inferno é cool, tem um monte de demonões legais, céu é coisa para velhos carolas. Esquecem apenas que o inferno é um conceito tão religioso quanto o céu, e mais: pode-se compreender o segundo sem o primeiro, mas nunca o contrário.

Uma das coisas mais bem descritas em Hellboy são os demônios e demais seres sublunares, com direito a representações dos reinos infernais e seus habitantes, os quais ganham espaço em praticamente todas as histórias. E é óbvio que toda essa diversidade visual é responsável pela gostosa sensação de ter acabado de visitar um zoológico, um dos pontos fortes da leitura, bem como pela associação com Lovecraft, devida e assumida.

Em todas as histórias só há uma única menção à existência do céu em oposição ao inferno. É em Box Full of Evil, citada – ironicamente – por um demônio.

Quando o mal não ganha destaque pela multiplicidade de formas, ele o faz pelo realismo. As motivações de Rasputin, por exemplo, são muito mais verossímeis que as do personagem principal. Isso nos leva à falha de roteiro mais evidente de toda a série: o que diabos (sem trocadilho) leva Hellboy a abandonar seu destino e escolher outra identidade para si mesmo? Qual é a motivação do personagem?

No filme sugere-se como resposta o Cristianismo, ainda que de maneira vaga e associada ao apego de Hellboy a seu “pai” terrestre. Ou seja, não fica claro se a equação é “não sou um demônio porque sou filho de Deus” ou “não sou um demônio porque sou filho de Trevor Buttenholm”. Nos quadrinhos isso é pior ainda. Ou esperam que eu acredite que foi tudo por causa daquelas panquecas? OK, é só ensinar ao demoninho o american way of life e está tudo resolvido. Yeah, right.

Leões e HellboyMas voltemos aos princípios. Neste caso, o seguinte: nunca podemos amar o que não conhecemos. O corolário é que acabamos por amar tudo aquilo que conhecemos muito bem, querendo ou não. Ou seja, o resultado de desconhecer o bem e conhecer minuciosamente o mal só pode ser o de amar o mal.

Depois de uma longa visita a uma galeria de horrores, não é de surpreender que a certa altura comecemos a tomar os horrores pela realidade – isso se a visita for longa o suficiente. O único remédio é aumentarmos intencionalmente a quantidade de informação disponível a nossos próprios olhos sobre o que é bom. Ajuda falar claramente: a alma, os anjos, a inspiração divina, os santos, a Igreja, Deus. Dá trabalho. Contudo, apresento aqui um bom argumento: não há outra saída.

terça-feira, 27 de julho

Babu e eu

Quando concordamos em participar do livro, ninguém imaginava que receberíamos tantas aulas gratuitas de antropologia sob a forma de comentários invejosos e enraivecidos. Mas eis que, de súbito, se nos exibe um espetáculo de almas que, entre convulsões, expõem-nos suas entranhas. (Coisa deplorável de se fazer em público, isso de expor entranhas.)

A situação se me apresentava familiar, sem que eu pudesse dizer exatamente por quê. Vejamos: algumas pessoas sentadas, com jeito de quem fica em casa muito tempo e não faz esporte, assistindo assombradas a um festival de ressentimentos que passa diante delas como um filme.

Só então percebi. Era o último episódio de Seinfeld. Estamos vivendo o último episódio de Seinfeld! Aquele em que Seinfeld, Elaine, Kramer e George eram julgados num tribunal, e as testemunhas eram todas pessoas que tinham qualquer coisa contra os quatro. A diferença é que agora, em vez de quatro, somos onze.

Alguns dirão que a turba tem razão em nos censurar. Afinal, como ousam esses blogueiros inúteis rir das questões políticas mais importantes da nossa atualidade? Pois o que pode haver de mais importante que a exploração do capitalismo, o PT, a Marta Suplicy, o MST? O que são Aristóteles, Shakespeare, a Bíblia diante de monstros sagrados como esses? OK, admito, o inúteis foi por minha conta.

O ponto é: esses blogueiros não tratam as questões do nosso tempo com a seriedade devida. Aí lembrei: Babu. Sim, Babu, o simpático paquistanês que tinha um restaurante em frente ao apartamento de Seinfeld e que acabou sendo deportado depois que Seinfeld não lhe entregou os documentos de imigração. Lembram-se do depoimento dele no julgamento?

Mas eles não se importavam. Eles são completamente indiferentes! Tudo o que fazem é zombar de mim, como faziam com o gordo. O tempo todo. Zombar, zombar, zombar! O tempo todo! Agora é a vez de Babu zombar. Enfim a justiça será feita! Mande-os embora! Mande-os todos embora! Tranquem-nos para sempre! Eles não são humanos. Muito mau! Muito, muito, muito mau!

Essas últimas palavras (“muito, muito, muito mau”) Babu fez acompanhar de um dedinho levantado e que balançava de um lado para o outro, fazendo o sinal de “nananão” que se mostra para crianças que espalham os subprodutos de sua digestão na sala de jantar.

Extremamente apropriado, como podem ver.

Mais ainda quando se considera que, obviamente, “Paquistão” ocupa no roteiro o lugar de “país genérico povoado por pessoas estranhas e mundialmente insignificante”. Captaram a mensagem?

Mais uma vez, o comportamento brasileiro é antecipado e mapeado desde fora. Neste caso com seis anos de antecedência, já que o último episódio de Seinfeld foi ao ar em 1998. É uma tendência que se verifica desde 1900, quando Frodo publicou A Interpretação dos Sonhos. A antropologia é mesmo uma coisa belíssima.

segunda-feira, 26 de julho

Welcome to the fishbowl, guys

A equipe de programadores que faz o Internet Explorer tem um blog. Até aí tudo bem, dirão. Mas os comentários, ah, aí é que está toda a diversão. Há algo de muito refrescante para a alma em dizer para esses caras tudo aquilo que... bom, deixa para lá. Mas sempre com educação, claro, para não descobrirem que sou brasileiro. Não é possível que alguém goste desse browser. Qualquer um que já tentou fazer um site com CSS já sofreu nas mãos da Microsoft.

O mais engraçado é olhar a lista de alterações sugeridas e ver que TODOS os itens já estão em ação no Firefox. Rapaz, o Firefox é um sonho. Opa, melhor tirar esse "rapaz", depois dirão que somos misóginos, eu, meus gatos e a Jules, que é mulher.

Um dos chefões do projeto Firefox, Ben Goodger, também gostou do blog. Tanto que deixou um comentário, de singeleza ímpar. Isso é ótimo, desafios públicos. Sou a favor, até perceberem que o Internet Explorer já morreu e ninguém percebeu. E dê-lhes tapa com luva de pelica. Welcome to the fishbowl, guys. Humm, "guys", ele disse. Será misógino?

quinta-feira, 8 de julho

O governo é Matrix

O filme Matrix, como todos sabem, mostra uma guerra de duas fases entre as máquinas e os seres humanos. Na primeira fase, as máquinas fazem de tudo para destruir seus criadores. Na fase seguinte, ficam mais inteligentes: passam a escravizá-los colocando-os dentro da Matrix, "um mundo de sonhos gerado por computador, construído para transformar um ser humano nisto aqui", explica o personagem Morpheus, apontando para uma pilha.

Nunca vi um retrato mais perfeito do controle do governo sobre a sociedade livre. Até as fases são as mesmas. A fase do comunismo foi a época da guerra aberta, cujo resultado bem conhecido foram cem milhões de mortos. A fase seguinte, que vivemos agora, consiste em escravizar a sociedade livre, colocando sobre seus ombros uma carga tão pesada de impostos e legislação que o financiamento do estado passa a ser o verdadeiro propósito da existência de toda a iniciativa privada.

A segunda fase é, sem dúvida, mais inteligente que a primeira. Afinal, se não houvesse empresas o governo não teria de quem roubar. Muito mais esperto do que isso é permitir a existência de um bolsão controlado de capitalismo, para que o governo possa sugá-lo. Se o governo é o monopólio do crime, colocar o capitalismo a serviço do socialismo é o crime perfeito.

É por isso que não é vantajoso para o PT transformar o Brasil numa União Soviética. O PT gosta do capitalismo, porque pretende parasitá-lo e mantê-lo vivo ao mesmo tempo. Enquanto isso, as empresas topam a brincadeira, pois passaram a se acostumar com o crescimento desacelerado, com a prosperidade "morna" -- em suma, com a mera existência. O Brasil nunca conheceu a prosperidade capitalista, parou de sonhar com ela e já não consegue nem mesmo imaginá-la.

E a Matrix? A Matrix é a gigantesca cortina de fumaça que nos vêm sobre os olhos vinda das pessoas benfazejas e maravilhosas que nos garantem ser tudo isso para o "bem comum". Ou ainda que é importante colocar as empresas "a serviço do social". Sempre que você ouvir a expressão "responsabilidade social", tenha a certeza de uma coisa: você está diante de fumaça em estado sólido.

terça-feira, 6 de julho

O que aprendi ontem à noite

Muitas coisas.

Que muitas pessoas tinham contraido AIDS. No caso do Dante foi do próprio pai, o Dalai Lama, durante o parto.

Que o lançamento foi o melhor já visto naquela livraria, desde que abriu as portas. Mas devem dizer isso para todos.

Que na livraria se realizavam rituais gnósticos, motivo pelo qual precisam expulsar rapidamente todos os presentes após determinada hora.

Que não cansa, realmente não cansa ficar assinando livros durante horas, porque todos são tão simpáticos.

Que procuraram no blog do Radamanto e não encontraram nada "de direita", o que muito o decepcionou. Tudo bem, Radá, pronto, pronto.

Que é muito bom ler os posts no livro, melhor que na internet, muito melhor.

Que os wunders são os amigos mais queridos para se ter ao alcance da mão, especialmente se for seu aniversário. Compre você também o seu, temos preço bom e não sujamos a casa.