ABRUPTO

31.8.04


APRENDENDO COM O PADRE ANTÓNIO VIEIRA: "SE PERGUNTA A SABEDORIA DIVINA, PORQUE NÃO PERGUNTARÁ A IGNORÂNCIA HUMANA?"

"Vos autem quem me esse dicitis?" (S. Mateus, XVI.)

"Mui seguro está do seu valor quem tira a sua opinião ao campo. E se é temeridade tomar-se com muitos, com todo o mundo se tomou quem desafiou sua fama. Na ocasião de que fala S. Mateus (cujo é o Evangelho que hoje nos propõe a Igreja) diz que perguntou Cristo, Senhor nosso, que diziam dele os homens: "Quem dicunt homines esse Filium hominis?"

Perguntou o Senhor, para que os senhores que mandam o Mundo se não desprezem de perguntar. Se pergunta a sabedoria divina, porque não perguntará a ignorância humana? Mas esse é o maior argumento de ser ignorância. Quem não pergunta, não quer saber; quem não quer saber, quer errar. Há porém ignorantes tão altivos, que se desprezam de perguntar, ou porque presumem que tudo sabem, ou porque se não presuma que lhes falta alguma cousa por saber. Deus guie a nau onde estes forem os pilotos.

Não perguntou o Senhor o que era, senão o que se dizia: "Quem dicunt?" Antes de se fazerem as cousas, há-se de temer o que dirão; depois de feitas, há-se de examinar o que dizem. Uma cousa é o acerto, outra o aplauso. A boa opinião de que tanto depende o bom governo, não se forma do que é, senão do que se cuida; e tanto se devem observar as obras próprias, como respeitar os pensamentos e línguas alheias. A providência com que Deus permite a murmuração, é porque talvez de tão má raiz se colhe o fruto da emenda. E se eu de murmurado me posso fazer aplaudido, porque me não informarei do que se diz?"



Monet


EARLY MORNING BLOGS 298

Memory


My mind lets go a thousand things,
Like dates of wars and deaths of kings,
And yet recalls the very hour--
'Twas noon by yonder village tower,
And on the last blue noon in May--
The wind came briskly up this way,
Crisping the brook beside the road;
Then, pausing here, set down its load
Of pine-scents, and shook listlessly
Two petals from that wild-rose tree.


(Thomas Bailey Aldrich)

*

Bom dia!


30.8.04


PRIMEIRO NOS SELOS, DEPOIS NOS LIVROS



Os coleccionadores de selos são uma forma especial de doidos mansos, em particular os que, contrariamente a todas as recomendações, coleccionam tudo. Sobre o Oceano Pacífico alemão, aprendi com os selos coloniais alemães, antes de reencontrar o “Grosse Stiller Ozean”no Corto Maltese da Balada do Mar Salgado.


Sobre as batalhas desesperadas dos exércitos e guerrilhas, deixados perdidos no extremo oriente pela derrota alemã e pela revolução bolchevique, conhecia-as da selva dos selos russos dos anos 1918-1924, antes de ler a história em Hopkirk, num magnifico livro onde também andam personagens que Hugo Pratt usou para o Corto Maltese.


ESPELHO UM DO OUTRO

Que os radicais “fracturantes” das organizações do Bloco de Esquerda trouxessem cá o barco para organizarem uma operação de propaganda usando a “causa” do aborto, vá que não vá, estão no seu papel. (Dois caveat. O primeiro é que se violarem a lei devem sofrer as consequências, tanto mais que se trata de uma iniciativa claramente política, não um trágico aborto às escondidas em estado de necessidade de uma infeliz mulher. Não é a mesma coisa. Numa democracia é assim, mesmo quando não se concorda com a lei. O segundo é que, ao transformar a questão do aborto numa guerrilha radical, fazem estragos consideráveis no esforço moderado e necessário para acabar com a criminalização do aborto. Convém não esquecer que, seja qual for a evolução da situação, deverá haver um referendo, e no referendo os excessos pagam-se.)

Agora que o governo português resolva actuar como um espelho do Bloco, como um grupo radical de sentido contrário, com todos os tiques do radicalismo ideológico, com a agravante de abusar dos meios do Estado, é que coloca uma questão muito mais grave do que o folclore do barco. Se o barco foi uma provocação, este governo respondeu-lhe ao mesmo nível.


UMA PERIGOSA ESTUPIDEZ

As revistas feitas pela Polícia Marítima a um barco português só se justificam caso haja séria suspeita de que este esteja envolvido numa actividade criminosa. Não se fazem revistas a um barco (ou a um carro, ou seja lá o que for) para intimidar as pessoas que lá vão. As forças armadas portuguesas não podem ser usadas para acções de intimidação contra cidadãos que não estão a violar nenhuma lei, mesmo que não se concorde com as suas acções e opiniões. As forças armadas portuguesas não podem ser usadas para servir de cobertura a encenações políticas. O Presidente da República é posto directamente em causa se não fizer ou disser nada.


UMA CARA ESTUPIDEZ

Mas que cara estupidez é essa de ter dois barcos de guerra a controlar um pequeno barco, só para fazer figura? Não estou aqui a discutir a decisão de impedir o barco de atracar, que é uma outra questão. Só pergunto se não há outros meios mais baratos e discretos de controlar um barco nas águas internacionais. É que este espavento, (caro, insisto), é uma marca de água do ocupante da Defesa, que envergonha os militares sob sua alçada. Show off.


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: UMA PERGUNTA

"Gostaria de fazer uma pergunta relativa ao «barco do aborto»: o que se passaria se o «barco do aborto» fosse o «barco da excisão feminina»?"

(José Carlos Santos)

*

"A técnica de discussão de arrastar para o campo oposto ideias ou situações indefensáveis é velha e funciona bem. São no entanto situações incomparáveis, que se saiba as mulheres que desejem, proceder a uma interrupção voluntária da gravidez não vão ser arrastadas à força para a embarcação da Woman on Waves. Já no caso da excisão feminina não sei se seria esse o caso."

(João Figueiredo)



A LER E A VER

todos os Jogos Olímpicos no bomba inteligente. (Este nome encanita-me, como diz o Vasco PV).

Claro que há perfeição. Os gregos descobriram-na há quase três mil anos. Ao mesmo tempo descobriram a imperfeição.


SOBRE A MINHA INVICTA TERRA

o Avenida dos Aliados.

De que roubo a fotografia da ponte D. Maria abandonada.

Quantas vezes a atravessei de comboio, vendo o medo dos lisboetas que acreditavam numa lenda urbana , a de que a ponte estava para cair? Muitas e algumas a pé. Faltava-se às aulas no Alexandre Herculano, um pouco lá para trás, e das Fontainhas passava-se por aquele sinistro colégio e depois pela escarpa abaixo passando as linhas-férreas e atravessando os túneis, sempre a olhar para as reentrâncias cavadas na rocha, não viesse um comboio. Era uma verdadeira aventura porque, quando chovia, a água que se infiltrava nos túneis escorria do tecto, misturada com a fuligem do carvão das máquinas e sujava a roupa, indício seguro de asneira. Depois passava-se por uma cerca de arame, meia derrubada e chegava-se ao tabuleiro. Então corria-se para atravessar a ponte, não fosse aparecer um comboio num dos lados. A ponte era de via única e havia um “testemunho” que os maquinistas recebiam nas Devezas e entregavam em Campanhã. Sem “testemunho” não se podia atravessar a ponte. Correr na ponte era perigoso porque a ponte era exclusivamente ferroviária e não era suposto ser atravessada por peões. O pequeno passeio lateral para manutenção era coberto por tábuas pequenas, muitas das quais já tinham desaparecido ou estavam partidas e podres e pelos buracos via-se o Douro a correr lá muito abaixo. Muito abaixo. Depois chegava-se ao lado de Gaia e era voltar pelo mesmo caminho. Não se esquece.


*

"Mais interessante ainda era estar no pequeno passeio lateral quando de facto o comboio passava! Não se imagina, indo lá dentro, o que a ponte abana cá fora. Só me aventurei uma vez... Se já metia medo só de olhar lá para baixo sem nada a passar, quando a máquina avançava lentamente parecia que a trepidação nos ia inevitavelmente projectar para o Douro. Agarrei-me ao ferro da ponte e decidi rapidamente que haveria de certeza outros locais muito interessantes para fotografar noutro lado qualquer..."

(Tiago Azevedo Fernandes)

*

"Recordo os momentos mais próximos que tive com o meu Pai. Sair de casa (do lado de Gaia), procurar a entrada para a ponte algures nos terrenos adjacentes ao campo de tiro do regimento de artilharia da Serra do Pilar, e lançarmo-nos á aventura! De tantos em tantos metros (pareciam-me muitos, era bem pequeno), havia refúgios, que permitiam ficar protegido do efeito de sucção do comboio. A ponte vibrava, mas sentia-se maior protecção... Inexistente, todavia, a sucção, porque os comboios reduziam a sua velocidade a 30 ou 40 km, já não me lembro bem. Depois, chegar a campanhã, apanhar o autocarro de volta ao centro, e o 'trólei' de volta para Gaia, já em segurança, na ponte D. Luís. E lembro-me, claro da viagem de despedida: vindo de Lisboa, propositadamente saímos em Campanhã, para espreitar da janela o rio e sentir a vertigem que tanto assustava os viajantes do resto do País.

As pontes do Porto têm um brilho especial. E disto fazem parte também os túneis para S.Bento e para a Alfândega. Há tempos li um projecto de reaproveitamento deste circuito. Porquê ser megalómano? Mais fácil seria abrir a ponte para percursos pedestres... aliás, é desta ponte que se tem a mais bonita vista doPorto: a Escarpa de Gaia, as Fontanhias, o colégio. E olhando para o outro lado, ver (será que ainda se vê?), o Monte Castro, o Areinho, o Palácio do Freixo.

Memórias doces... Mas aqui fica a sugestão! Em vez de comboios antigos, porque não, pura e simplesmente, abrir a ponte á travessia de pessoas?"

(Daniel Rodrigues)


AR PURO: VEM OUTONO


Isaak Levitan

*

"Não fora uns ramos de um abeto no lado esquerdo do quadro, e eu diria que Levitan se tinha sentado ali na "alverca", na estrada entre a Golegã e a Azinhaga, e tinha decidido pintar um cenário que me é bem familiar. Uma das coisas boas da vida é ter memória e memórias. Li aqui há tempos alguém que dizia que somos só memória. O que faz imenso sentido. Tudo o que somos já foi, acabou de ser. Não se trata de nostalgias ou saudades. É termos uma história. É vida. Não é querer voltar a viver o que já se viveu ou querer voltar para trás, nem sequer é usar as memórias para ocupar o presente. É sermos o que somos, com o que já fomos.

Venha o Outono! (Com Inverno, Primavera e Verão já incorporados…)
"

(RM)


EARLY MORNING BLOGS 297

ROMANCE DEL JURAMENTO QUE TOMÓ EL CID AL REY DON ALONSO

En santa Gadea de Burgos, do juran los hijosdalgo,
allí le toma la jura el Cid al rey castellano.

Las juras eran tan fuertes que al buen rey ponen espanto;
sobre un cerrojo de hierro y una ballesta de palo:

—Villanos te maten, Alonso, villanos, que no hidalgos,
de las Asturias de Oviedo, que no sean Castellanos;
mátente con aguijadas, no con lanzas ni con dardos;
con cuchillos cachicuernos, no con puñales dorados;
abarcas traigan calzadas, que no zapatos con lazo;
capas traigan aguaderas, no de contray ni frisado;
con camisones de estopa, no de holanda ni labrados;
caballeros vengan en burras, que no en mulas ni en caballos;
frenos traigan de cordel, que no cueros fogueados.
Mátente por las aradas, que no en villas ni en poblado;
sáquente el corazón por el siniestro costado;
si no dijeres la verdad de lo que te fuere preguntando,
si fuiste ni consentiste en la muerte de tu hermano.—

Jurado había el rey que en tal nunca se ha hallado,
pero allí hablara el rey malamente y enojado:
—Muy mal me conjuras, Cid, Cid, muy mal me has conjurado;
mas hoy me tomas la jura, mañana me besarás la mano.
—Por besar mano de rey no me tengo por honrado,
porque la besó mi padre me tengo por afrentado.
—Vete de mis tierras, Cid, mal caballero probado,
y no vengas más a ellas dende este día en un año.
—Pláceme, dijo el buen Cid, pláceme, dijo, de grado,
tú me destierras por uno, yo me destierro por cuatro.—

Ya se parte el buen Cid, sin al rey besar la mano,
con trescientos caballeros, todos eran hijosdalgo,
todos son hombres mancebos, ninguno no había cano;
todos llevan lanza en puño y el hierro acicalado,
y llevan sendas adargas, con borlas de colorado;
mas no le faltó al buen Cid adonde asentar su campo.


(Anónimo)

*

Bom dia!


A LUA

de novo. O ar tem a humidade do Outono, a melhor das estações. A caminho.


29.8.04


A VER E A LER

o Companhia de Moçambique e o Ma-Schamba que estão a publicar um album de fotografias de Moçambique, feito pelo comerciante José dos Santos Rufino, nos anos vinte. Os textos da Companhia de Moçambique são um muito interessante retrato da nossa história colonial e das pessoas que a fizeram.



G. H. Davis, Closing Up


EARLY MORNING BLOGS 296

Artificial Horizon


Thirty-five hundred feet above the earth, I said goodbye
to the heartland with its musk of animals and alfalfa,

to the Coralville Reservoir and its wounded
peregrine falcon with the dusky blue feathers,

to the lattice of pastures interlaced like Celtic spirals,
full of pink-snouted spotted pigs and overflowing corncribs,

to the cemetery with its black angel and tombstones
engraved with contemporary memento mori--

Garfield the cat, a pack of Marlboros, a Corvette--
instead of death's heads and winged cherubs.

We flew farther--saw the golden dome of the Maharishi
levitating and the barges on the Mississippi marking twain.

And hard by my hip, my pilot star, your long fingers
controlled the ailerons, practicing skid and slip,

Touch and go, bank and stall, keeping a steady hand
as we flew beyond the bounds of the artificial horizon.


(Sue Standing )

*

Bom dia!


VER A NOITE

Hoje a Lua cumpriu o seu dever. De manhã muito cedo, os amadores da "early morning", podem, nos próximos meses, ver as "luzes do Zodíaco", um falso nascer do Sol resultado da poeira dos céus. Mas primeiro esperem que a Lua encolha de novo.


28.8.04


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: BONS CONSELHOS

"A propósito de Esposa e Mãe, escolho Conselhos a uma Noiva da Condessa de Vinhó e Almeida. (Começa por explicar que "estes despretenciosos Conselhos a uma Noiva" se destinavam a uma "sua sobrinha muito querida a ela confiada desde pequenina" a quem os deu como presente de casamento.) Mando-te este conselho que não tem nada a ver com casamentos, noivas, crianças ou coisa próxima:

"Para subir com dignidade na sociedade é preciso sobretudo saber esperar, e ás vezes recusar. Aceitar cargos e honrarias extemporaneas, ocupar lugares para os quais não estamos aptos, não é avançar, é recuar. Tudo se quer a seu tempo e ganho com manifestas provas de capacidade. O que perdeu Portugal foi todos os politicos se julgarem indignos d'outra posição que não fosse a de presidente de conselho."
Disse isto, a boa Senhora, em 1927. Perguntarás e bem: porquê dar tão bizarro conselho a uma noiva?"

(R.)


OUVINDO HOROWITZ EM MOSCOVO

Este é um dos discos em que, se não fosse gravado ao vivo, se perdia metade da força. O concerto, em 1986, foi um daqueles momentos de emoção única na história da música ao vivo e uma bofetada na tragédia cultural e histórica do comunismo soviético. Horowitz, que deixara a sua Ucrânia em 1925 para o exílio, aparecia agora anunciado num único cartaz que dizia “Recital de piano de Vladimir Horowitz (USA)” nas paredes do Conservatório de Moscovo. Bastou para se fazerem filas pela noite dentro. O Conservatório de Moscovo é uma casa muito especial e quem teve a sorte de assistir a concertos na sua sala nobre (eu tive-a várias vezes) sabe que o que se respira lá está na essência do que é a cultura ocidental: um público de amadores, no melhor sentido da palavra, um público intenso e entusiasta, de gente que sabe o que ouve e gosta da música. Ponto. É esse público que perturba neste disco, tanto quanto as interpretações sem paralelo de Horowitz. O pianista começa com Scarlatti e Mozart, e o público bate palmas. Mas a coisa começa a aquecer quando Horowitz se transcende em dificuldade e beleza com Scriabin, Liszt , Schumann, Moszkowski e Rachmaninov e, a cada momento, na exacta altura em que ainda soa no ar o último som do último acorde, a assistência rompe num imediato “bravo” , num italiano “bravo”, de pura emoção.


OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: AS VOLTAS QUE TENHO QUE DAR



nesta cratera, para não perder o pé. Mas chego lá.


COMO IDENTIFICAR A MÃO DA CENTRAL DE INFORMAÇÕES NAS NOTÍCIAS


Dürer

1- Exemplos de sugestio falsi (de férias que não são férias mas sim trabalho. Onde? Na piscina? Na praia?) :

"O primeiro-ministro está em Espanha, nas Ilhas Baleares, onde irá gozar três dias de férias, disse fonte do gabinete de Pedro Santana Lopes. Segundo a mesma fonte, o primeiro-ministro irá aproveitar a deslocação às Baleares para se encontrar com empresários espanhóis. Santana Lopes deverá ainda encontrar-se com o ex-comissário Europeu e ex-ministro dos Negócios Estrangeiros espanhol Abel Matutes, que também se encontra nas Baleares, adiantou a fonte. O primeiro-ministro deverá regressar a Portugal na quinta- feira." (Lusa)

2 - Sugestio falsi (de força onde há fraqueza) e omissio veri (sobre os motivos):

"Com a França e a Alemanha a prepararem-se para violar o défice pelo quarto ano consecutivo, o Governo aposta que 2005 será o ano da flexibilização das regras de disciplina orçamental dos países da zona euro.E com José Manuel Barroso a chefiar a Comissão Europeia prevê-se que seja dada maior atenção à dívida pública em detrimento do «estúpido» limite dos 3% do PIB para o défice, como o apelidou Romano Prodi, o seu antecessor em Bruxelas.
Este empenho súbito de Portugal na revisão do PEC vem ao encontro de uma reivindicação antiga da esquerda. Mas o objectivo não é fazer a vontade à oposição. A questão é que o próximo Orçamento de Estado (OE), decisivo para o ciclo eleitoral que se inicia, dificilmente conseguirá encaixar um défice abaixo dos 3% do PIB." (Expresso, hoje)

Os recados estão a vermelho.


O PROBLEMA É QUE É MESMO ASSIM

Como diz o Ruben de Carvalho em a “A verdade de nada” no Diário de Notícias.

Ou Rui Tavares em Um livro, um amigo no Barnabé, tornado mais ridículo pela legenda sobre a «a leitura em dia sentado num dos recantos mais apreciados por Salazar». Há coisas em que nada há de mais contraproducente do que a política do "parecê-lo".

Ou no Expresso (que não tem ligações em linha) que continua a revelar, através das suas “fontes” na "central", aquilo que está em curso desde a tomada de posse do governo: a preparação psicológica para o aumento do défice. Já se está na fase de passar da preparação psicológica (o aumento do défice é “inevitável” como a chuva) para a preparação política.


EARLY MORNING BLOGS 295

Fonte frida


Fonte frida, fonte frida
fonte frida y con amor,
do todas las avecicas
van tomar consolación,
sino es la tortolica,
que está viuda y con dolor.
Por ahí fuera a pasar
el traidor del ruiseñor;
las palabras que le dice
llenas son de traición:
«Si tú quisieses, señora,
yo sería tu servidor.»
«Vete de ahí, enemigo,
malo, falso, engañador,
que ni poso en ramo verde
ni en ramo que tenga flor,
que si el agua hallo clara
turbia la bebiera yo;
que no quiero haber marido
porque hijos no haya, no;
no quiero placer con ellos
ni menos consolación.
¡Déjame triste, enemigo,
malo, falso, mal traidor;
que no quiero ser tu amiga
ni casar contigo, no!»


(Romance anónimo)

*

Bom dia!


27.8.04


INTENDÊNCIA

Actualizadas, com comentários de leitores, as notas: PROVÉRBIOS DE GRANDE ACTUALIDADE SOBRE O PRINCÍPIO DE PETER e AR PURO


VALE A PENA ACOMPANHAR

o Casa em Construção . Para além do mérito deste “(quase) diário em Timor Leste(…)Histórias de uma viagem a Dili como médico voluntário da AMI”, a última nota que li é uma sensata observação sobre o barco das "Women on Waves", concluindo com esta evidência que salta aos olhos: “Em apenas duas semanas, o trabalho dos grupos pró-aborto mais moderados estará (se não destruido) seriamente dificultado.


OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: TÃO PERTO E TÃO LONGE (LAMENTO DA “OPPORTUNITY”)



Aqui estou eu, tão perto e tão longe. Queria ir ver aquelas duninhas (será que eu escrevi isto, duninhas? Existe?), e não me deixam. Dizem do JPL que não se anda em terreno que não se conhece, que falta rocha para eu por os pés, que as areias podem ser traiçoeiras, que há ir e voltar e aqui pode-se não voltar, que sou muito preciosa para ser perdida por curiosidade, só por interesse. Seja. Manda quem pode, obedece quem deve. Eu digo-lhes à noite, não me chame eu “oportunidade”, quando ninguém me vê e eles estão distraídos com o “Espírito”…


EARLY MORNING BLOGS 294

The Daffodils


I wandered lonely as a cloud
That floats on high o'er vales and hills,
When all at once I saw a crowd,
A host, of golden daffodils;
Beside the lake, beneath the trees,
Fluttering and dancing in the breeze.

Continuous as the stars that shine
And twinkle on the Milky Way,
They stretched in never-ending line
Along the margin of a bay:
Ten thousand saw I at a glance,
Tossing their heads in sprightly dance.

The waves beside them danced, but they
Out-did the sparkling waves in glee:
A Poet could not but be gay,
In such a jocund company:
I gazed--and gazed--but little thought
What wealth the show to me had brought:

For oft, when on my couch I lie
In vacant or in pensive mood,
They flash upon that inward eye
Which is the bliss of solitude;
And then my heart with pleasure fills,
And dances with the daffodils.


(William Wordsworth )

*

Bom dia!



26.8.04


BIBLIOFILIA

Numa gaveta esquecida, numa cómoda abandonada, numa casa familiar que já ninguém habita, havia um monte de lixo, de papéis velhos. Tinha-os metido num caixote para ver o que era, numa altura em que houvesse sol e vento. O pó era tanto que era difícil abrir o caixote dentro de uma casa. De lá, sai o tempo, como é costume. Os amadores de papel velho sabem muito bem como é. Restos, restos de vidas. Aqui estão três desses marcadores do tempo.









Um é um manual sobre o automóvel, de autoria de João Almeida e Vasconcelos, da velha Livraria Simões Lopes do Porto. Data de 1938 a segunda edição, e é dedicada ao médico que salvou a vida ao autor. No Prefácio, o autor queixa-se que nenhum dicionário acolheu até agora as palavras “garagem” e “derrapagem”…









O mais surpreendente foi o "livro" que tem o símbolo do trabalhador batendo o ferro, numa imagem muito próxima das vinhetas usadas pela Internacional Comunista. É o verso de um livro de recibos da fábrica de “cortumes” “Rio Porto” que existia nos anos trinta em S. Vicente de Pereira, Ovar.


Por último este manual brasileiro de Cármen Otero, Esposa e Mãe. Conselhos às jovens esposas e mães, publicado no Rio em 1948. Lá se dão estes sábios conselhos:

Deves também ensinar os teus filhos que, em presença de crianças menos favorecidas pela sorte, não devem comer gulodices sem lhes dar um pouquinho, mas, como as vezes são muitos e ninguém ficaria servido, é melhor evitar a cobiça dos não favorecidos, afastando-se por ocasião da refeição.
As crianças bem-educadas também não devem caçoar das roupas humildes e dos sapatos gastos dos seus coleguinhas mais pobres e, na hora de se fazer justiça, como na hora da brincadeira, todos, ricos e pobres, tem o mesmo direito.


Como é normal nestas gavetas, só livros úteis.


AR PURO

O meu ar puro de ontem foi uma pequena excursão de “naturalista amador” às lagoas de Arrimal e à depressão da Fórnea em Alvados (Porto de Mós), ambos os sítios no Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros. Das lagoas, a mais pequena, estava cheia de lixo, garrafas, sacos de plástico, detritos produzidos por detritos, a “grande” mantinha uma calma digna, entre um pelourinho antigo e uma bizarra e gigantesca flor-de-lis em pedra deixada pelos escuteiros. A depressão é mesmo uma depressão, banhada pelo sol quente, com os restos de árvores ardidas e o leito seco de uma levada. A “livraria” de pedra estratificada entusiasma qualquer bibliófilo, que a saiba ler.

O saque do “naturalista amador” foi escasso. Hortelã selvagem para secar, um pequeno ramo de flores imediatamente mumificado, dois fósseis e um cristal de quartzo. O cristal é humilde, imperfeito, partido, atravessado por uma inflorescência castanha avermelhada (hematite?). Dos fósseis, um é interessante cheio de uma espécie de vermes tubulares (crinóides?) em várias posições na rocha, incrustados uns, outros só se vê o círculo tubular. Um deles, o que primeiro me chamou a tenção, quando lavei a rocha, saiu intacto do seu leito de morte, pequeno tubo de pedra vindo de um mar antiquíssimo.
O ar estava puro, a não ser um indistinto pó vindo das pedreiras.

*

"O ambiente que se vive em muitos dos Parques Naturais é francamente de lamentar, quando comparamos com aquilo que esperamos encontrar em tais espaços e o que se vê por esses países fora. Em alguns paises os Parques Naturais estão sob uma tutela Nacional, devidamente sensibilizada para essa área que, com a participação muitas vezes de mecenas zelam pela conservação, melhoramento e limpeza dos parques naturais. E aí dá prazer visitar esses parques, onde tudo é considerado não só do ponto de vista do ambiente, mas também com facilidades para os seus frequentadores. Claro que, como em outras coisas, nós temos os Parques que merecemos porque não sabemos, ou merecê-los ou até utiizá-los, ou talvez falta de um plano geral de desenvolvimentos de tais espaços, e é pena.

Outro dia, por exemplo, visitei Caldas da Rainha, e logo à entrada, quem vem de Lisboa, encontra o seu Parque D. Carlos I, que em tempos já foi muito mais cuidado do que actualmente. Há placas assinalando vários espaços, e um deles é o do Parque das Merendas; o espaço está lá, mas o que falta são os equipamentos para as merendas, e é ver as pessoas sentadas pela relva, fora do tal espaço, com as suas merendas, quando uns bancos e mesas rústicas ou outro equipamento do género completaria o espaço., que seria acolhedor, deixando talvez saudade de voltar de novo.

Nós apontamos e reclamamos, mas tudo continua na mesma, tudo leva sempre muito tempo para que as coisas se endireitem. Bem podemos reclamar e exigir, mas somos sempre mandados para a bicha..."


(C Marcos)


FIFTY-SEVEN CHANNELS AND NOTHIN' ON

Razão tem o Bruce Springsteen quando canta

I bought a bourgeois house in the Hollywood hills
With a trunkload of hundred thousand dollar bills
Man came by to hook up my cable TV
We settled in for the night my baby and me
We switched 'round and 'round 'til half-past dawn
There was fifty-seven channels and nothin' on


porque nós também temos muitos jornais e nenhuma notícia. Corrijo: a única notícia veio da blogosfera ( do Portugal profundo, do Bloguitica) e é passada para os jornais sem qualquer indicação de fontes, como se fossem outros a descobri-la. Posso estar enganado e ser outra a circulação da notícia (dos factos da notícia), mas a verdade é que a li com 24 horas de antecedência em blogues e não vi indicada a sua origem no jornal. Hábitos.



William De Morgan, desenhos para azulejos


EARLY MORNING BLOGS 293

Rages de Césars


L'homme pâle, le long des pelouses fleuries,
Chemine, en habit noir, et le cigare aux dents :
L'Homme pâle repense aux fleurs des Tuileries
- Et parfois son oeil terne a des regards ardents...

Car l'Empereur est soûl de ses vingt ans d'orgie !
Il s'était dit : " Je vais souffler la liberté
Bien délicatement, ainsi qu'une bougie ! "
La liberté revit ! Il se sent éreinté !

Il est pris. - Oh ! quel nom sur ses lèvres muettes
Tressaille ? Quel regret implacable le mord ?
On ne le saura pas. L'Empereur a l'oeil mort.

Il repense peut-être au Compère en lunettes...
- Et regarde filer de son cigare en feu,
Comme aux soirs de Saint-Cloud, un fin nuage bleu.


(Rimbaud)

*

Bom dia!


25.8.04


PROVÉRBIOS DE GRANDE ACTUALIDADE SOBRE O PRINCÍPIO DE PETER

Na Sábado usei o provérbio brasileiro "quem nasceu para lagartixa nunca chega a jacaré" como título de uma coluna. Vim agora a saber que no Porto há um provérbio idêntico: "quem nasceu para cinco, nunca chega a dez".

*

"Ácerca das versões do provérbio "Quem naceu para lagartixa, nunca chega a jacaré", aqui lhe deixo outra que a minha mãe, agora com 78 anos, utilizava frequentemente "Quem nasceu para pataco, nunca chega a tostão".

(Edite Soares)

*

"Sobre os ditados semelhantes ao "quem nasceu para lagartixa nunca chega a jacaré", recordo-me de um que a minha avó, tripeira como nós, usava com frequência: “quem torto nasce, tarde ou nunca se endireita”. "

(Jorge Ricardo Pinto)




BIBLIOFILIA



Victor Davis Hanson, Why the West Has Won. Carnage and Culture From Salamis to Vietnam, Nova Iorque , Faber and Faber, 2001

Escrevi sobre este livro na última Sábado, e, na próxima semana, colocarei o texto em linha na VERITAS FILIA TEMPORIS, ou mesmo no Abrupto, se tiver a oportunidade de desenvolver a nota de leitura. Mas devo já dizer que é um livro muito bom, muito bem escrito, de autoria de um professor de "clássicas". A sua análise da "forma" de guerra ocidental, e das suas relações com a cultura, a sociedade e a política, associada a batalhas com conteúdo de choque "civilizacional", é polémica quanto baste, mas muito útil para o repensar de conceitos que tinham entrado em declínio como o de "civilização".


A LER COM ATENÇÃO

"Ser e Parecer" (I e II) no Bloguitica.


EARLY MORNING BLOGS 292

3 do Book of Nonsense

There was an Old Lady of Prague,
Whose language was horribly vague;
When they said, "Are these caps?"
She answered, "Perhaps!"
That oracular Lady of Prague.

There was an Old Man at a easement,
Who held up his hands in amazement;
When they said, "Sir, you'll fall!"
He replied, "Not at all!"
That incipient Old Man at a casement.

There was an old Person of Burton,
Whose answers were rather uncertain;
When they said, "How d'ye do?"
He replied, "Who are you?"
That distressing old person of Burton.


(Edward Lear)

*

There was a hidden man of Obladia
Each morning saying “Bom dia!”


24.8.04


AR PURO


Isaak Levitan


EARLY MORNING BLOGS 291

The Road and the End


I shall foot it
Down the roadway in the dusk,
Where shapes of hunger wander
And the fugitives of pain go by.
I shall foot it
In the silence of the morning,
See the night slur into dawn,
Hear the slow great winds arise
Where tall trees flank the way
And shoulder toward the sky.

The broken boulders by the road
Shall not commemorate my ruin.
Regret shall be the gravel under foot.
I shall watch for
Slim birds swift of wing
That go where wind and ranks of thunder
Drive the wild processionals of rain.

The dust of the traveled road
Shall touch my hands and face.


(Carl Sandburg)

*

Bom dia!


23.8.04


AR PURO


Ivan Shishkin


A LER ABSOLUTAMENTE

A entrevista de Jonathan Lunine sobre porque é que o planeta Titã é muito importante de estudar e conhecer.


EARLY MORNING BLOGS 290

As aldeias


Eu gosto das aldeias sossegadas,
com o seu aspecto calmo e pastoril,
erguidas nas colinas azuladas,
mais frescas que as manhãs finas de Abril.

Pelas tardes das eiras, como eu gosto
de sentir a sua vida activa e sã!
Vê-las na luz dolente do sol-posto,
e nas suaves tintas da manhã!...

As crianças do campo, ao amoroso
calor do dia, folgam seminuas,
e exala-se um sabor misterioso
de agreste solidão das suas ruas.

Alegram as paisagens as crianças
mais cheias de murmúrios do que um ninho:
e elevam-nos às coisas simples, mansas,
ao fundo, as brancas velas dum moinho.

Pelas noites de Estio, ouvem-se os ralos
zunirem nas suas notas sibilantes...
E mistura-se o uivar dos cães distantes
com o cântico metálico dos galos.


(Gomes Leal)

*

Bom dia, às aldeias! Nenhuma das quais é assim. Ou é? Para o praticante da aurea mediocritas ...


22.8.04



S. Gerasimov


EARLY MORNING BLOGS 289: "Pentiti, scellerato! / No, vecchio infatuato!"

Don Giovanni o l'empio punito - Atto Secondo - Scena Diciannovesima

Il Convitato di Pietra e detti

La Statua:
Don Giovanni, a cenar teco
M'invitasti e son venuto!


Don Giovanni:
Non l'avrei giammai creduto;
Ma farò quel che potrò.
Leporello, un altra cena
Fa che subito si porti!


Leporello (facendo capolino di sotto alla tavola):
Ah padron! Siam tutti morti.

Don Giovanni (tirandolo fuori):
Vanne dico!

La Statua (a Leporello che è in atto di parlare):
Ferma un po'!
Non si pasce di cibo mortale
chi si pasce di cibo celeste;
Altra cure più gravi di queste,
Altra brama quaggiù mi guidò!


Leporello:
(La terzana d'avere mi sembra
E le membra fermar più non so.)


Don Giovanni:
Parla dunque! Che chiedi! Che vuoi?

La Statua:
Parlo; ascolta! Più tempo non ho!

Don Giovanni:
Parla, parla, ascoltando ti sto.

La Statua:
Tu m'invitasti a cena,
Il tuo dover or sai.
Rispondimi: verrai
tu a cenar meco?


Leporello (da lontano, sempre tremando):
Oibò;
tempo non ha, scusate.


Don Giovanni:
A torto di viltate
Tacciato mai sarò.


La Statua:
Risolvi!

Don Giovanni:
Ho già risolto!

La Statua:
Verrai?

Leporello (a Don Giovanni):
Dite di no!

Don Giovanni:
Ho fermo il cuore in petto:
Non ho timor: verrò!


La Statua:
Dammi la mano in pegno!

Don Giovanni (porgendogli la mano):
Eccola! Ohimé!

La Statua:
Cos'hai?

Don Giovanni:
Che gelo è questo mai?

La Statua:
Pentiti, cangia vita
È l'ultimo momento!

Don Giovanni (vuol scoigliersi, ma invano):
No, no, ch'io non mi pento,
Vanne lontan da me!


La Statua:
Pentiti, scellerato!

Don Giovanni:
No, vecchio infatuato!

La Statua:
Pentiti!

Don Giovanni:
No!

La Statua:
Sì!

Don Giovanni:
No!

La Statua:
Ah! tempo più non v'è!
(Fuoco da diverse parti, il Commendatore sparisce, e s'apre
una voragine.)

Don Giovanni:
Da qual tremore insolito
Sento assalir gli spiriti!
Dond'escono quei vortici
Di foco pien d'orror?


Coro di diavoli (di sotterra, con voci cupe):
Tutto a tue colpe è poco!
Vieni, c'è un mal peggior!


Don Giovanni:
Chi l'anima mi lacera?
Chi m'agita le viscere?
Che strazio, ohimé, che smania!
Che inferno, che terror!


Leporello:
(Che ceffo disperato!
Che gesti da dannato!
Che gridi, che lamenti!
Come mi fa terror!)

(Cresce il fuoco, compariscono diverse furie, s'impossessano
di Don Giovanni e seco lui sprofondano.)

(Libreto de Lorenzo da Ponte, música de Wolfgang Amadeus Mozart)

*

Bom dia!


21.8.04


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: LOSPALOS

"Há tempos consultei o relatório sobre a missão a Timor do PE e verifiquei que aparece erradamente designada a capital do distrito(anteriormente ocupação conselho/circunscrição administrativa) de Lautem, ou seja a localidade de Lospalos, que surge na redacção do PE ( eventualmente por importação terminologica do departamento de assuntos políticos da UNTAET, que deve ter assessorado a visita), como Los Palos.
Não sei se a etimologia das designações toponímicas segue as linguas de origem- Los Angeles, é o hispânico de Os Anjos, La Guardia é a Guarda, Buenos Aires os Bons Ares. Mas parece-me que Lautem está muito para lá de qualquer lado de Tordesilhas. A língua local é o fataluko, da família melanésia e Lospalos, local pacífico e ermo, foi durante muito tempo, da administração colonial e na ocupação designado pelo mesmo termo. Quando as Nações Unidas chegaram( e antes ainda no período do referendo alguns jornalistas portugueses, ajudaram à propagação do erro) muitos funcionários internacionais, habituados à hispanização do mundo, colocaram os Palos, onde nunca os houve, como se pode confirmar na designação administrativa estabelecida na Constituição aprovada com a independência, onde são aliás confirmada outras designações tradicionais e do período de administração portuguesa( Cova Lima, para o distrito cuja capital é Suai e Oecusse-Ambeno para o enclave em Timor Ocidental).
"

(Jorge Lobo Mesquita)



Thomas Graham


20.8.04


OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: HOLLYWOOD AJUDA A APANHAR UM BOCADO DO SOL

Não é brincadeira. É mesmo: daqui a uns dias, helicópteros, pilotados por gente habituada a fazer as acrobacias e os efeitos especiais dos filmes de Hollywood, vão apanhar, a meio da queda, uma cápsula que contem um bocado de Sol transportado pela sonda Génesis. Os saberes mais imprevistos tendem a juntar-se sempre, um dia.

Há uma nova página no JPL para acompanhar a missão.


EARLY MORNING BLOGS 288

Photo of Home From Home


I used to leave this granite house
after everyone else was asleep,
and, walking down the hill, come to the
woods just behind you snapped
this photo, old friend, who think I can bear
to look at it.

The full moon loomed so close
I'd think I could reach out and gather it
into folds, until I noticed
one star fallen out of the side,
blinking to know where it was,
dead probably, by then, or now.

One night when I was seven
I stood in the dining room, staring
at the decanter on the drinks cart
shining like fool's gold, its liquor smelling
of honey and rosin, belly flat
as mother's breast
as she lay back to sleep beside me.

Later, I caught the moon,
through the dormer window nearest the spot
this photo was taken, a crescent
chunk of old ice.


(Richard Deutch)

*

Bom dia!


19.8.04


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: DIREITO DE EXPLICAÇÃO

"Leitor habitual de José Pacheco Pereira, por quem tenho enorme respeito intelectual, não posso deixar de esclarecer algumas informações feitas no Abrupto de 08-08-04, sobretudo quando refere que “os dois autarcas disseram-nos (...) que têm imensos espaços vazios que, pelos vistos, foram construídos sem objectivo definido, porque senão estavam cheios”.

Não é o caso da Câmara Municipal de Santarém. Efectivamente a Câmara Municipal de Santarém não tem espaços vazios, mas antes falta deles para poder instalar condignamente trabalhadores e serviços.

O Presidente da Câmara limitou-se a indicar ao Governo e à comunicação social instalações pertença de privados (CNEMA - cujos accionistas são, entre outros, o próprio Ministério da Agricultura e a Câmara Municipal), ou edifícios públicos (Governo Civil, Estação Zootécnica Nacional, CAE) que, disponibilidades de espaço e que em simultâneo têm dignidade para acolher organismos governamentais.

Compete ao Governo quando anuncia com pompa e alarde medidas de descentralização de serviços, averiguar previamente se as mesmas são exequíveis e em que prazo. Não foi o que o Governo fez.

Para mais esclarecimentos, queira consultar a Carta Aberta ao Primeiro-Ministro, publicada no Jornal “Público” de 15 de Agosto e também no Jornal Regional “O Ribatejo” de 19 do corrente.
"

(Rui Pedro de Sousa Barreiro, Presidente da CM Santarém)


POEIRA DE 19 DE AGOSTO: FACE IT KID

Hoje há cinquenta e dois anos, Sylvia Plath dava-se a si própria um empurrão para cima:

Face it kid, you've had a hell of a lot of good breaks. No Elizabeth Taylor, maybe. No child Hemingway, but god, you are growing up. In other words, you've come a long way from the ugly introvert you were only five years ago. Pats on the back in order? O.K., tan, tall, blondish, not half bad. And brains, `intuitiveness' in one direction at least. You get along with a great many different kinds of people. Under the same roof, close living, even.You have no real worries about snobbishness, pride, or a swelled head. You are willing to work. Hard, too. You have willpower and are getting to be practical about living - and also you are getting published. So you got a good right to write all you want. Four acceptances in three months - $500 Milk, $25, Sin Seventeen, $4.50 Christian Science Monitor (from caviar to peanuts, I like it all the way).

Não durou muito, porque tudo o que sobe tem que cair. Terá? Einstein, numa experiência do pensamento, mostrou que …



Andrew Wyeth


EARLY MORNING BLOGS 287

Chorus Sacerdotum from "Mustapha"

Oh, wearisome condition of humanity,
Born under one law, to another bound;
Vainly begot, and yet forbidden vanity,
Created sick, commanded to be sound.
What meaneth nature by these diverse laws?
Passion and reason self-division cause.
It is the mark or majesty of power
To make offences that it may forgive;
Nature herself doth her own self deflower,
To hate those errors she herself doth give.
For how should man think that he may not do,
If nature did not fail and punish too?
Tyrant to others, to herself unjust,
Only commands things difficult and hard,
Forbids us all things which it knows is lust,
Makes easy pains, unpossible reward.
If nature did not take delight in blood,
She would have made more easy ways to good.
We that are bound by vows and by promotion,
With pomp of holy sacrifice and rites,
To teach belief in good and still devotion,
To preach of heaven's wonders and delights:
Yet when each of us in his own heart looks
He finds the God there far unlike his books.


(Fulke Greville, Baron Brooke)

*

Bom dia!


18.8.04


INTENDÊNCIA

Actualizado O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: WHAT IF?.


OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: OLHANDO DE CIMA


Marte, "Espírito" olhando para a planície atravessada.


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: O POVO

"Um Sábado há uns meses atrás, no concurso "Um contra Todos" na RTP, tive oportunidade de assistir a um momento raro de televisão. Verdadeiro serviço público.

À concorrente, a "Um", trinta e poucos anos, não sei como se chamava, é feita a pergunta "Segundo a Constituição a quem pertence o poder político?" e dadas três hipóteses de resposta, "O Presidente da República, o Primeiro Ministro ou o Povo".

Os receios de quem lá em casa assistia ao programa confirmaram-se. A resposta tardou porque a concorrente hesitava entre o Sr. Presidente e o Sr. Primeiro Ministro. Em momento algum deu mostras de sequer lhe passar pela cabeça que o poder político, segundo a Constituíção, pertence ao Povo. Uma mulher com trinta e poucos anos, que viveu a quase totalidade da sua vida em Democracia.

A história vai ainda a meio. Os "Todos" com ela se defrontava responderam à mesma pergunta. Estariam ainda em jogo à volta de 30 concorrentes. Nenhum acertou. Nenhum."


(Mário Almeida)


*

"Também assisti ao programa da RTP, hoje citado pelo Mário Almeida, o concurso "Um contra todos".
Confirmo e acrescento, que me recordo da própria concorrente, nas suas hesitações entre o primeiro ministro e o presidente, ter dito peremptóriamente - ao Povo é que não é!
O que ainda deu um tom irónico à coisa... "


(Carlos Santos)

*

"Perante o cenário político que se nos apresenta em Portugal, não acho que a concorrente tenha propriamente falhado a resposta… Existe constituição em Portugal? Existe, mas parece que não é só o “povo” dos concursos que a desconhece… aliás, parece que quem mais a cita é quem menos a aplica…O que será pior? E o que é mais grave: falhar num concurso de TV ou num mandato político? Para bom entendedor…"

(Filipa Guimarães)

*

"Não sei o que é mais aflitivo (surpreendente, trágico?), se a suposta ignorância da concorrente - que como a maioria dos portugueses nunca leram a Constituição - se o abismo que separa as nossas leis da realidade, a começar pela lei fundamental. "

(Amora da Silva)


EARLY MORNING BLOGS 286

Os paraísos artificiais


Na minha terra, não há terra, há ruas;
mesmo as colinas são de prédios altos
com renda muito mais alta.

Na minha terra, não há árvores nem flores.
As flores, tão escassas, dos jardins mudam ao mês,
e a Câmara tem máquinas especialíssimas para desenraizar as árvores.

O cântico das aves — não há cânticos,
mas só canários de 3º andar e papagaios de 5º.
E a música do vento é frio nos pardieiros.

Na minha terra, porém, não há pardieiros,
que são todos na Pérsia ou na China,
ou em países inefáveis.

A minha terra não é inefável.
A vida na minha terra é que é inefável.
Inefável é o que não pode ser dito.


(Jorge de Sena)

*

Bom dia, na minha terra!


17.8.04


OBRIGADINHA - 2

Os advogados da defesa, os jornalistas a mando, os conspiradores, os cabalistas, as partes interessadas no processo, as partes desinteressadas no processo (mas interessadas na sua venda comunicacional), todos podem falar, que, numa democracia que funcione, não afectam a justiça. Podem cometer um crime falando, podem criar dificuldades à justiça, podem desenvolver “estratégias”, mas, se tudo o resto funcionar bem, não podem impedir a justiça. Só uma parte não o pode fazer, por razões que estão muito para lá da lei, e que tem a ver com o funcionamento da democracia e a ética social: a PGR, os magistrados, os juízes e os polícias, que detêm sobre o processo (e um processo são pessoas: vítimas, inocentes e culpados) poderes com origem nas prerrogativas do seu estatuto profissional. Podem prendê-los, podem interrogá-los, podem escutar-lhes o telefone, podem copiar-lhes o disco duro dos computadores, fazer-lhes buscas a casa. Não podem é falar. Nem demais, nem de menos, não podem falar. A sua “fala” própria é a condução do processo de modo a dar satisfação às vítimas e punição aos culpados.

A enorme perturbação que atravessa a sociedade portuguesa, a que se interessa por estas coisas e é dedicada à causa pública, os melhores de nós todos, que exactamente por isso se sentem mais ofendidos, é a constatação inequívoca, insisto, inequívoca, de que esta regra básica não foi cumprida, sem consequências de maior.

*

"Estamos tão só a assistir à materialização da crise da Justiça na sua verdadeira essência. Não é nada de novo pois já tivemos Camarate, já tivemos o microfone no gabinete de Cunha Rodrigues. Invariavelmente os protagonistas são os mesmos, apenas mudará um ou outro rosto.
Neste aspecto a mediatização até que acaba por ter um efeito positivo, na medida em que algo ainda vai soando junto da opinião pública. Um misto de mensagem e de ruído, que obriga a decifrar a realidade. Chegamos ao cúmulo de se aproveitar a violação de princípios legais e éticos, para que alguma verdade escondida se revele. Sem uma publicação das cassetes, parcial ou não, fidedigna ou não, não seria possível aceder a uma parcela da verdade. É claro que tudo de advém de gravações feitas sem consentimento, de declarações feitas ao arrepio de deveres éticos e deontológicos, de publicações abusivas e ilícitas.
A serpente do mal parece enroscada em si mesma, mordendo-se, envenenando-se, como se a sua presa não a saciasse mais.
"

(Carlos Bote)


OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: CRÓNICA DA BELEZA IMPURA


Parece uma fotografia que não vale nada, mas dentro daquele quadradinho está um novo parente da família solar: S/2004 S1. S/2004 S1 e S/2004 S2 são os dois novos satélites de Saturno descobertos pela Cassini. A fotografia está "impura", restos de raios cósmicos, "ruído" está lá tudo. E uma pequena pedra, com cerca de 3 quilómetros, no meio de forças gigantescas, passeando solta (presa) às voltas, batendo contra tudo. Oh guarda, che / bella gioventù.


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: WHAT IF?

"Acabei de ler aquele que é talvez o trabalho "definitivo" sobre a campanha Napoleónica na Rússia ("1812 . Napoleon's Fatal March on Moscow" de Adam Zamovski), que recomendo vivamente. Há uma curiosidade que vem do "Guerra e Paz" sobre o pré e pós-Borodino (pronuncia-se bárádinô), a que mesmo quem não seja um adepto de historiografia militar não consegue ficar alheio. A batalha crucial (foi preciso esperar pelo primeiro dia da ofensiva no Somme em 1916 para morrerem mais homens num só dia ) e a retirada em pleno Inverno fazem parte das referências psicológicas colectivas de muito boa gente dos povos envolvidos. Há no livro até referências à Legião Portuguesa e ao Marquês d'Alorna bem como à forma heróica como um batalhão comandado por um tal Castro actuou no trabalho de protecção da retaguarda da Grande Armée envolvida no trajecto trágico do regresso. Mas estou a deambular para fora daquilo ao que vinha. A saber: muito perto do final do livro fala-se da inúmera literatura que resultou daquela campanha. Das memórias, todas mais ou menos indulgentes para com os respectivos memorialistas, sabemos bem, mas houve também um pequeno livro (escrevo de memória, deixei o "1812" em casa) que imagina o que seria se Napoleão tivesse marchado para São Petersburgo e imposto a paz a Alexandre. Na prática redundaria num Império global com Paris como nova Roma. Mas o pormenor que achei uma delícia foi o destino dos Ingleses. Napoleão atravessa a Mancha, conquista Londres, proclama nos Comuns a dissolução do Reino, permite ao Monarca que se mude para Glasgow com o título de Rei da Escócia e da Irlanda, e a Inglaterra própriamente dita é dividida numa mão cheia de Départements e incorporada no território França! Como "wishful thinking" dum francês com a Pérfida Albion atravessada é difícil fazer melhor!"

(JTP)

*

"Lembro que no Reino Unido existe uma grande tradição para visitar campos de batalha desenvolvendo um tipo de turismo cultural, praticamente desconhecido entre nós. Repare, no que é proposto neste sítio (este é apenas um dos muitos que encontrei).

Repare que à Batalha do Porto, uma das mais surpreendentes e rápidas vitórias de Wellesley em Portugal é dedicada um dia! Quem em Portugal sabe o que se passou com pormenor e se dedica a divulgar essa interessante história? O uso de 2 ou 3 barcos rabelos para transportar tropas inglesas para o "Seminário" sem que as sentinelas francesas dessem conta, as baterias inglesas no Monte da Virgem "varrendo" as colunas francesas e a fuga precipitada de Soult abandonando a sua refeição no Palácio das Carrancas. Tudo "histórias" que nos dizem respeito e ignoradas!

Recordo também que a bibliografia anglo-saxónica sobre as Invasões Francesas é imensa, como se comprova introduzindo "Peninsular War" na Amazon. No campo da ficção destaco as novelas de "Sharpe" de Bernard Cornwell que começaram agora a ser traduzidas para Português. O último livro deste autor (Sharpe's Escape)cobre o período da Batalha do Buçaco, Saque de Coimbra e as Linhas de Torres Vedras."


(Jose Paulo Andrade)


EARLY MORNING BLOGS 285

Ballade des proverbes


Tant gratte chèvre que mal gît,
Tant va le pot à l'eau qu'il brise,
Tant chauffe-on le fer qu'il rougit,
Tant le maille-on qu'il se débrise,
Tant vaut l'homme comme on le prise,
Tant s'élogne-il qu'il n'en souvient,
Tant mauvais est qu'on le déprise,
Tant crie-l'on Noël qu'il vient.

Tant parle-on qu'on se contredit,
Tant vaut bon bruit que grâce acquise,
Tant promet-on qu'on s'en dédit,
Tant prie-on que chose est acquise,
Tant plus est chère et plus est quise,
Tant la quiert-on qu'on y parvient,
Tant plus commune et moins requise,
Tant crie-l'on Noël qu'il vient.

Tant aime-on chien qu'on le nourrit,
Tant court chanson qu'elle est apprise,
Tant garde-on fruit qu'il se pourrit,
Tant bat-on place qu'elle est prise,
Tant tarde-on que faut l'entreprise,
Tant se hâte-on que mal advient,
Tant embrasse-on que chet la prise,
Tant crie-l'on Noël qu'il vient.

Tant raille-on que plus on n'en rit,
Tant dépent-on qu'on n'a chemise,
Tant est-on franc que tout y frit,
Tant vaut "Tiens !" que chose promise,
Tant aime-on Dieu qu'on fuit l'Eglise,
Tant donne-on qu'emprunter convient,
Tant tourne vent qu'il chet en bise,
Tant crie-l'on Noël qu'il vient.

Prince, tant vit fol qu'il s'avise,
Tant va-il qu'après il revient,
Tant le mate-on qu'il se ravise,
Tant crie-l'on Noël qu'il vient.


(François Villon)

*

Bom dia!


Home
Site Meter